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510 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 191

Ele era forte na sua fé, de era intocável na sua fé, entendendo, e bem, que não lhe cabia maldizer da fé que se exteriorizava pelas atitudes dos outros. Era um homem forte, apesar de, como disse há pouco, ser no ambiente dos problemas que nau tocavam a concepção da vida um hesitante, um hesitante até tomar uma decisão, para, depois de a tomar, e quando se entrava no domínio da execução, se comportar relativamente a ela como se tivesse fé na verdade da decisão que havia tomado.
Era um hesitante até a decisão, mas um homem de fé na execução de uma decisão que havia tomado.
Deve-lhe a situação não simplesmente, Sr. Presidente, colaboração técnica, mas colaboração política.
É conhecido, neste aspecto, o seu pensamento. Não quero, por isso, deixar de frisar que, apesar do seu pensamento, e talvez por causa do seu pensamento, ele deu à situação, ele deu ao Estado Novo a melhor colaboração política.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A melhor colaboração política, trabalhando, não trabalhando o seu conhecido pensamento, sempre dominado pelo sentimento de lealdade de que ele era incapaz de pé separar le que não podia, admitir que se separasse dele.
Fui seu colega, fui seu examinado na velha Universidade de Coimbra.
Nunca fui discípulo dele, mas aprendi muito com ele, enquanto colega, aprendi muito com ele a orientar-me nisto: que para um professor deve ser timbre, de que nunca deve afastar-se, o de procurar fazer justiça, sem tomar em conta as concepções de cada um procurar fazer justiça sem tomar em conta as influências que a respeito de cada um podem desenvolver-se.
É a ele, a outros que também já partiram, e a outros que ainda vivem, que se deve a campanha feita, no sentido de que o fio pode atender-se a considerações estranhas ao próprio valor do aluno para o julgar.
A campanha foi dura, mais dura do que alguns de VV. Ex.ªs podem supor, mas penso que se atingiu definitivamente o resultado que era preciso atingir.
Aprendi muito com ele, neste capítulo e em outros da minha vida.
Sucedi-lhe na presidência da Junta Nacional da Educação e posso, portanto, depor sobre o que foi a sua actuação junto dessa instituição: um homem, um carácter, torno a dizer um homem que só soube orientar-se por princípios superiores.
Não quero dizer mais nada senão terminar como comecei: exprimir o meu sentimento, uma palavra de piedade sobre o desaparecimento deste homem, deste grande homem que eus tenha em sua guarda.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto Barriga: - Sr. Presidente: não tive a honra do ser discípulo do Sr. Professor Fezas Vital, mas durante a minha vida ele foi sempre como meu professor o mestre de Direito Público.
Prestou-se-lhe hoje no sentida homenagem nesta Câmara, e com uma elevação de tal ordem, que dificilmente eu podia igualá-las. Por isso, limito-me a associar-me às homenagens justíssimas que os Srs. Deputados Mário de Figueiredo e Carlos Moreira lhe prestaram nesta Casa.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: tenho de acrescentar algumas palavras às que com tanto sentimento e com tanta justiça foram já proferidas nesta Casa em homenagem ao Dr. Fezas Vital pêlos Dignos Deputados Dr. Carlos Moreira e Prof. Mário de Figueiredo. Mas são um desafogo irreprimível para a mágoa imensa que a sua morte causou e o público testemunho que devo às suas altas qualidades e à, sua acção através de uma nobre existência. O Dr. Fezas Vital foi um destes espíritos, raros nos tempos de hoje, com uma fé profunda e viva na verdade dos seus princípios religiosos e nas virtudes dos seus princípios políticos. A sua consciência de homem e de cidadão era balizada por estes dois luzeiros, e por eles aferia rigorosamente as suas atitudes e a sua conduta. Era o que pode chamar-se uma consciência, na antiga e alta acepção da palavra. Não me interessa neste momento e paru a minha homenagem o jurista penetrante, o professor eminente que ele foi, as grandes faculdades intelectuais que, sem contestação, todos lhe reconheceram. Interessa-me o Homem; e este avulta e agiganta-se perante a sociedade em que viveu pelo carácter que exibiu, pelas qualidades, morais que pôs ao serviço do seu semelhante, pela, acção que exerceu. Nem está em causa o credo político que professou. Mas a maneira como serviu e prestigiou esse credo - e neste aspecto foi ele um exemplo raro e simpático da elegância, da correcção e da nobreza com que se pode conduzir uma bandeira política com altivez, e desassombro, mas sem afrontamentos nem provocações pessoais.
A sua preocupação máxima, a sua obsidiante preocupação nos últimos vinte anos da sua vida, era a de continuidade de alguns princípios políticos fundamentais para além do momento transiente em que vivia. A sua profunda fé monárquica levava, naturalmente, o seu espírito e tudo esperar da restauração dos seus princípios políticos. E as suas ideias eram expostas com uma tal convicção e um tal fervor de ideal que havia que respeitá-lo na sinceridade e iluminação da sua límpida consciência cívica, embora se pressentisse nele um como Platão da monarquia, para quem as tristes contingências dos homens e das coisas nada valem, em nada tocam quanto à, pureza intemerata ou à força dos princípios.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Meus senhores: prestemos a nossa homenagem piedosa à memória de um homem que foi nu vida pública portuguesa um relevante e nobre exemplo de dignidade pessoal, de elegância e coerência de atitudes, de total devoção aos seus princípios políticos e religiosos, ao ideal superior do bem comum do seu País! Está de luto a inteligência portuguesa, de que ele foi um dos expoentes; está de luto a sociedade portuguesa, de que ele foi um elemento de relevo!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - A Câmara, certamente, me acompanha nestes sentimentos, que são os mesmos que, em seu nome, daqui dirijo à Câmara Corporativa, que ele tanto serviu e ilustrou.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Em memória do Prof. Doutor Fezas Vital suspendo por cinco minutos a sessão de hoje.

Vozes: - Muito bem!

Eram 16 horas e 55 minutou.

O Sr. Presidente: - Está reaberta a sessão.

Eram 17 horas.