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310 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 179

podemos mesmo dizer que a actual reforma é uma espécie de grande experiência, um ensaio que há-de fornecer elementos para novas modificações.
Nessa reforma, com o intuito de dignificar e valorizar o ensino técnico, adoptou-se o princípio de os seus professores possuírem uma forni atura acrescida de conveniente preparação pedagógica.
Em conformidade com este critério, os professores das cadeiras técnicas devem ser engenheiros. Mas estes, depois do seu longo curso de quase sete anos, incluindo estágios técnicos, não têm disposição para despender mais dois anos no estudo das cadeiras da secção de Pedagógicas e nos trabalhos de estágio para professores.
O engenheiro recém-formado concorre, por isso, apenas para professor contratado, e exerce essa função somente durante o tempo em que não consiga arranjar outra colocação melhor remunerada na engenharia pròpriamente dita.
É indispensável modificar este estado de coisas. É necessário prestar a maior atenção a estes pormenores da orgânica do ensino, porque, embora parecendo insignificantes, são, no entanto, de uma projecção enorme, pelos resultados que podem produzir na eficiência ou ineficiência do Plano. Não resolvemos o problema construindo apenas edifícios e apetrechando oficinas.
Quanto ao ensino, é necessário marcar fortemente a predominância das actividades práticas como complemento do ensino teórico ministrado; fazer sobressair no ensino das técnicas o critério do rigor da medida correspondente a cada profissão (o que tem muito maior importância do que à primeira vista pode supor-se);...

O Sr. Botelho Moniz: Ainda estamos no regime da meia bola e força...

O Orador: - Tem V. Ex.ª razão. Os nossos especialistas não conseguem muitas vezes uma grande especialização porque não são exigentes quanto ao rigor da medida.
Por exemplo: o carpinteiro adopta muitas vezes o rigor do pedreiro; o serralheiro o rigor do carpinteiro, e assim por diante. Há uma grande diferença entre o profissional simplesmente habilidoso, capaz de fazer bonitinhos, e o profissional rigoroso, capaz de levar o espírito de exactidão tão longe quanto possível e necessário.
V. Ex.ª disse há pouco, comentando um parafraseado do parecer da Câmara Corporativa, que o Plano é um estado de espírito.
Pois bem, é indispensável que o professor de uma disciplina técnica, ao transmitir a sua técnica, tenha exigências e habilitações pedagógicas suficientes, capazes de inculcar no espírito do aluno essa atitude de rigor técnico, do tão alto valor formativo.
É um estado de espírito da parte do professor que deve ser insuflado no aluno, e esse estado de espírito sobreleva ainda em importância as oficinas bem apetrechadas e os novos edifícios a construir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, continuando, é necessário também regulamentar com cuidado o executor sèriamente estágios de alunos nas fábricas e nas oficinas das empresas privadas que depois hão-de absorvê-los, de maneira a garantir uma prática mínima na profissão autêntica para que se destinam.
Sem uma especialização técnica altamente desenvolvida não há trabalho perfeito nem rendimento conveniente desse trabalho.
E, se nós quisermos elevar o nível de vida do povo português e conquistar uma relativa autonomia no domínio do aproveitamento das nossas riquezas, temos de enveredar ousadamente no sentido da formação adequada de autênticos profissionais especializados.
E isto em relação a qualquer nível do ensino técnico profissional: elementar, médio ou superior.
Ora, ainda neste campo, o nosso ensino, apesar dos notáveis progressos marcados pela última reforma do ensino técnico, pelos quais S. Ex.ª o Ministro apenas merece louvores, não está em condições de satisfazer as exigências das próximas futuras necessidades da Nação.
É necessário que pensemos neste problema e desde já, porque o achar de uma solução definitiva será demorado e poderá obrigar a várias tentativas de ensaio diferentes.
Pelo que se refere aos aspectos genéricos do problema, pessoalmente estou convencido ser grave erro não só não levarmos as especializações suficientemente longe, como manter indefinidamente as insuficientíssimas articulações actualmente existentes entre o ensino técnico e o chamado ensino clásico ou geral.
A existência de escolas predominantemente técnicas, a que, por comodidade, chamamos técnicas, não significa que deva existir como tal um ensino técnico independente do ensino geral.
O ensino técnico deveria ser um complemento natural do ensino geral, realizado em qualquer nível desse mesmo ensino, no sentido de uma especialização profissional e permitindo canalizar para ele todos os indivíduos com aptidões psicológicas e não querendo ou revelando-se incapazes de ascender com êxito a graus mais elevados do plano de estudos.
Até agora, Sr. Presidente, temos adoptado o sistema de dificultar a entrada dos alunos nos liceus, principalmente pela diferença de propinas. Suponho que deveríamos ensaiar outra orientação, a qual seria a de coordenar aqueles dois ensinos de modo que fosse possível desviar para o ensino técnico, em qualquer altura, os alunos relativamente aos quais isso fosse julgado conveniente.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Mas presentemente há um processo de passar de um ensino para o outro.

O Sr. Bartolomeu Gromicho: - Por meio de exame de transição.

O Orador: - Mas não creio que seja suficiente.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Isso pode não corresponder u ansiedade de V. Ex.ª
Devia existir, segundo diz, uma entidade que palpitasse a tendência real e efectiva do aluno, e, uma vez que a tivesse determinado, dirigi-lo-ia para este ou para aquele ensino.

O Orador: - O que V. Ex.ª acaba de dizer é apenas parto do meu pensamento.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Eu quero ainda dar uma outra nota a V. Ex.ª, que denuncia em grande medida a falta do espírito técnico.
Eu estou em posição de poder observar que uma grande massa de alunos formados no ensino técnico tem uma aspiração máxima, que é a de querer o seu curso equiparado para efeitos de colocação em lugares públicos, para fugirem àquilo que se chama preparação.

O Orador: - V. Ex.ª tem muita razão. É essa uma das dificuldades a que adiante farei referência e que representa, de facto, um problema grave.

O Sr. Jacinto Ferreira: - Os que têm cursos técnicos hoje em dia aspiram profundamente aos lugares burocráticos.