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18 DE MARÇO DE 1903 877

Parece-me, claro, que a representação do organismo máximo ida educação física nacional não deve limitar-se ao seu director-geral, mas sim que este deve ser assistido por dois inspectores, um da educação física escolar e outro da educação física extra-escolar.
Também reputo suficiente um único representante de cada um dos organismos Organização Nacional Mocidade Portuguesa, Mocidade Portuguesa Feminina, Instituto Nacional de Educação Física, Conselho Superior de Educação Física do Exército, Comissão Técnica de Educação Física da Armada, Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho e Saúde Escolar, e, portanto, como é óbvio, também entendo que chegará um só representante das federações desportivas.
Entendeu-se, ma proposta de lei, que nessa 2.ª subsecção da l.º secção da Junta deveria estar representado o Comité Olímpico Português. Parece-mos que o facto indica que o Ministro da Educação Nacional pretende de futuro intervir na forma como se prepara a representação portuguesa nos jogos olímpicos.
Se assim é, não posso deixar de aplaudir calorosamente esta intervenção do legislador, porque, na verdade, as circunstâncias assim o impõem.
Muitos de VV. Ex.ªs certamente se recordam de ter lido nos jornais artigos, assinados por pessoas de responsabilidade técnica, comentando severamente a maneira como tem decorrido essa representação, não se criticando apenas a impreparação evidente da maior parte dos nossos desportistas. E conveniente que o Estado se não limite a dar dinheiro para a nossa representação nesses jogos, pois que os últimos parece terem sido principalmente o pretexto, salvo honrosas excepções, não só para uma esplêndida excursão turística, mas, o que ,é ainda mais lamentável, para o estendal do nosso atraso desportivo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Portugal não deve, evidentemente, desinteressar-se das grandes reuniões internacionais, onde seja possível marcar com dignidade a sua presença, de acordo com as responsabilidades de um país cujo prestígio está em plena ascensão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ora os jogos olímpicos correspondem na nossa época a um intercâmbio no domínio dos exercícios do corpo - não digo, intencionalmente, de educação física- feito em forma muito acessível à mentalidade popular.
Na verdade, neles se trata de luta desportiva levada ao extremo da violência e de ginástica atlética individual e espectacular realizada por homens e mulheres. Muitos apreciam tais competições e todos gostam de viajar.
Por isso os gogos olímpicos modernos têm um aspecto, social e político muito importante, que os governos devem tomar em linha de conta. Mas o reconhecimento destas e de outras vantagens de natureza psicológica não nos deixam ignorar que tais formas de actividade física saem do domínio do higiénico e do formativo.
Por esta razão muitos higienistas, pedagogos e moralistas os têm condenado. Sua Santidade Pio XII, numa mensagem dirigida ainda há pouco tempo a oitocentos professores de Educação Física e médicos, reunidos no Congresso Científico Italiano de Educação Física e Desporto, afirmou que tudo o que altere a ordem natural das coisas, tomando o que deve ser um meio como um fim em si, é condenável, donde resulta que nem todo o desporto é necessariamente bom; também o há indesejável e prejudicial. As palavras do Santo Padre são estas:

A ginástica e o desporto devem não mandar e dominar, mas servir e ajudar. E a sua função e nisso encontram a sua razão de ser.

O Sr. Bartolomeu Gromicho: - Depende das épocas do ano. Por exemplo, como acontece com o ciclismo, que se pratica exactamente nos meses contra-indicados: Julho e Agosto.

O Orador: - Exactamente. Quando o desporto deixa de ser um meio para se transformar num fim ou num meio do que não é o humano, mas comercial, por exemplo, resultam as mais lamentáveis consequências no ponto de vista educativo e social.
Nós estamos a assistir a exemplos desse género a propósito do que se passa com os desafios de futebol. Lemos nos jornais, com certa frequência, casos em que os árbitros de futebol são agredidos pelo público.
Claro que tudo isto resulta do baixo nível educativo do nosso público, que não está educado para ir assistir aos desafios numa atitude conveniente, pois ele vai também tomar parte no pleito. Outra causa é a deturpação do espírito clubista.

O Sr. André Navarro: - Essa tem de existir.

O Orador: - E, além disso, não sei até que ponto, dada a orgânica actual, os árbitros são verdadeiramente independentes. Eles realizam uma tarefa susceptível naturalmente de erros, que não podem ser emendados depois de cometidos, mas pode acrescer a este mal a existência de outros males, como coacções morais e outras.
De modo que não sei até que ponto as práticas desportivas em vez de louváveis não são condenáveis ?

O Sr. André Navarro: - V. Ex.ª dá-me licença?
E talvez conveniente não realçar demasiado esse ponto. O nosso país não representa nesse capítulo qualquer expoente de excepção.
No que respeita a agressões a árbitros, pode ter-se dado um incidente ou outro, mas não acredito na parcialidade dos árbitros. Poderá haver desatenção, mas parcialidade não me parece.
Em Portugal ainda não se chegou, como lá fora, ao ponto de se rodearem os campos com rede. Isto demonstra que o nosso público não é tão pouco civilizado desportivamente que não possa assistir a um desafio de. futebol sem essas precauções no campo.

O Orador: - Mas eu não afirmei; perguntei.

O Sr. André Navarro: - Foi por isso que eu dei esta explicação a V. Ex.ª

O Orador: - Continuando nas minhas considerações, direi que há evidente contraste entre a forma como decorrem aqueles jogos olímpicos e a maneira como se têm realizado os congressos internacionais de educação física, da iniciativa da Federação Internacional de Ginástica de Ling, cujo método está oficialmente adoptado em Portugal. Apesar disso, embora o nosso país se tenha feito representar honrosamente nesses congressos, fê-lo durante muito tempo com carácter particular, por falta de verba, e só no ano passado a ginástica nacional se fez representar no I Congresso Latino de Educação Física, realizado em França, graças a um precioso, embora pequeno, auxílio de 20 contos, dado pelo Ministério da Educação Nacional. Não posso deixar de acentuar o facto de, em contraste com essa diferença de tratamento monetário, tendo em vista os jogos