21 DE NOVEMBRO DE 1902 1097
O conhecimento dos recursos dos nossos jazigos de ferro este suficientemente avançado para podermos lançar este programa sem surpresas; mas entende-se dever acrescentar que sobre as reservas de Vila Cova correm ainda hoje opiniões fortemente discordantes.
A segunda solução seria a de reduzir a potência da electrossiderurgia e montar-lhe ao lado um forno Krupp-Reun. especialmente destinado a tratar os minérios do Moncorvo mais pobres, visto ser instalação particularmente apta para receber minérios siliciosos; isto permitiria reduzir a carga deste minério no forno eléctrico, pelo menos da parcela mais pobre, o que reduziria o consumo de energia eléctrica. Embora ha já um tipo deste forno para 200 t de minério em 24 horas (cerca de 30 000 t de lupas de ferro por ano), o certo é que os preços de custo que se obtêm descem sensivelmente quando aumenta o tamanho da instalação, pelo que o tipo imediatamente superior, de capacidade, dupla do primeiro, parece aconselhável. Ficaria para o forno eléctrico a produção do remanescente, isto é, 10 000 a 60 000 t de gusa, com o consumo de 25 a 150 milhões do kilowatts-hora por ano.
Comparadas estas duas soluções, parece que a segunda se avantaja em interesse, porque à primeira exige um consumo de energia eléctrica que não se lhe pode garantir antes de 1959, data em que, de certeza, se pode ter uma central no Douro a dar-nos folga nu produção de energia. Isto nos (traria uni atraso no arranque da siderurgia, que, se estiver livre desse obstáculo, podem o? ter u trabalhar em pleno dentro de quatro anos. Acresce que o forno eléctrico exige certo cuidado na granulometria do carvão, não tolerando pó ou miúdos, o que aumenta o desperdício, só aproveitável para queimar.
Analisando a segunda solução, verifica-se que para a produção de 60 000 t de lupas de ferro se devem consumir 50 a 60 000 t de antracite, o que é mais do que o exigido pelo forno eléctrico para a mesma produção (cerca de 25 000 t de antracite); este inconveniente é porém contrabalançado pelo facto de se poder empregar qualquer tipo de carvão (pó, lamas, etc.), o que ajuda a resolver o problema das minas, sempre embaraçadas com a colocação destes resíduos, que uma central de apoio térmico não pode tomar o compromisso de consumir totalmente. Esta solução do forno Krupp-Renn admite uma variante: montá-lo em Moncorvo. Teria assim a vantagem de constituir um interessante elemento de colonização interna no Alto Douro, que seria subtraído ao arrabalde do Porto; o seu afastamento da acearia não traz diminuição de rendimento, porque o forno Krupp-Renn não dá carga líquida cujo calor se utilize nem os seus gases têm valor industrial. Pelo que se refere aos transportes, a situação melhora, porque, sendo igual o peso a transportai, se oferece agora um tráfego compensado, que levaria carvão para cima e ferro para baixo em quantidades sensivelmente iguais, em vez do transporte de minério para o Porto com mais do dobro do peso de ferro. A montagem em Moncorvo embaratece pois o transporte; as castinas pesam pouco.
Não se faz referência ao forno Humboldt, por se supor que ele não tem virtudes especiais para o nosso caso e por não ser uma solução industrial suficientemente provada. Só poderá ter interesse em fase futura. A disponibilidade de carvões durienses adapta-se perfeitamente ao programa que fica esboçado. A produção de 30 000 t de gusa Basset exige (além do correspondente à produção de cimento) cerca de 18 000 t de antracite. de que resultam, além do ferro, 15 milhões de kilowatts-hora no calor dos gases; o forno eléctrico, a produzir 60 000 t, consome 24 000 t de antracite; o forno Krupp-Renn consumirá 60000 t; ficam 80000 t para queimar, que darão 60 milhões de kilowatts-hora.
O plano de consumo de carvão da bacia Juriense não parece, pois, difícil de fazer para os próximos seis ou oito anos.
A instalação da laminagem e da acearia não levanta problemas, embora para esta última haja que escolher os processos para a afinação e para obter o ferro de fundição. Basta que técnicos idóneos executem um projecto e que uma administração o mande executar.
Pelo que se refere à fabricação de gusa, as instalações Basset e Krupp-Renn podem arrancar sem demora, simultaneamente com uma pequena produção de gusa eléctrica; até ao consumo do 30 a 50 milhões de kilowatts-hora não há dificuldade, porque este valor cabe na margem de aumento da produção de energia prevista para os próximos anos, se o programa de construção de centrais se mantiver no ritmo proposto.
O que fica dito é o resumo de certas ideias gerais donde não poderá afastar-se muito a solução inicial da siderurgia portuguesa. É certo que muitas questões de pormenor há ainda que analisar detidamente; mas nem a sua enunciação teria aqui cabimento nem esta Câmara se julga habilitada a fazê-lo com segurança. Se se começar já, com certo propósito de decisão, talvez em quatro anos se possa ver algum fruto; a electrossiderurgia em grande escala viria depois, quando houvesse energia suficiente, e ficaríamos habilitados, no futuro, a satisfazer o alimento das necessidades de gusa de acordo com os recursos disponíveis em cada época e o escalonamento dos preços de custo.
Julga a Câmara Corporativa que já se perdeu tempo demasiado a meditar na siderurgia e que já se. estudou o que havia a estudar no campo das comissões oficiais. O que interessa é organizar uma empresa com certa posição do Estado, dar-lhe meios e uni programa não muito apertado - e deixá-la trabalhar.
VI) Refinação de petróleos
Nenhuma objecção se levanta quanto à ampliação e modernização da refinaria de. Cabo Ruivo. A secção de Electricidade e combustíveis emitiu um parecer subsidiário, favorável à obra proposta, ao qual nada se oferece acrescentar (V. anexo III).
VII) Adubos azotados
Ninguém responsável, que se saiba, discorda do estabelecimento da indústria dos azotados no nosso país e do seu alargamento até à satisfação das necessidades nacionais. Mas alguns discordam da maneira como se estabeleceu, o que é normal e sucederá a todas as indústrias novas, e muitos se interessam pela forma como se alargará, o que só é desejável.
A secção de Electricidade e combustíveis emitiu parecer subsidiário (V. anexo III).
A circunstância, de não haver à data outros recursos conhecidos para produzir hidrogénio e a fácil adaptação de tal fabrico ao uso da energia temporária das nossas quedas de água, então quase totalmente perdida, com excepção de uns magros 20 milhões de kilowatts-hora utilizados na fabricação do carboneto de cálcio, levaram a escolher a via electrolítica como 1.ª fase da indústria.
Concluída essa fase e chegados a um ponto em que as disponibilidades de energia não aconselham por agora o alargamento deste consumo (ressalvadas duas pequenas ampliações em curso), coincidindo com este facto o aparecimento providencial de novos recursos, que conduzem à fabricação de hidrogénio por via química (lignites de Rio Maior e gases de cracking da refinaria de Cabo Ruivo), afigura-se intuitivo que é para o aproveitamento destas fontes que se deve orientar o programa dos anos próximos, com exclusão de quais-