1098 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 168
quer matérias-primas cie origem estrangeira não susceptíveis de conduzir a melhoria de preço. Estas matérias-primas (coque ou fuel-oil) têm outras aplicações úteis; as lignites e os gases talvez as não tenham com igual utilidade; e é na coordenação destes recursos e seus usos que reside a principal virtude das economias planificadas. Se se perde de vista este aspecto, perde o seu conteúdo a planificação.
A produção química de hidrogénio nus duas fábricas existentes (Estarreja e Alferrarede) equivaleria à dispersão em dúas pequenas unidades, sem possibilidade de aproveitar os gases e com difícil aproveitamento das lignites; daí a sugestão, que esta Câmara defende, de aproveitar a relativa proximidade das duas fontes para instalar em posição intermédia uma só unidade de maior rapacidade, para tratar simultaneamente lignites e gases, e servindo aquelas de equilíbrio a estes.
Como a Sociedade dos Adubos de Portugal, constituída pelo Estado para o estudo da aplicação da lignite de Rio Maior, compreende, além deste, a União Fabril e brevemente o Amoníaco Português, proprietárias das duas fábricas de Estarreja e Alferrarede, tem sua defesa que a produção de amoníaco a partir de hidrogénio químico, em vez de estar dispersa pelas duas unidades, se concentre numa, só fábrica pertencente às mesmas empresas. A essa fábrica caberia ainda, logo que se mostrasse aconselhável, a fabricação de nitratos.
O relatório do plano não é claro na forma, como se exprime em relação ao aumento projectado; parece inferir-se que nele se encara a montagem dispersa; mas, pelo que fica dito, e sob reserva de dificuldades técnicas que se não enxergam, a Câmara. Corporativa julga dever ser a montagem unitária o caminho, para que deve orientar-se u indústria dos azotados nestes próximos anos. embora deixando previsto, para melhoria de utilização, o alargamento das duas instalações de electrólise, quando houver energia bastante - o que se espera suceda mima meia dúzia de anos se o programa de construção de centrais prosseguir como se prevê.
VIII) Folha-de-flandres
A indústria da folha-de-flaudres tem sido, de todas o- que- se incluíram no quadro das indústrias-base inserto no relatório da proposta de lei de reorganização e fomento industrial cie 1944, a que tem tido vida mais inclemente.
Criada por aclamação em 1942 no Instituto Português de Conservas cie Peixe, em assembleia de industriais conserveiros, quando a folha escasseava; proposta a sua dissolução pouco depois, de acabar a guerra, quando as dificuldades findaram; tendo passado anos de vida triste; tendo conhecido o sabor amargo das promessas que se não cumprem e dos contratos que se não respeitam - a indústria da folha-de-flaudres tem vivido à beira da liquidação.
Como se lhe não bastassem as infelicidades internas, a indústria da folha de lata, tem sido, de entre todas as suas irmãs, a que mais tem sentido em volta de si a descrença no seu futuro.
Mas parece não haver motivo para esta atitude. Já em 1941, quando se elaboraram as bases do estabelecimento tia indústria, se teve como elementar precaução o inquirir cias condições de vida de um estabelecimento fabril para produzir até 25 000 t de folha-de-flandres e, porventura, mais 5 000 t de chapa preta fina. Recentemente, como refere o relatório do Plano, solicitou-se de uma entidade americana uma informação pormenorizada sobre o equipamento da fábrica e as possibilidades económicas da sua laboração; e nesse documento, apesar dos reparos que se fazem ao equipamento europeu adquirido pondo-o em confronto com material americano equivalente, confirma-se que nada se opõe à exploração da indústria em condições de permitir preço de custo normal.
O que poderá causar alguma apreensão é que o esquema actual da indústria compreende apenas a laminagem a frio e a estanhagem partindo de bobinas de chapa laminada a quente de origem estrangeira, ao passo que o programa inicial previa uma unidade mais completa partindo da sucata como matéria-prima.
Os prazos longos que às vezes se encontram aia compra de ferro e os preços muito instáveis que vêm sendo praticados depois da guerra não dão completa tranquilidade quanto ao abastecimento de matéria-prima; mas não vale a pena exagerar uma situação transitória, visto que o estabelecimento da siderurgia portuguesa, embora não possa encarar de início o fabrico de chapa, resolverá oportunamente o problema.
A Câmara Corporativa é de parecer que a conclusão desta unidade, em termos de valorizar rapidamente, pela entrada em exploração, as despesas já feitas, merece inteiro aplauso, aconselhando-se, na medida do possível, a integração desta fábrica no programa da siderurgia, conforme foi dito no capítulo relativo a esta indústria.
IX) Celulose e papel
A inclusão no Plano da 2.ª fase da fábrica de celulose de Cacia, para a qual se prevê o dispêndio de 65:000 contos, apresenta-se tão lógica que não precisa de defesa.
Esta fábrica, quase concluída na sua 1.ª fase, que abrange as produções de pasta, química, papel Kraft e papéis finos, deve entrar em exploração no meado do ano próximo e representa uma imobilização de 280:000 contos, dos quais já se despenderam 90 por cento.
O relatório do Plano contém os elementos estatísticos que permitem avaliar a importância do empreendimento.
Nota-se apenas haver um pouco de exagero nu apreciação de que esta, unidade industrial satisfará «na sua quase totalidade» as exigências de matérias-primas da indústria do papel; são variados os tipos de pasta normalmente usados, e a fábrica não está equipada para os fazer todos. Não se andará longe cia verdade afirmando que a fábrica de Cacia deve poder, de início, satisfazer um pouco mais de metade do consumo nacional de pasta de papel.
Quanto às condições de vida da indústria não se levantam apreensões. Só se deseja lembrar quando foi pena que esta unidade industrial, licenciada em 1942, só nos últimos quatro anos tivesse conseguido recursos financeiros para iniciar as obras; daí resultou não lhe ter sido possível aproveitar a oportunidade esplêndida de exportação que se ofereceu em 1951, quando se desencadeou em todo o Mundo a falta de celulose, que fez subir os preços para mais do dobro dos valore* normais. Também lhe não foi possível chegar a tempo de manter a estabilidade no mercado interno; registe-se que o nosso preço médio de importação de pasta de papel foi nesse ano de 8.333$ por tonelada, quando havia sido no ano anterior de 3.405$.
X) Comunicações e transportes
1) Portos
Atinge 915:000 contos a verba consignada no Plano para obras nos portos do continente e ilhas adjacentes; três quartos desta importância cabem a Lisboa e Leixões, os dois grandes portos do continente.
As obras previstas são na generalidade, a continuação do plano portuário de 1944, que, no entanto, não fica ainda concluído; para o porto de Lisboa são o segui-