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1136 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 151

Aventureiro dos mares, bandeirante dos sertões, pombeiro do comércio, mas, acima de tudo, missionário das almas, o Português nunca foi agressivo por temperamento. A civilização lusíada, nascida à sombra da cruz com o arvorar da bandeira em turras desconhecidas, jamais usou da prepotência ou do domínio brutal sobre os outros povos.
Porém, por toda a parte, em terras de África como da América ou das índias, nos momentos graves da rida nacional, sempre os Portugueses provaram que eram gente para enfrentar as situações, não abandonando nunca & dignidade dos princípios, que é a essência própria daqueles que sempre levaram na alma a certeza e o valor de uma fé que lhes iluminou o espírito pelas sete partidas do Mundo.
Nem a penúria de meios ou a ameaça dos fortes fez jamais esquecer à nossa gente a essência e valor dos conceitos morais. Por isso a nossa história nos dá como direito natural a existência de oito séculos de vida livre e independente.
Talvez por isso mesmo, podemos suprir certa pobreza de meios com a riqueza da experiência vivida. E de tal jeito podemos bem conhecer o que certas nações mais jovens pretendem ao arvorar como bandeira certos princípios novos de coexistência pacífica, como balada enganadora para adormecer a existência das nações, levando-as ao abandono da vigília dos seus valores tradicionais e deixando-as minar na sua estrutura moral e histórica.
Por isso mesmo não compreendemos, como alguns o fazem, que se compre paz por qualquer preço, hipotecando, para tanto, os bens e o prestígio da Nação.
A Europa Ocidental representa hoje no Mundo o último baluarte do individualismo universalista e cristão, bandeira com que implantou a civilização em todos os continentes e que, a não ser defendida, representará u abdicação total dos princípios morais que foram esteio do progresso do Mundo.
Quando, há dez anos, a União Soviética acorrentou a Polónia e os pequenos países bálticos, logo a seguir todos os países da bacia danubiana e por fim. teatralmente, a Checoslováquia, os pequenos países ocidentais compreenderam que só através da organização colectiva da sua defesa podiam sustar o avanço do cilindro orientai e asiático. E assim, por imperativo de sobrevivência, nasceu a Organização do Tratado do Atlântico Norte. E assim, também por imperativo de sobrevivência, foram as pequenas nações impelidas a tratar da sua organização para a guerra, não com qualquer espírito agressivo, mas com o sentido exacto de que, constrangidas, um dia poderiam ter de se defender em cruzada heróica, batendo-se pelos seus valores tradicionais e morais, que são a ética da sua civilização milenária.
De outro modo, a não preverem e estruturarem essa defesa, seria como que negarem a sua própria essência moral, equivalendo a abjurar os princípios com que tinham dado ao Mundo o seu actual primado de civilização e de luz espiritual.
Viram-se, assam, os povos cristãos e ocidentais forçados a estabelecer, na ordem internacional, uma organização colectiva de defesa- a O. T. A. N. - e, na ordem interna, a estruturar toda a organização da nação para o tempo de guerra, como único modo de deter a ameaçadora expansão soviética, assegurando a continuidade da paz, como elemento essencial à vida dos seus povos.
1.ª CONCLUSÃO. - O único modo de assegurar ao povo português a continuidade da vida pacífica e operosa a que se dedica, mantendo a defesa dos seus princípios morais, está, não só na manutenção dos compromissos que assumiu na plano internacional, com vistas à sua segurança colectiva, através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (O. T. A. N.) como ainda na consequente estruturação no plano internacional dos seus meios e possibilidades de defesa, através da organização geral da nação para o tempo de guerra.
Todos os conceitos que outrora fazíamos da guerra se acham hoje ultrapassados.
Assim, ainda no século passado as guerras nos apareciam movidas por razões dinásticas ou territoriais, ao passo que no presente elas se nos oferecem com aspectos políticos, económicos e sociais.
Do mesmo modo podemos verificar que elas outrora eram feitas quase sem preparação, desencadeadas com morosidade excessiva e de duração bastante longa - e para exemplo bastará recordarmo-nos das nossas campanhas da Restauração, das Guerras dos Trinta Anos e dos Cem Anos, ou mesmo dos vinte anos das lutas napoleónicas.
Em contraste, a tendência das guerras contemporâneas é a de assumirem os aspectos duma preparação longa, a que hoje se chama e «guerra fria», seguida dum desencadeamento instantâneo, como um relâmpago, o qual se deve completar com uma acção brutalmente destruidora.
Este sistema tem em vista obter a solução da guerra, em curto prazo, através do aniquilamento fulminante de um dos contendores. Tanto os meios de luta -cada vez mais poderosos na sua capacidade de destruição - como a organização dos exércitos devem tender para a mais alta capacidade de esforço ofensivo, a fim de facilitar a teoria da guerra fulminante.
Do mesmo modo, a teoria para alcançar o êxito afirma que a guerra deve atingir todo o espaço e toda a organização da nação inimiga, de modo a, pela sua expansão total, minar e fazer ruir toda a estrutura da vida do país.

Em conclusão: a teoria da guerra moderna mostra que esta se apresenta fulminante no tempo e no espaço, o que quer dizer que será de deflagração instantânea, brutalmente destruidora, atingindo todos os sectores, todo o território e todos os meios da vida duma nação.
Com tal doutrina, compreende-se que um povo, para se defender duma guerra moderna, tenha de mobilizar todos os seus meios, e todos os seus recursos, tenha de prever e organizar a sua defesa em todos os sectores da sua actividade com o tempo e a antecedência necessários para que possa fazer face às surpresas e assegurar, ao menos, a sua sobrevivência ao primeiro embate.
A teoria moderna da defesa é, pois, a de que, se um povo sobrevive aos primeiros embates, ele terá em seguida possibilidades de resistir e de prover à sua resistência.
É evidente que, com tais conceitos, as antigas teorias de que «a guerra é para ser feita apenas pelos exércitos» ou mesmo a mais avançada de que «a guerra é para ser feita pela nação em armas» se acham largamente ultrapassadas.
A guerra atinge hoje todos os sectores da vida nacional, e por isso mesmo não é mais possível considerar qualquer território, qualquer organização ou qualquer pessoa como alheio aos perigos que ela importa ou às necessidades que ela impõe. Hoje, todos os meios, todas as actividades e todos os indivíduos, qualquer que seja s sua condição, idade ou sexo, quer queiram quer não, são combatentes e estão sujeitos aos mesmos perigos extremos, que fazem com que a vida se mantenha permanentemente vizinha da morte.
Com tal conceito da guerra, verdadeira guerra total, conduzida em todos os campos, não pode mais, como diz Moravec, suceder como outrora, em que o «político se orgulhava de não perceber nada de coisas militares,