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1096 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 168

A nossa importação de ferro nos seis anos que se seguiram à guerra (1946-1951) atingiu quase 1 milhão de toneladas. Em vista da escassez de produtos ferrosos s no propósito de dar condições de vantagem à indústria metalomecânica respectiva, os países exportadores têm mantido no mercado interno o preço do ferro em bruto à roda de 2|40 por quilograma e fazem para u exportação preços da ordem de 3$50 (C. I. F. Lisboa), o que dá cerca de 4$50 no armazenista.
Esta situação tem-se mantido desde 1946, com excepção da primeira metade de 1950, em que se obteve ferro C. I. F. Lisboa a perto de 2$, o que quer dizer que os consumidores portugueses de ferro têm pago este material a um preço que podemos computar, em média, 1$30 por quilograma superior ao que pagam os consumidores dos países de origem.
É fácil de fazer a conta de que o que temos pago de sobrepreço ao estrangeiro, mesmo que nos reportemos apenas à nossa produção possível, suposta limitada a 100 0001, daria à vontade para a montagem da nossa siderurgia. O que poderá suceder é que, se essa siderurgia vier amanhã a vender os seus produtos 10 ou 20 por cento mais caros do que os estrangeiros, nessa altura oferecidos a preços de dumping, levantem protestos os que hoje pagam em silêncio 50 por cento.
O estabelecimento da siderurgia é um problema em que intervêm muitas variáveis: matérias-primas, tipos de fornos e localização. A Câmara Corporativa, sem pretender dizer a última palavra, apresenta um ponto de vista, que julga não destituído de certa lógica.
Para orientar as ideias comecemos por fixar o que oferece menos dúvidas; o primeiro dos aspectos seguros é que a nossa siderurgia deve começar por 100 000t de gusa, prevendo atingir, ao fim de poucos anos, as 150 000, mesmo tendo em conta que certos perfis nos são inacessíveis. É para produções compreendidas entre estes dois limites que vamos fazer algumas reflexões.
Já uma vez se escreveu, e a afirmação continua a ser justa, que será o mais inepto dos portugueses aquele que autorizar a montagem de pequenas instalações com o objecto de satisfazer programas parciais de laminagem. A instalação de laminadores é cara; o nosso consumi» é pequeno e é grande a variedade de perfis; não podemos aceitar mais de uma laminagem de ferro para darmos aos laminadores uma utilização aceitável e conseguir um preço de produção tão reduzido quanto possível. Por outro lado, os estudos já feitos, tendo em conta a localização das minas de ferro e de carvão e das principais fontes de energia eléctrica, levam a outra conclusão que também não oferece dúvidas: a localização óptima da indústria é nas vizinhanças do Porto.
Acresce que, no respeitante à fabricação do aço, são também unânimes as opiniões sobre a vantagem das grandes unidades, afirmando-se no relatório do Plano Monnet, para o efeito de estudar a concentração da indústria, siderúrgica francesa, que a capacidade óptima de lima acearia é da ordem de 1 milhão de toneladas por ano. Fica. portanto, assente que haverá uma única acearia e uma única laminagem, instaladas nas vizinhanças do Porto. Aí se reunirão as gusas, as lupas e as sucatas.
Dentro do mesmo princípio, a nova laminagem deve compreender a actual fábrica de folha-de-flandres; esta foi criada com o propósito de vir a ser o ponto de partida da futura siderurgia, e daí o nome que se lhe deu: Companhia Portuguesa de Siderurgia. Só não se sabe se o local onde a instalaram permite facilmente este programa, sem prejuízo de algum dinheiro já gasto.
Até aqui o que se tem como certo; entremos agora no duvidoso: a fabricação da gusa.
Dentro da dúvida há ainda um ponto de relativa solidez: as minas de antracite da bacia duriense não suportam o consumo exigido pela siderurgia numa solução totalmente a carvão, pois que para 150 000t de gusa seriam cerca de 150 000t de antracite - número a subir com o tempo.
As reservas conhecidas na bacia durieuse são de 28 milhões de toneladas; a capacidade actual de extracção com o equipamento existente é da ordem de 600 000 t, o que limita a vida das minas a quarenta e seis anos; parece, portanto, não. convir aumentar este equipamento, tanto mais que com esta extracção a vida normal das empresas fica assegurada. Admitindo que se faz a lavagem de 200 000t de carvão para lhe reduzir o teor de cinzas, a produção comercial, isto é, o carvão vendável, reduz-se a cerca de 480 000 t, das quais o mercado actual consome cerca de 300 000. As restantes 180 000 t, que constituem o limite das disponibilidades, têm de ser repartidas entre a queima numa central térmica e o emprego na siderurgia. Veremos adiante uma repartição possível.
Entre as matérias-primas de que dispomos contam-se cerca de 100 000 t de cinzas de pirite (subproduto da fabricação do ácido sulfúrico), das quais 90 000 se produzirão 110 Sul (Barreiro, Setúbal e Póvoa de Santa Iria) e as restantes 10 000 em Estarreja. É produto rico, com 60 por cento de ferro.
Se os fornos de cimento existentes no Sul, adaptados à produção de gusa Basset, trabalharem a bom preço, nada impede que se tratem aqui umas 50 000l de cinzas de pirite da região, o que dará cerca de 30 0001 de gusa por ano com o trabalho de dois fornos. Esta gusa poderá ser em parte vendida como ferro de fundição, depois de devidamente corrigida, e o resto transportado para a acearia do Porto. Com a separação das duas instalações (fabricação da gusa e do aço) perde-se o calor da gusa, que tem de ser refundida, mas ganha-se a economia, no transporte, porque o peso se reduz a quase metade; e reduz-se também o transporte da gusa que ficar no Sul.
As empresas cimenteiras parecem interessadas por esta solução, que lhes aumenta a utilização dos fornos com pequeno consumo de combustível (cerca de 200 kg de pó de antracite e 400 kg de fuel-oil por tonelada de gusa, deduzido o consumo correspondente ao cimento e à energia (recuperada, no calor dos gases), apenas com o inconveniente do parte do combustível ser estrangeiro.
Se lhes for possível - e tem-se afirmado que sim - assegurar a produção simultânea de boa gusa e bom cimento, oferecendo aquela a preço não superior ao que é corrente nos outros países, não se vê inconveniente em aceitar a solução.
Os fornos Basset estão tendo certa expansão pela Europa; recorda-se, porém, que há dez anos o forno Basset que trabalhou em Alhandro marchou com irregularidade e produziu a preço que foi aceitável por ser tempo de guerra, mas que seria neste momento impossível de manter; a técnica está hoje certamente melhorada.
Ficam pois a faltar 70 a 120 000 t de gusa a produzir no Norte. Duas soluções se podem encarar.
A primeira consiste em montar junto da acearia uma instalação electrossiderúrgica utilizando o baixo forno eléctrico e constituindo o leito de fusão com as cinzas de pirite de Estarreja e sobrantes do Sul, magnetite de Vila Cova e hematite de Moncorvo; haverá por certo que lhe juntar algum minério manganesífero do Alentejo e talvez minério da Orada para correcção do teor de sílica. Isto implicaria o consumo de 30 a 50 000 t por ano de antracites durienses e de 180 a 300 milhões de kilowatts-hora.