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18 DE MARÇO DE 1953 879

não é aconselhável para as necessidades do meio civil, em que predominam a criança e o adolescentes. Ora o instrutor e o monitor, embora sejam úteis aias unidades militares, constituídas por adultos que, na sua grande maioria, recebem uma educação física muito elementar, mostram-se incapazes, por falta de habilitações, a satisfazer as exigências higiénicas e formativas da juventude portuguesa, onde existe uma elevadíssima percentagem de débeis e de deformados.
Há ainda um número relativamente pequeno de professores de Educação Física, devido à falta de garantias de que sofre a profissão e de estímulos aos jovens que desejam dedicar-se a tão alta e difícil missão. Dêem-se-lhes, portanto, melhores condições de trabalho e os honorários sem limites para que aumente, e não diminua, como tem sucedido, a frequência do Instituto Nacional de Educação Física. Desenvolva-se a educação física escolar, obriguem-se, de facto, as associações desportivas a manter classes de Ginástica Educativa, criem-se lugares de professores de Educação Física municipais.
A criação de cursos ide instrutores e monitores civis facilitaria a obtenção de diplomas para um ensino que os professores só podem exercer após longos e facturados estudos. Consequentemente, o número destes diminuiria em proveito daqueles, que teriam o cuidado de procurar ocupar o maior número de lugares. Aliás, a experiência já demonstrou que não é possível delimitar o campo de acção dos instrutores e monitores.

Sr. Presidente: vou terminar as minhas considerações, mas mão desejaria fazê-lo sem me referir ainda a um ponto muito importante e cuja solução prática deve ser buscada com muita ponderação e eficiência: o da relação entre os serviços de saúde escolar e, em especial, do médico escolar e do professor de Educação Física. Estamos em presença de duas especializações diferentes, mas cujos campos de acção, por vezes, interferem necessariamente.
Como obrigar o professor de Ginástica a seguir as prescrições médicas nos casos especiais? Como determinar a natureza destes casos e a cooperação efectiva e indispensável do médico e do professor de Ginástica capaz de ministrar ao aluno ginástica médica? Cada uni destes problemas pode ter muitas soluções, igualmente aceitáveis, «que a proposta de lei não «obriga necessariamente a discutir. Mas, seja como for, é indispensável não confundir ginástica educativa e correctiva com ginástica médica. A primeira destina-se a indivíduos sãos ou com ligeiros desvios, ;que os meios educativos físicos pretendem valorizar ao máximo e equilibradamente. A segunda destina-se a indivíduos doentes, que é necessário conduzir a uma saúde normal.
A colaboração com o médico, embora conveniente em todos os casos, é, porém, particularmente indispensável e necessariamente íntima na segunda hipótese. Ainda neste campo espero sinceramente que, uma vez criada u Direcção-Geral da Educação Física nos moldes previstos pela proposta de lei, se encontre a solução prática e eficiente que a importância do problema exige e que o interesse nacional requer.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ricardo Durão: - Sr. Presidente: apraz-me tomar parte neste debate porque sou um apologista da força, da destreza e da lealdade. É esta trindade magnifica que a educação física consagra.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Temos de educar os nossos filhos, desde os primeiros passos, no regime da força e da saúde; prepará-los para os reveses da vida; torná-los primeiro que tudo animais sólidos, destros, robustos.
Uma raça de homens fortes incute sempre respeito e temor. Tanto melhor, porque a força, bem compreendida, é mais que um atributo, é uma virtude; quem é forte não precisa de ser mau.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Gerar e criar homens vigorosos é a primeira, a maior necessidade, porque temos de lutar sem descanso contra o definhamento da raça.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E depois de os instalarmos na vida sobre alicerces de boa cantaria, só então poderemos desbastar o bloco de granito. As boas maneiras que a sociedade impõe, essas virão depois, na sua altura. No nosso meio, toda a criança, por atavismo ou por intuição, tende insensivelmente a civilizar-se. Não é preciso forçar a nota do bom-tom. A precocidade é o sintoma fatal da decadência.
Lamento profundamente esses pobres rapazinhos que aos 10 anos sabem sentar-se à mesa de jantar com a distinção e a compostura dos conselheiros; que aos 12 anos conhecem todas as regras da etiqueta, todos os deveres da cortesia, e aos 10 já falam em casar com uma priminha macilenta, de profundas olheiras doentias.
(Risos).
Quantas vezes - confesso - me assalta a tentação de ver instituída, à maneira de Licurgo, em defesa da raça, a inspecção médica pré-nupcial! Mas logo penso que a nossa civilização, feita de amor e piedade, não transigiria com violências desta espécie, preferindo deixar esse imperativo moral, à consciência dos futuros pais.
A verdade, no entanto, é que a força e a saúde se transmitem de geração em geração, iluminando as louras cabeças dos pequeninos atletas do porvir.
Mas é tempo, Sr. Presidente, de descermos do Parnaso, para entrar prosaicamente na análise da questão.
Devo dizer desde já que não sou autoridade no assunto, apesar do ter praticado vários desportos, desde o atletismo à ginástica de aparelhos, mas tudo isto sem método e sem orientação.
A ginástica dirigida e disciplinada, a verdadeira, a única ginástica salutar, que hoje, tarde de mais, reconheço, nunca foi da minha simpatia.
Não seguia regimes nem aceitava treinos; só aparecia no dia do torneio, será qualquer espécie de preparação, e corria ou saltava de cigarro aceso na boca. Em resumo: no desporto só fiz brutalidades; e, se as recordo agora, é na intenção de evitar que outros mais novos as façam.
Poucos atletas havia no meu tempo que obedecessem a todas as regras desportivas.
Sobre a actual proposta de lei troquei impressões com um deles, talvez o mais completo: o brigadeiro Correia Leal, comandante da Escola do Exército e director do Estádio Nacional, cuja destreza física só é comparável à sua agilidade mental. É pena que ele não pertença à Assembleia ou u Câmara Corporativa, porque seria, sem dúvida, preciosa a sua dialéctica na discussão da actual proposta. Outros nomes poderia citar, como, por exemplo, o Dr. Leal de Oliveira, também meu an-