21 DE NOVEMBRO DE 1952 1135
que tem, por direito próprio, a sua posição ao lado do hidrogénio químico.
E só mais duas palavras. É evidente a vantagem de melhorar o preço de produção das duas fábricas de amoníaco, embora elas estejam vendendo ao preço a que nos vendiam as fábricas estrangeiras, o que já é de apreciar; tomáramos nós que isto acontecesse com todas, as indústrias. Mas porque a coisa se apresenta bem, é que nos deu para sermos exigentes e querermos ainda melhor.
São dois os caminhos que se oferecem para reduzir o preço dos azotados: aumentar a produção das fábricas, como atrás se disse, e aliviá-las, de certos encargos não razoáveis.
Quanto ao aumento de produção, falaremos no número seguinte; quanto aos encargos não razoáveis, oferece-se lembrar que o Amoníaco Português montou, parte importante do seu estabelecimento fabril com 122:460 contos, emprestados, pelo prazo de dez anos, parte pela Caixa Nacional de Crédito e parte pelo Fundo de Fomento Nacional. Não parece razoável que esta verba, que se pode considerar duplamente de 1.º estabelecimento - porque é imobilização em equipamento e porque é o equipamento inicial -, seja amortizada em dez anos; não seria favor, seria, mesmo mais curial, que o fosse em vinte ou vinte e cinco anos, que é prazo corrente de crédito industrial; e desta inadaptação de tal crédito ao fim a que se destina, resulta que para a produção de 27 000 t anuais de sulfato de amónio, máxima (prevista com o equipamento actual, o aumento de encargo destes empréstimos, em relação ao que resultaria de um crédito a vinte e cinco anos, é de 265$ por tonelada. Como a energia eléctrica, para produzir uma tonelada custa, também, ao preço actual, 420$, concluímos que só aquele excesso de amortização vale tanto como 63 por cento do custo da electricidade.
E é caso para reflectir se é no custo desta que se deve actuar e se é ela a responsável por um preço de adubo que se reputa alto.
O que se diz destes encargos de capital, o que se disse sobre a proporção dos preços da energia eléctrica segundo o tipo de fabricação e o que não vale a pena dizer, porque são miudezas descabidas aqui, levam a supor que a comparação de preços que vem sendo feita entre os dois tipos de hidrogénio precisa de base mais sólida do que aquela em que se tem apoiado: a comparação de valores partindo de premissas que não são uniformes.
É por isso que, mais uma vez e até prova em contrário, se continua a supor que o hidrogénio electrolítico merece ser considerado como solução normal, e não apenas tolerada, dentro do nosso programa de produção de azotados. Não se apresentam mais números para não alongar.
3) O programa de obras
Oferece sua delicadeza, o programa, de ampliação da indústria dos azotados. Aumentada com 5 000 kW a potência de electrólise de cada uma das fábricas, trabalho que se supõe em curso e que se reputa, como foi dito, o máximo que deverá fazer-se por esse lado na meia dúzia de anos mais próximos, há que definir como e onde se vai produzir o hidrogénio químico que dará o complemento da produção nacional.
Com esta ampliação da sua parte eléctrica, podem as duas fábricas produzir anualmente, como se disse, 80 000 t de sulfato de amónio, isto é, 20000 t de amoníaco nos anos chuvosos e uma quantidade menor nos anos secos, variável com a hidraulicidade.
A importação de azotados registada em 1951 corresponde, aproximadamente, a 38 0001 de amoníaco, pelo que se afigura, tendo em conta o aumento de consumo, que deveremos equipar-nos para o aumento mínimo de 20 a 25 000 t na produção de amoníaco, mesmo tendo em conta que, por motivos comerciais, talvez venha a ser útil manter certa importação de nitratos.
Ao que se sabe, propõem-se as duas fábricas existentes aumentar em cerca, de 7 500 t de amoníaco cada uma u sua capacidade, a partir da gasificação do coque ou do fuel-oil, visto que, dos combustíveis nacionais, as antracites não dão resultados satisfatórios e as lignites de Rio Maior são, ou prusumem-se, dificilmente transportáveis.
A adoptar-se esta solução, que parece ser a que o Plano prevê quando consigna 150:000 contos para a 2.ª fase do sulfato de amónio, eleva-se a cerca de 140 000 t a capacidade de produção deste adubo. Este programa, que tem a vantagem de melhorar a utilização de algumas das instalações existentes nas fábricas, oferece certos inconvenientes:
1.º Deixa sem utilização as lignites de Rio Maior e os gases da refinaria, utilizando em seu lugar artigos de importação;
2.º Fracciona a produção por via química, criando duas unidades de gasificação relativamente pequenas;
3.º Eleva a capacidade de produção de sulfato de amónio para um valor alto, talvez demasiado em vista da tendência para o emprego de nitratos, que não temos interesse em contrariar porque nos permite poupar enxofre.
Pelo que se refere a este último ponto, a orientação original de começar pelo sulfato e deixar para 2.ª fase os nitratos nasceu de que, antes da última guerra, o consumo de sulfato representava mais de 80 por cento do total dos azotados; mas os números que se citam no relatório do Plano mostram claramente que se desenha entre nós, como em toda a Europa, a tendência para retroceder.
Se pensarmos que a instalação de unidades de hidrogénio químico nas actuais fábricas de amoníaco pouco mais utilizará do material existente do que o tubo de síntese (e talvez só em Estarreja), porque se prevê que o aumento da produção de hidrogénio obrigue, a ampliar algumas secções (compressores, gasómetros etc.), e se atendermos a que a ampliação, já referida, de 5000 kW, aumenta 2 000 t a produção de amoníaco de cada fábrica, o que já contribui de alguma maneira para a melhoria daquela utilização, é-se levado a pensar que os inconvenientes da solução superam os benefícios.
Vista a questão por outro lado, a vantagem de formar uma só unidade e reunir nela o tratamento de lignites e gases, servindo aquelas de equilíbrio a estes, é fortemente tentadora; e a relativa proximidade das duas fontes torna a hipótese viável.
Esta nova unidade, equipada inicialmente para 20 ou 25000 t de amoníaco, fabricaria exclusivamente amoníaco que entregaria às duas empresas existentes e que estas transformariam em sulfato até ao limite de absorção do mercado, o que satisfaria o objectivo de aumentar o volume de produção das suas unidades, embora só nas secções do ácido e sulfatização.
Dentro de alguns anos, acentuando-se, como se espera, a procura de nitratos, a nova unidade montaria o fabrico de ácido azótico e passaria a fornecer ao mercado nitrato de cálcio e nitra-to de amónio e, porventura mais tarde, o cloreto de amónio, que daria como subproduto o carbonato de sódio. Encontrar-se-ia ainda nesta unidade a solução lógica para a matéria-prima da fabricação de explosivos (ácido azótico).