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12 DE DEZEMBRO DE 1952 311

O Orador: - Suponho que algumas destas dificuldades poderiam ser resolvidas se os diferentes ramos de ensino estivessem articulados de outra maneira. Se assim fosse, teríamos, pelo menos, uma ajuda muito importante para a solução do problema.
Eu tenho as minhas opiniões acerca da natureza das relações realmente existentes entre conhecimentos teóricos e conhecimentos técnicos e acerca da real função dos cursos de formação geral do ensino técnico elementar, que são uma espécie de repetição da preparação dos liceus.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Como V. Ex.ª sabe, nós temos um período reduzido de ensino primário.
Na generalidade dos países o ensino primário estende-se por um número de anos bastante maior, e esse número de anos varia conforme o aluno se destina ao tipo de ensino do nosso liceu ou se destina às escolas técnicas. Se vai para as escolas técnicas, leva só a preparação geral considerada mínima para caminhar depois, com eficiência, na especialização técnica.

O Orador: - Também conheço o facto, mas ele não invalida o que vinha dizendo. Se o nosso ensino, no conjunto, fosse remodelado em conformidade com o espírito que indiquei, não só obteríamos maior rendimento do que o actualmente existente, mas desapareceriam do mesmo passo algumas incongruências da nossa organização escolar. Por exemplo: a existência de aspectos, importantíssimos de conhecimentos técnicos nas nossas Universidades clássicas e a existência desnecessária de duas Universidades na capital do Império, unia clássica e outra técnica; a impossibilidade prática a que há pouco aludi de conseguirmos professores com as habilitações exigidas pela lei para as disciplinas técnicas das escolas técnicas, etc.
Todo o centro escolar, independentemente do grau de ensino, deveria compreender, com feição própria e adequada ao desenvolvimento dos educandos, um aspecto a que poderemos chamar de cultura geral, outro de cultura profissional e ainda um outro de cultura humanística.
Todos estes tipos de cultura devem agir sobre o aluno desde o ensino primário e actuar sobre ele, formando o homem integral, de modo a conseguir para as diferentes actividades que a Nação exige dos seus filhos indivíduos completos, que, sendo no seu campo próprio profissionais exímios, sejam simultâneamente bons portugueses e indivíduos abertos e sensíveis aos valores espirituais que informam a sua cultura e a sua civilização.
Mais uma vez se impõe, portanto, a obediência ao lema: aperfeiçoar a coordenação do que existe, levar a especialização o mais longe possível e não confundir especializações próximas pelo que respeita à actividade, mas distintas pelo que se refere ao apetrechamento técnico.
Em íntima ligação com este problema está o da orientação profissional e selecção psicológica dos futuros profissionais.
A técnica, diz respeito à especialização. As humanidades dizem respeito ao que há de comum no homem. Estas devem ser oferecidas nas doses o mais elevadas possível em cada caso e a todos os indivíduos; aquelas têm de ser ministradas apenas aos indivíduos que revelarem aptidões. Exigem-no a eficiência e o rendimento do trabalho. É por isso importantíssimo o emprego de exames psicotécnicos na selecção dos alunos que devem frequentar essas escolas, com o intuito de se tornarem os futuros profissionais especializados das nossas indústrias. Alguma coisa neste sentido está prevista na lei, mas é pouco, e esse mesmo pouco não se aplica.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Decerto que disse mais técnica, mais especialização. Há pouco estava a acompanhá-lo, mas por dentro a aplaudi-lo na sua maneira de pensar, porque, na verdade, é indispensável a especialização, é indispensável certo grau de perfeição técnica.
Eu digo é que aquele que tenha uma preparação geral mais desenvolvida do que outro está em melhores condições de amanhã se mover, mesmo dentro dos problemas de ordem técnica.

O Orador: - Eu concordo inteiramente com V. Ex.ª
Quero apenas dizer isto: devido à tal orgânica insuficiente - embora se tenham feito progressos para se corrigirem erros anteriormente existentes -, houve necessidade de repetir no ensino técnico um curso de preparação geral.
O ensino técnico tornou-se, deste modo, um ensino liceal disfarçado. Só diferem nisto: o nosso ensino liceal é demasiadamente teórico, demasiadamente geral e relativamente pouco formativo; o ensino das escolas técnicas é mais concreto e, por isso talvez, mais formativo.
Os trabalhos manuais, pela sua maneira de ser educativa, embora sejam uma preparação para uma técnica, têm um poder considerável de formação intelectual e de disciplina mental, e essa disciplina falta em grau bastante nos nossos liceus. Por exemplo: o ensino do desenho...

O Sr. Mário de Figueiredo: - O ensino do desenho deve intensificar-se, com vontade dos alunos ou não. Deve ser ensinado como se ensina a ler e a escrever. Há um slogan que diz: «Sabe escrever? Então pode aprender a desenhar».
Havia o conceito de que o desenho só era para pessoas privilegiadas; deve ser assim quando se trata do desenho artístico, mas não do desenho de expressão, porque a experiência diz que eu gasto uma hora a esclarecer um problema que esclareço em dois minutos com o auxílio de um croquis.

O Orador: - ... O desenho pode contribuir muito para a formação da sensibilidade e da inteligência do aluno.
E é por isso que o desenho, e não acrescento agora o adjectivo rigoroso...

O Sr. Botelho Moniz: - Mas pode dizê-lo, porque tem n maior influência formativa.

O Orador: - ... Na verdade, o desenho rigoroso, no ponto de vista psicológico, como factor educativo do aluno e formativo da sua inteligência, equivale para o adolescente ao trabalho, penoso mas indispensável, da caligrafia para as crianças, que têm de escrever pela pauta, e não segundo a sua fantasia.
Mas há um aspecto formativo da técnica, quer do desenho quer de outras formas de actividade manual, em que a ideia do rigor é essencial e que nós descuramos bastante no nosso ensino liceal e técnico. Ora é indispensável não só ensinar, mas preparar, como condição prévia, professores que tenham atitudes mentais capazes de transmitir aos alunos, não apenas a matéria do que se tem de transmitir, mas principalmente certa atitude mental de grande valor formativo, como disse há pouco.
Continuando, portanto, as minhas considerações anteriores: o exame psicotécnico, o exame das aptidões no