1118 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 168
mós a servir, porque o transporte mais curto é mais seguro e mais barato, sabido que sob esse aspecto a posição óptima da fonte é o centro de gravidade dos consumos. Mas não são estes os parâmetros à volta dos quais normalmente se discute; a inclinação das pessoas decide-se quase sempre exclusivamente pelo preço de custo do kilowatt-hora nas barras da central, o que torna a maioria das discussões menos útil do que aparenta ser.
Antes de mais nada observe-se que, se dado local ou dado rio não reúne condições favoráveis ao seu aproveitamento hidroeléctrico, e se, portanto, a estimativa do custo das obras se afigura elevada para a quantidade de energia produtível, não há problema, porque a unanimidade de opiniões é manifesta; o assunto é abandonado sem mais discussão. O que está em causa é a legitimidade da comparação de centrais com preços de produção dentro de limites razoáveis, diferindo em geral entre si um número dígito e muito pequeno de centavos por kilowatt-hora. Para concretizar ideias, digamos que no nível actual dos nossos preços esses limites razoáveis são $18 e $22, isto é, $20 + 10 por cento por kilowatt-hora. Fora deles encontramos algumas centrais com preços superiores e o Douro internacional sensivelmente abaixo.
Aceitemos como primeira hipótese não coincidente com a realidade que os preços do kilowatt-hora podem ser calculados com precisão. Se nenhum dos factores apontados acima justificar o contrário, a prioridade estabelecida pelo preço de produção é legítima, mas não é tão essencial como se presume. Por um lado, como o preço da produção pesa pouco nas tarifas de distribuição, uns 10 por cento a mais ou a menos naquele preço, incidindo na parcela de energia gerada na nova fonte, nem afectam as tarifas de venda nem o equilíbrio dá exploração; por outro lado, se a central mais económica se não fez agora, far-se-á dentro de poucos anos, e a diferença dos preços de custo, se teve influência, teve-a apenas nesse intervalo de tempo.
Se admitirmos uma segunda hipótese, que corresponde à generalidade dos casos correntes, em que os preços se baseiam na análise de anteprojectos, com estimativas de custo e avaliações de produção sem estudo aprofundado, se pensarmos no que há de precário em tais valores, tida em atenção a contingência destas obras, ainda quando estudadas em pormenor, concluir-se-á que pouco significado se pode atribuir às contas assim elaboradas e que o tal critério de prioridade é tão falível que mais prudente é não o enunciar.
Não se pode, garantir um preço com uma tolerância inferior a 10 por cento. Alguns exemplos recentes documentam o que fica dito.
Acresce que o problema do transporte, que se mencionou atrás, quase nunca se apresenta de maneira igual para duas centrais diferentes e esquece-se quase sempre que a diferença de preço de $01 ou $02 no custo do kilowatt-hora nas barras pode ser ultrapassada pela diferença dos encargos de transporte até às subestações transformadoras. E pode suceder até que aquele falso critério de prioridade conduza a que as centrais, catalogadas pela ordem suposta ideal, surjam salteadas nos pontos mais díspares do território, e isso obrigará a uma rede de transporte dispendiosa e mal utilizada.
Adverte-se que parece haver aqui - e há, na realidade - certo antagonismo com o que foi dito sobre os inconvenientes de concentrar num ponto toda a produção. Há, pois, que aceitar uma solução de compromisso que dê certa dispersão às centrais sem onerar demasiadamente as linhas; e daí o inferir-se a vantagem de atacar- simultaneamente diversos sistemas (produtores com capacidade e prazos de execução adequados, cujos preços de produção se estimem dentro dos limites indicados, mas procurando completar tais sistemas tanto quanto o justifiquem a melhoria da sua produção e o maior aproveitamento dos meios de transporte. Dentro deste espírito se fará o comentário do Plano.
c) A potência das centrais. - Na época heróica de 1930, em que a Estatística das Instalações Eléctricas começou a lançar o grito do bom combate, quando não excedia cinco o número de centrais neste país com mais de 5 000 kW e a potência média não chegava a 400 kW, era a crítica a esta pequenez e às suas desfavoráveis consequências uma das notas todos, os anos na brecha.
Lançada pelo Estado a construção das centrais do Castelo do Bode e de Vila Nova, com potências em escala europeia (respectivamente 130 000 e 80 000 kW), observa-se com desgosto, porque é nova fonte de confusão, que pessoas insuficientemente esclarecidas, ao lerem estes números e ao escutarem o eco daquelas passadas reflexões, avançam com decisão que já não interessa construir centrais de 10 ou 20 MW.
Há vários erros nesta opinião. Antes de mais nada, ela é uma generalização ilegítima do comentário que sistematicamente foi feito contra as centrais de algumas dezenas ou centenas de kilowatts, em que tudo é caro e em que só os salários do pessoal sobrecarregam cada kilowatt-hora com alguns centavos ou até dezenas de centavos; e diz-se ilegítima porque basta que se atinja uma meia dúzia de milhares de kilowatts para que o encargo de pessoal praticamente se anule, reduzindo-se a verbas irrelevantes, da ordem de um centavo ou inferiores. O outro erro de tal opinião reside em que uma central hidroeléctrica não se monta com a potência que se quer, mas com aquela que as condições naturais lhe permitem; e se nos fazemos exigentes, abandonando estas centrais, que são médias ou pequenas, mas não são mesquinhas, arriscamo-nos a deixar sem aproveitamento uma parcela apreciável dos recursos do País. Finalmente, um outro erro existe ainda naquela precipitada opinião; nada nos garante que o preço de construção por kilowatt seja maior numa central média do que numa central grande, porque pode até dar-se o contrário se as condições, do local o proporcionarem, e nada impedirá então que a central média forneça energia em condições de preço e regularidade equiparáveis às das maiores unidades.
Pergunta-se se este desdém pelo que é modesto de aparência, embora sólido de virtudes, não é o sensacionalismo do Kolossal, o mesmo que leva a sonhar com a construção de barragens e a desconhecer os problemas, menos vistosos, da distribuição. E comete-se a injustiça de dizer que essa humana fraqueza é pecha dos técnicos.
Se olharmos para os países do centro da Europa, notaremos depressa que nem só as centrais de imponente grandeza contribuem para a alimentação das redes. Se tomarmos concretamente o caso da França, cuja produção anual de energia anda na casa dos 38 000 milhões de kilowatts-hora (trinta vezes superior à nossa) e registarmos, para só referirmos instalações modernas, o número de centrais hidráulicas que a Electricité de France pôs em serviço nos quatro anos que se seguiram ao fim da última guerra (1946-1949), encontraremos os seguintes números:
MW
Centrais com mais de 20 MW - 13 centrais com a potência de....................... 820 (81 %)
Centrais até 20 MW - 21 centraiscom a potência de....................... 190 (19 %)
Total................................... 1010
Estas vinte e uma pequenas centrais - e registe-se que se chamam pequenas a unidades com a potência mé-