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21 DE NOVEMBRO DE 1952 1119

dia de 9 000 kW - não têm evidentemente grande peso no total da potência, instalada, nuas sempre atingem perto de 20 por cento, o que não é para desprezar; mas uma coisa é reconhecer que elas, só por si, são incapazes de resolver os problemas de um país, pela exiguidade da potência e pela dificuldade de assegurarem o estabilidade de marcha de uma rede, e outra, muito diferente, é afirmar que não têm interesse, ao ponto de deverem ser hostilizadas. Tudo está em se saber quanto custam.
Outro exemplo, parecido com este como irmãos gémeos, nos dá a Inglaterra, que, apesar de ter condições de excepcional favor para a produção de energia térmica e já ir com o consumo anual em 60 000 milhões de kilowatts-hora, tem procurado aproveitar a pouca energia hidroeléctrica de que dispõe, sobretudo no norte da Escócia. Segundo o último relatório oficial do North of Scotland Hydro-Electric Board, fundado em 1943, as centrais hidroeléctricas projectadas por este organismo que se encontravam em exploração, construção ou estudo no fim de 1950 somavam 913 800 kW, com a produção anual calculada em 2672 milhões de kilowatts-hora; de acordo com a sua potência, essas centrais dividem-se assim:

MW
Centrais com mais de 20 MW - 11 centrais com a potência de...... 612 (78 %)
Centrais até 20 MW - 22 centrais com a potência de............... 177 (22 %)
Total........................... 789
Centrais ainda não especificadas 125
Total geral..................... 914
As médias de potência de cada um dos grupos de centrais são, respectivamente, 56 e 8 MW; estes números, bem como as percentagens da repartição da potência total, são notavelmente semelhantes aos do caso francês.
Para relacionar melhor estes valores da potência com a capacidade de produzir energia, número que principalmente interessa neste parecer, registe-se que uma central de 8 MW pode gerar em média uns 20 milhões de kilowatts-hora; e como este valor é, por seu lado, a média das pequenas centrais, concluiremos que algumas se situarão abaixo dela.
Nunca devemos cair em soluções extremistas. Não tem defesa, nem no campo da técnica nem no da fidalguia de sentimentos, que, mal acabados de sair de um regime de pulverização inclassificável, avancemos palavras desdenhosas para as coisas que possuem a virtude modesta, da média, só porque não satisfazem os exageros de quem parece ter mudado de categoria rapidamente demais.
Só é de aconselhar que as empresas concessionárias dos grandes rios, sem prejuízo das obras fundamentais, vão estudando e equipando os possíveis aproveitamentos das ribeiras afluentes do seu perímetro hidráulico, desde que as condições de preço e qualidade da energia o justifiquem, porque só assim chegaremos a utilizar em pleno os recursos de cada bacia.
d) O rio Douro. - O rio Douro é a nossa maior fonte de energia hidroeléctrica; considerados em conjunto, os troços nacional e internacional devem poder dar-nos para cima de 3000 milhões de kilowatts-hora, consideradas as energias permanente e temporária.
Precisamente por ser muito grande, o Douro raras vezes tentou aqueles que cuidaram de estudar o abastecimento de energia às redes do País; era-se naturalmente atraído para soluções de menor vulto, mais baratas e de produção mais facilmente absorvida.
Sentir-se-á bem a justificação deste facto se se pensar que até 1946 o aumento médio de consumo anual do nosso país não excedeu 25 milhões de kilowatts-hora, valor que ia sendo satisfeito com a montagem de centrais de média potência (centrais da Serra da Estrela, de Nisa, do Ermal, de Santa Luzia, etc.) e com algumas ampliações de unidades já existentes.
Quando se atacou o problema de maior vulto de substituir por energia hídrica os consumos térmicos de Lisboa e Setúbal, não se pensou, nem seria razoável pensar-se, em ir buscar energia ao Douro, havendo-a no Zêzere a bom preço e em quantidade proporcionada, a 110 km da capital, por terrenos facilmente acessíveis. Para chegar ao Douro nacional seriam precisas linhas de 300 km e ao internacional de cerca de 400, através de regiões difíceis, contando com centrais de que não havia projecto. Seria um encargo e um risco sem contrapartida; ninguém responsável aceitaria esta solução, salvo se não houvesse outra.
O Douro continuava por aproveitar, porque lhe não tinha ainda chegado a ocasião de ser útil, visto que, excluído o caso de Lisboa, as suas centrais eram grandes para o consumo e a sua energia temporária dificilmente colocável por falta de compradores; mas para alguns de imaginação mais ardente o Douro era desprezado por quem não tinha alma para lhe apreciar a grandeza.
E começou a lenda. O gigante, desprezado, morria ingloriamente na restinga do Cabedelo sem lhe ser permitido mostrar suas forças e méritos; e na imaginação dos que o viam correr, às vezes galopando sem tino sobre a riba que o aperta, nasceu um Douro maravilhoso, superior ao Douro real.
A electricidade, que durante muitos anos poucos olharam a sério, passou, porém, a estar na moda; e alguns dos seus novos adeptos, embalados pela lenda, passaram a entoar em uníssono: queremos o Douro!
Aconselha-se por isso explicar neste intróito o que vale o Douro como fonte de energia.
Já se disse que em quantidade vale à roda de 3000 milhões - uns 60 por cento permanentes e 40 por cento temporários de oito meses. Registe-se, porém, que o Douro não é naturalmente virtuoso, devido à grande irregularidade dos seus caudais, que atingem em cheia 18 000 m3 por segundo (previsto em Carrapatelo), e descem na estiagem à casa dos 20; e como, por outro lado, não tem possibilidades de armazenamento, porque o seu vale é muito estreito nuns pontos e muito povoado noutros, a quantidade de energia permanente que dele se poderia tirar no estado selvagem seria muito pequena.
O valor do Douro começou com a regularização feita em Espanha no seu grande afluente da margem direita, o Esla (central de Kicobayo), que- assegura no Verão uns 100 m3 de caudal; o Douro nacional virá ainda a beneficiar das obras que os espanhóis fizerem no Tormes e das que nós fizermos nos afluentes portugueses.
Mas ainda com estas achegas o Douro nacional não corresponde à lenda. As quatro centrais que devem poder montar-se no seu curso a partir da foz do Huebra, onde acaba o troço internacional espanhol, devem ter em média uma produção unitária- de 400 milhões de kilowatts-hora; e, para se apreciar como cada uma delas é grande mas não lendária, basta recordar que no ano corrente a central do -Castelo do Bode deve produzir uns 350 milhões, ultrapassando os 400 quando o Cabril entrar em serviço.
Há, porém, que não esquecer que, enquanto esta energia do Castelo do Bode é quase toda permanente (digamos 90 por cento), a das centrais do Douro só é permanente em pouco mais de metade (digamos 60 por cento); e, como é corrente aceitar que a energia tem-