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414 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 185

representada, da elevação do liceu municipal da Covilhã, só com o 1.º ciclo, ou seja o 1.º e 2.º amos, à categoria de nacional, de modo que o ensino nele se estendesse, pelo menos, até ao 5.º ano do liceu.
É uma aspiração vital da cidade, e não há dúvida, como espero demonstrar, que todas as razoes - as de ordem demográfica, as de ordem económica, as de ordem espiritual, as de ordem política e até as concernentes às da superlotação de muitos liceus do País, especialmente de Castelo Branco e da Guarda, sobrecarregados - com vizinhos daqueles concelhos - se carrilam no sentido de essa ambição, até agora contrariada, merecer pleno deferimento.
S. Exa. o Sr. Ministro da Educação Nacional, com a justiça que lhe é peculiar, no próprio discurso de Oeiras reconhece lealmente que o Liceu da Covilhã possui uma «frequência superior, só nos dois primeiros anos, únicas permitidos, à de quase todos os liceus nacionais com dois ciclos».
Isto é, pois, um ponto que reputo assente no entanto, posso ilustrar com números esta afirmação do Governo, informando que no presente ano lectivo frequenta este liceu, e apenas nos 1.º e 2.º anos (únicos permitidos), uma população de 162 alunos, o que, sem dúvida, acusa um índice impressionante, mais a, mais se tivermos em conta que muitos pais, e talvez com alguma razão, sabendo com antecipação que o curso local fica interrompido a partir do 5.º ano, têm preferido estabelecer a primeira matrícula em liceus que garantam a continuidade de métodos de ensino, de hábitos e sistemas de professores, etc., desde o 1.º até ao 7.º ano.
Todavia, penso ainda que não é supérfluo, nem despiciendo, para a inteira análise do problema, aditar às razões de ordem geral que acabei de formular alguns factores de marcado relevo.
Assim, segando o último censo, a população da cidade da Covilhã conta-se pela ordem dos 22 000 habitantes, ao passo que as das cidades de Castelo Branco e da Guarda orçam, respectivamente, por 10 000 e 12 000, e os habitantes da vizinha vila do Fundão - a vinte minutos da cidade da Covilhã - andam por cerca de 6 000.
A diferença das populações destas terras entre si acusa um excedente em favor da Covilhã que, no grau mais elevado, é de 7 000 habitantes, ou seja uma diferença que excede o próprio número de habitantes da vila do Fundão e seu termo.
Visto o problema por habitantes dos respectivos concelhos, a diferença em favor da Covilhã é da mesma forma significativa, dado que, enquanto o nosso concelho dispõe de 68 000 habitantes, o de Castelo Branco alberga 62 000, seguido do da Guarda, com 52 000, e do Fundão, com 49 000.
A tudo isto acresce que da ilustração destes números resulta para o concelho da Covilhã major densidade populacional, quando relacionada com a daqueles concelhos mais próximos, sem dúvida de maior área territorial.
Por outro lado, é sabido que o meio considerado se apresenta com um marcado pendor de natureza predominantemente económica, que lhe advém da circunstância de ver o mais forte bastião técnico e financeiro da indústria nacional de lanifícios.
E esta é de tal maneira absorvente da« atenções locais que mal permite que outra, com probabilidade de êxito, ali se ensaie, desde que não seja daquela natureza ou não tenha consigo afinidade muito próxima.
Ora, tendo em conta o necessário equilíbrio das aspirações e dos fins sociais de qualquer corpo gregário, é dos mais rudimentares ensinamentos da sociologia que todos os esforços se conjuguem no sentido de fomentar e de desenvolver na vida da sociedade aqueles aspectos humanos que nela dêem mostras deficitárias em relação a esse desejado equilíbrio de forças.
E também é de reconhecer, por lição dos livros e da experiência, que no meio social onde naturalmente se estadeia a exclusiva preponderância do económico, como expressão unilateral e absorvente da actividade humana, se verifica também muitas vezes a atrofia, quando não n crise progressiva de factores de outra ordem, que devem presidir, com proporção e equilíbrio, aos destinos da actividade social.
Se isto é assim, em abstracto, há que, em concreto, não ignorar as repercussões do fenómeno.
Na verdade, foi ainda o Sr. Presidente do Conselho quem um dia disse que à escola cumpre despertar a «inteligência preparada para a acção», o que, por outras palavras, pode interpretar-se como querendo traduzir que é à disciplina são espírito, da força imoral do verbo, princípio de todas as coisas, que incumbe fornecer as energias pessoais e sociais que colmatem todas as realizações e que pautem em tudo as normas de conduta na vida de relações dos indivíduos.

O Sr. Presidente: - Lembro a V. Ex.ª que já excedeu em quinze minutos o tempo regimental.

O Orador: - Vou já terminar, Sr. Presidente.
Indesejáveis serão então, e até perigosas ao próprio conceito de salvação social, que em qualquer tempo ou lugar as acções dos indivíduos, completamente à margem de uma direcção interior, comunicada pela educação e pelo espírito, sigam a linha sinuosa, e tantas vezes quebrada, das solicitações dos interesses materiais, com o cortejo negro da subversão dos sentimentos morais das relações da família, do carácter comum, da lealdade mínima. O slopan «produzir e poupar», entendido por muitos desarticuladamente, terá de integrar-se em princípios de sanidade formativa, vazados em qualquer fórmula que signifique a necessidade simultânea de a persuadir e educar».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E esta missão incumbe, como vimos, à escola, em suprimento do que em outras fontes não é lícito esperar.
A criação do liceu por que venho propugnando pode ter, assim, uma alta incumbência a desenvolver no sentido de respeitar ou de restabelecer, com a acção contínua sobre as gerações, o necessário equilíbrio de factores.
E nem se diga que impedem essa elevação de categoria a nacional as costumadas razões orçamentais do Estado, visto que as próprias entidades administrativas locais já afirmaram ao Governo que todas as despesas inerentes a esse facto correriam de sua conta não se pondo sequer no caso o problema do alojamento, uma vez que o edifício actual comporta o correlativo aumento do número de alunos.
Se a Escola Industrial Campos Melo, sempre em exercício desde a data da sua criação, que foi no ano de 1884, tem sido alfobre perene do recrutamento da técnica da indústria de lanifícios nacional, e a tal ponto que lhe devemos, sem dúvida, o manancial de riqueza económica e de perfeição que essa indústria representa hoje, honrosamente, no Império Português, não é menos certo que esse estabelecimento tem tido, desde a sua fundação, contingente mais ou menos igual de população, nunca perturbando o escoamento natural de todos aqueles que porventura se sentiram com desejos de frequentar outros centros de ensino.
Isto é uma verificação já suficientemente amadurecida pelo decorrer de setenta anos.