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498 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 195

plena das necessidades materiais, de forma capaz de assegurar o bem-estar e o conforto compatíveis com a dignidade humana e com os preceitos da fé.
Não seriam os tempos de hoje que facilitariam, já não digo um retrocesso - que o termo seria impróprio -, mas uma mudança capaz de suprimir ambições ; muito conseguiremos se em futuro mais ou menos próximo chegarmos a levar a humanidade a reprimir aquelas que fundamentalmente contrariam a moral ou a justiça. Não julguemos, porém, ser fácil, ou natural sequer, tentar diminuir quantas estejam na lógica do nosso sentido humano e que até constituem, muitas vezes, formas de progresso e de civilização.
Que mal existe, de facto, no desejo de se querer melhorar dia a dia o nível da sua vida, de se desejar possuir também a média de prosperidade e de bem-estar que em vastos países do Mundo é corrente e acessível a uma pesada maioria dos agregados familiares?
Que crítica pode merecer o desejo dum chefe de família em querer obter para seus filhos possibilidades capazes de alimentação, de vida social e de educação, que vê acessíveis aos outros, quantas vezes com menos sacrifício de saúde e de trabalho ?
Se é possível a qualquer viver com dez, porque não há-de desejar viver com vinte, ou com trinta, ou mesmo mais, se da procura dessas possibilidades não resultar diminuição para os outros de as poderem ter também?
Parasse a ambição de um melhor nível de vida, parasse o desejo de obtenção de lucros ou de melhores proventos em retribuição justa de investimentos e trabalhos que interessam à economia e ao bem-estar de um país, e pararia o progresso, em prejuízo grave dos homens e das nações.
Temos de reconhecer, portanto, que quem deseja viver melhor num meio de vida melhor para todos, dando em contrapartida - e isto é essencial! - trabalho e serviços úteis à sociedade que integra, é unicamente alguém que invoca um direito próprio, património iniludível do seu próprio direito de existir.
Cada chefe de família que vive na preocupação de cumprir dignamente o dever que a própria organização social, aliás, lhe impõe sente-se, portanto, pelo que respeita à elevação do nível de vida, centro de polarização a política económica dos governos; por isso mesmo é um apreciador e um crítico severo dela, à base de uma avaliação de possibilidades e de realizações que nem sempre consegue objectivar.
E quanto mais dura é a vida que atravessa, quanto mais escasso é o seu poder de compra orçamental, tanto mais naturalmente exigente se encontra perante as remodelações por que anseia e tanto maior tendência tem para acreditar em novas formas que, muitas vezes capciosamente e sem passado que as acredite, lhe prometem melhoria de condições que acabe por julgar inatingível nas circunstâncias actuais.
Toda a restrição de possibilidades de melhoria do nível de vida, toda a austeridade imposta às possibilidades de maiores consumos e reforços orçamentais se podem acreditar em determinado momento pela razão de ser de um certo fim a atingir; e podem perdurar, então, durante largo tempo, enquanto pelo menos se sinta o seu alcance e os motivos que, na compreensão fácil de todos, justificam a sua manutenção.
Criar-se a impressão de que tudo se mantém, só pelo princípio, ou pelo hábito, de manter o que já está, não constitui orientação que sirva para interessar alguém que sofra, por via dessa manutenção, o sacrifício de satisfação de necessidades que as circunstâncias lhe impõem.
A situação actual tem trinta anos de realizações inegáveis, que temos de salvaguardar e que são capazes de marcar já na História uma época de recuperação e de dignidade; mas trinta anos é já um período demasiado longo para convencer aqueles que nasceram dentro dele -e não podem, portanto, ter memória para o passado - das responsabilidades que ao passado porventura caibam na situação presente e do esforço admirável que foi preciso fazer para chegar àquilo que ainda os choca tanto, por naturalmente não saberem nada desse triste passado que tanto chocou a nós. Diferentes, portanto, como já disse um dia, têm de ser as reacções daqueles que adquiriram consciência política no calmo e normal decorrer dos últimos anos, dado lhes faltarem marcos de referência observados num passado bem próximo que lhes permitam firmar, mediante comparações esclarecidas, críticas aos actos do Governo ou à orientação política que encontram para resolver os problemas que, para eles, são centro de preocupações e de ansiedades.
Junta-se-lhes o estado de natural impaciência daqueles para quem as dificuldades da vida, longe de se atenuarem com o tempo, mais parece que se agravam sem esperança; para todos, então, a melhoria que desejam num futuro próximo pode até apresentar-se como implícita consequência das alterações mais ou menos profundas que haveria que impor à política do presente.
De resto, tudo no Mundo se mostra tão inseguro e inconstante, tão intranquilo e tão imprevisível, que a maioria dos homens são levados, por natural incon-formismo, a dar foros de particular importância à vida do dia a dia; e de tal maneira e com uma tal intensidade que frequentemente ultrapassam, no desejo de se manterem materialmente, quaisquer preocupações de carácter doutrinário relativas a governos ou a regimes.
Podemos ter a certeza, assim, de que as condições materiais do País, no que respeita à consequência do seu ainda baixo nível de vida, são -sob o ponto de vista político- uma faca de dois gumes, visto tanto poderem servir para criar ambientes capazes de comprometer o interesse pela política actual, como para lhe dar motivos à sua continuidade e moldes semelhantes aqueles que permitiram o entusiasmo preciso para passar de uma arrancada sem programa a uma obra de restauro nacional.
De facto, se se firma, justa ou injustamente, no País a consciência de que se não quer encarar em novos moldes e duma forma mais viva a estruturação da nossa enconomia; se se assenta, convictamente, no princípio de que lentidões hesitantes, que notamos frequentemente, não deixam renovar processos que ontem foram preciosos como meios de atingir um fim (mas que hoje estão francamente ultrapassados, até porque os fins são outros); se se deixa firmar o sistema condenável de querer resolver os principais problemas económicos nacionais com burocracia a mais e coordenação a menos; se se teima em criar possibilidades restringindo consumos, em vez de os procurar alargar, para que as possibilidades aumentem; se se não sente um esforço revolucionário e entusiasta no aproveitamento coordenado de todas as possibilidades que a técnica e a ciência hoje nos oferecem e que podemos agora aproveitar, graças à estruturação financeira e política que o regime conseguiu, faltará no campo das realizações económicas do Governo aquela vitalidade e aquela presença que, interessando os homens, arrastam atrás de si as nações.
De facto, e como já tantas vezes tenho observado, uma política de austeridade nunca foi, só por si, fautora de riqueza, e a sua parte construtiva, o seu papel de real interesse residem exactamente no facto de ser a forma mais racional e mais segura de preparar o caminho para uma política de investimentos e de maiores consumos.
Perigo, e grave, haveria, portanto, em conceder-lhe o atributo ou dar-lhe a aparência dum fim, de modo