21 DE NOVEMBRO DE 1952 1127
Porto em 1948, foi esse uni fios temas de mais acalorada discussão.
Já nessa data dominava a ideia, apoiada em método aproximado de estimativa, de que as centrais térmicas existentes seriam capazes de assegurar o apoio estival aos consumos permanentes até 1956 ou 1957, desde que não afrouxasse o ritmo das construções hidroeléctricas, pelo que se tornaria necessário dispor de nova unidade térmica a partir de 1957 ou 1958.
Talvez como fruto do calor daquela discussão, deliberou a secção de produtores de electricidade da Associa cão Industrial Portuguesa abalançar-se ao estudo, longo e delicado, daquele apoio térmico em termos rigorosos. Transitou esse estudo para o Repartidor Nacional de Cargas, que o actualizou e acaba de lhe publicar os resultados.
São eles em resumo:
1.º Que é indispensável que além das centrais hidráulicas em construção (Cabril, Salamonde e Caniçada) haja nova fonte hidroeléctrica a entrar em serviço em 1956.
2.º Que é indispensável dispor em 1957 de uma nova central térmica com potência, da ordem de 40 000 kW.
Estas conclusões, que chegam no momento oportuno, mostram que o programa de centrais hidroeléctricas que se anunciou atrás (n.º 5) deve ser cumprido, não só para satisfazer em ano médio os consumos previstos, como se indicou, mas ainda para cobrir esses mesmos consumos em ano seco com a ajuda das térmicas existentes. É certo que, ainda que se cumpra o programa indicado, as indústrias electroquímicas serão fortemente afectadas, ou até totalmente cortadas, em ano muito seco; mas se o programa se não cumprir, as restrições estender-se-ão ainda aos consumos permanentes. E voltaremos ao panorama de 1949, que atrás afloramos.
Pelo que se refere à nova central térmica, pensamos que uma unidade prevista para a montagem inicial de um grupo de 40 000 kVA (cerca de 35 000 kW), com possibilidade de ampliação futura, resolverá o nosso problema por alguns anos.
Para que esta central possa estar apta a prestar serviço nos primeiros meses de 1957 disporemos exactamente de quatro anos na altura em que o Plano entrar em execução; como este período não é folgado para o volume de estudos, construções e montagens que haverá que fazer, tem-se como prudente não demorar a outorga da concessão.
Parece unanimemente aceite que a sua instalação se faça junto do Douro, (próximo da zona carbonífera, para utilizar os combustíveis pobres da região com o mínimo de transportes, mas julga-se oportuno chamar desde já a atenção para um pormenor que se esboça com tendência talvez inconveniente. Tem-se ventilado a ideia de entregar a concessão da nova central térmica a uma das empresas mineiras; é discutível, porém, se esse caminho é de aconselhar, em vista da natureza peculiar do serviço que se pretende.
Às minas interessa fundamentalmente colocar o carvão, o que se consegue igualmente qualquer que seja o concessionário; mas como a central, sendo de apoio estival, terá unia utilização muito má e muito irregular, (em alguns anos nào chegará mesmo a trabalhar), será difícil convencer o seu concessionário a aceitar essas onerosas condições de exploração, se ele próprio não for interessado nisso. E o caso da indústria eléctrica; qualquer entidade interessada na indústria de produzir, transportar ou distribuir energia, se for a concessionária, terá sempre vantagem em aproveitar ao máximo a energia hidráulica disponível e explorará a térmica
como necessidade, e não como negócio, só recorrendo a ela em caso de estiagem. Ë este, aliás o caminho mais próximo da doutrina da lei. Pelo contrário, um concessionário estranho (mineiro ou outro) fará tudo para conduzir a exploração no sentido do mínimo preço de custo, isto é, no sentido da exploração regular e contínua; a central transformar-se-á em fonte de serviço permanente, e haverá então que montar outra unidade térmica para o apoio estival, porque os dois serviços não são acumuláveis. Em vez de uma térmica passaremos a ter duas - e os correspondentes encargos de estabelecimento.
É ainda para notar que a instalação da central na bacia duriense tem por objectivo facilitar a saída de carvões pobres de todas as minas em exploração naquela área; não parece razoável conceder essa facilidade a uma única empresa mineira.
A justificar a solução proposta aponta-se ainda a vantagem de utilizar o alternador como compensador síncrono, quando tal convier à regulação da tensão na rede.
Quanto à utilização de carvões, entende-se ainda que a central não pode esquecer a necessidade de assegurar um ritmo tão regular quanto possível à saída dos carvões pobres sem outra aplicação, até ao limite de qualidade em que puderem ser queimados (pó, schlams, mistos de lavagem); isso a levará a ter em parque quantidades avultadas - o que aliás convém à sua função.
Não é possível fazer aqui a estimativa da quantidade a comprar na mediu dos anos; é preciso que esteja assente o esquema siderúrgico, o novo grande consumidor de carvões, para se poder avaliar o que fica de resíduos que o equilíbrio da exploração mineira aconselharia a queimar.
Uma vez fixado aquele esquema é indispensável proceder, com a possível brevidade, à planificação e coordenação da produção e consumo dos carvões nacionais, em conformidade com as eventuais aplicações previstas no Plano de Fomento.
Tendo em conta as necessidades mineiras, aponta-se em primeira aproximação como sendo de 150 000 t anuais de carvões pobres a quantidade a queimar anualmente na central, a fim de permitir suficiente produção de carvões de poder calorífico mais elevado, para dar às minas de antracite possibilidades de vida. Seriam, em números redondos, 120 milhões de kilowatts-hora.
Para uma central de 35 000 kW, 120 milhões de kilowalts-hora representam um diagrama de 3 400 horas da potência instalada, o que está dentro da utilização permanente normal, regime inconveniente, como acima se mostrou.
É certo que em ano seco a sua produção deverá andar à roda dos 200 milhões; mas tem-se a impressão de que será difícil atingir a média de 120 milhões. Nem será preciso; alguns processos siderúrgicos permitirão também consumir carvões pobres e miúdos.
Há em presença dois interesses apenas levemente divergentes; entre o equilíbrio das minas e o da electricidade se encontrará certamente um compromisso.
Ao falar-se de apoio térmico não se quer esquecer a possibilidade de recorrer a albufeiras de regularização interanual; mas, ainda que elas existam em boas condições de preço, nada há que deva alterar-se no que se disse quanto à necessidade da central térmica. Uma sólida base térmica é sempre indispensável porque é bem mais segura em período seco do que as albufeiras; a exploração de uma albufeira interanual envolve mesmo uma incerteza que não podemos correr inteiramente a descoberto.
Mas a verdade é que do único projecto, aliás recente, que se sabe estar organizado nesta base (Alvito) não se conhecem os pormenores nem o parecer das estações oficiais competentes; julga-se porém que haveria interesse