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7 DE ABRIL DE 1956 (739)

Não sei se posso negá-lo, mas eles têm de certeza a margem que nos falta para desperdiçar a afluência de turistas, em lugar de atraí-la.
Há fronteiras -como as de Irun e La Junquera- abertas permanentemente, e nada impede que assim suceda nas nossas, mediante o escalonamento de brigadas. Temo-lo nos portos e aeroportos. E a estranha excepção da Espanha para connosco não provirá unicamente de nós procedermos do mesmo modo para com ela?
Consta-me que, felizmente, o problema está merecendo a atenção cuidada do Governo, e certamente sob os dois aspectos: encargos aduaneiros e policiais e horário dos serviços.
Sr. Presidente: há também a eterna questão do visto nos passaportes, de que me abstenho de ocupar-me, por já o ter feito noutras conjunturas e não dever alongar-me.
Digo apenas que importa desmesurada perda de tempo e prejuízos aguardar reciprocidades.
Mas dir-se-á, com aparente razão: como é evidente, em todo o País, normalmente, apenas temos alojamentos disponíveis para alguns milhares de turistas e, consequentemente, são inúteis, se não inconvenientes, a propaganda, a supressão dos vistos, as facilidades de acesso, a redução dos encargos aduaneiros e policiais e o mais de que os turistas sejam beneficiários.
À primeira vista parece que pensa bem quem pensa assim; mas, por outro lado, não convém ficar para trás, deixar-nos esquecer, ou votar ao abandono, ou desconhecer que existimos ou não marcamos como país de turismo. Quem não aparece esquece. Parar equivalia a recuar, a inutilizar o caminho percorrido, e ter de recomeçar quando já fosse tarde.
O caminho é para a frente e muito depressa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Na realidade, a nossa situação é ainda muito precária no respeitante ao essencial, ou seja à capacidade hoteleira, e quem venha uma ou duas vezes sem poder ou querer esperar que lhe garantam hospedagem ou não a encontre onde deseja não voltará mais, e tem motivo para propalar que Portugal é inacessível. Não exagero, pois, como é do domínio público, especialmente na quadra das férias, nos hotéis de Lisboa, Porto e Coimbra e nos do Estoril e outras praias já silo rejeitados inúmeros hóspedes estrangeiros, por falta de alojamentos. Sucede, por vezes, pretenderem instalar-se num ponto do Pais e só poderem fazê-lo noutro distante.
E já tem sucedido também verem-se forçados a retroceder e a transpor a fronteira para não ficarem ao relento. É esta a triste realidade, embora, paradoxalmente, pareça que a recusa de hospedagem pode, de vez em quando, servir de reclamo, se aos quatro ventos se propalar que os hotéis de Portugal estão a abarrotar.
Não podemos de nenhum modo contentar-nos cora a situação presente, apesar do que se fez e está fazendo. Há no Pais apenas 208 hotéis, pousadas e estalagens e não são numerosas as pensões aceitáveis; mais 1467 quartos, dos quais 945 em Lisboa, previstos pela Camará Corporativa em resultado da construção de 17 hotéis e ampliação e remodelação de 18, e novas estalagens não bastam. Sem dúvida temos caminhado alguma coisa nos últimos anos, quer por iniciativa e conta do Estado, quer por iniciativa e conta de particulares. Estão no primeiro caso os hotéis dos Seteais e de Santa Luzia; estuo no segundo caso os da Figueira da Foz e de Abrantes e, há mais tempo, o Infante de Sagres, no Porto, e o Condestável, em Lisboa.
Actualmente em Lisboa constroem-se, pelo menos, um grande e um pequeno hotel, outro está a concluir-se e há ampliações em curso, o que tudo elevará substancialmente o número e a qualidade dos alojamentos.
Mas, repito, não é suficiente. Não o é mesmo em Lisboa o no Porto. E na província, excepto os casos que apontei e poucos mais, estamos muito longe do necessário. Mesmo em Évora, onde a falta há anos de um hotel constitui um pecado, só agora se está encarando o problema com objectividade relevante. Viseu, Beja, Lamego, Bragança, Portalegre, Guimarães, Nazaré, etc., aguardam.
Fátima, que necessita de um grande hotel, não possui sequer um restaurante amplo de razoável categoria. E será, porventura, dos sítios onde estes empreendimentos seriam mais lucrativos.
O Estado não pode fazer tudo, mas é mister que o Estado estimule e acarinhe as iniciativas locais, para que tenham projecção casos que são raros exemplos de quanto podem e valem a dedicação, o desinteresse e o espirito de sacrifício ao serviço do regionalismo e, em última análise, do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente: tem tardado a construção das novas pousadas, ordenada há mais de dois anos, e é pena.
A reputação delas ultrapassou a fronteira. Já em 1949 o jornal belga Fers L'Arenir dizia que constituíam uma das iniciativas mais originais e mais úteis e que «o turista que nelas entra tem desde logo a certeza de que será tratado não somente com correcção mas também com aquela afabilidade espontânea tão característica do povo português».
E o presidente da Comissão Hoteleira Complementar, Sr. Monteyne, apresentou como solução óptima para a hotelaria complementar o tipo das pousadas portuguesas e chamou a atenção dos outros países para esta feliz realidade.
Com o problema do turismo relaciona-se directamente o dos cursos de hoteleiros, previstos na Lei n.º 2073 e só agora em estudo por uma comissão recentemente nomeada; e com ele se relaciona também, entre outros, o curso dos guias-intérpretes devidamente habilitados, com conhecimento do País, dos seus monumentos e de um pouco da sua história, de roteiros turísticos elaborados pelo Secretariado Nacional da Informação e que conheçam as principais línguas. A nossa só é facilmente apreendida pelos espanhóis e italianos. É, pois, mais um grande obstáculo a reduzir.
Além de traduzir-se em centenas de milhares de contos a receita em cambiais que a indústria hoteleira traz ao País, ela determina o desenvolvimento de muitas outras actividades e a ocupação e o sustento de dezenas de milhares de trabalhadores de variadas categorias.
A indústria hoteleira é sob este aspecto de tão elevado alcance e é tão importante o modo como é exercida que foi ainda o Sumo Pontífice quem disse, ao receber os membros da União Industrial Hoteleira:

Ora vós tendes parte importante a desempenhar para favorecer e apressar a feliz evolução que se desenvolve no meio das vicissitudes políticas e das guerras frias e sangrentas, É difícil medir tudo o que representam para um viajante as estadas que fazem nos hotéis. Além da satisfação que ele tinha direito a esperar do alojamento, da sua alimentação o da organização material, além dos encontros que pode ter, ficarão gravadas na sua mente as delicadezas, o bom gosto, a discrição do pessoal e bem