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10 DE DEZEMBRO DE 1959 111

lhante instituto universitário, que tão grande luzimento manteve durante dois séculos, e tal foi a sua projecção que ainda hoje, passados 200 anos, se vislumbram poderosos reflexos na cultura humanística europeia
Com o apoio da Universidade de Coimbra, em especial da Sociedade Internacional Francisco Suareis, com sede na referida Universidade, da Faculdade de Filosofia de Braga, da Embaixada de Espanha, do Instituto de Alta Cultura, de ilustres professores da Universidade de Coimbra e de instituições escolares locais se organizou a comissão executiva e se estabeleceu o programa das celebrações a efectuar.
Como espinha dorsal desse programa promoveu-se um congresso científico internacional, que se desenvolveu de 28 de Outubro a 1 de Novembro.
A esse congresso concorreram nacionais e estrangeiros, cerca de 200, avultando de entre estes, catedráticos e outras individualidades espanholas.
Houve delegações das Universidades de Salamanca, Valladolid, Madrid e Alcalá, Burgos, etc., da vizinha Espanha; de Paris, Montpellier, Bordéus, de França; de Louvaine, da Bélgica; Colónia, da Alemanha; da Suíça, Roma, Génova, da Itália; Insbruck, da Áustria.
Em especial relevo devo indicar a Universidade do Brasil, representada pelo seu magnífico reitor e grande amigo de Portugal, o Dr. Pedro Calmon, e que tanto brilho emprestou com a sua incisiva, inconfundível e extraordinária oratória as sessões a que presidiu, sessões de secção e muito vincadamente à sessão de encerramento do congresso.
E de justiça agradecer deste lugar a esse grande brasileiro as palavras de amor a Portugal, que sinceramente considera, admira e respeita como nobre antepassado da sua querida pátria, que ele tanto honra - o Brasil.
Daqui lhe manifesto também a gratidão da cidade de Évora pela sua honrosa presença naqueles breves e inesquecíveis dias festivos.
Para se aquilatar do valor cultural do congresso, basta indicar que foram 115 as comunicações publicadas em lista impressa, afora mais algumas que surgiram na ultima hora.
Essas comunicações versaram os mais variados temas relacionados com a vida e projecção da Universidade de Évora durante os dois séculos da sua brilhante existência.
Funcionaram quatro secções, em cujas sessões as comunicações foram apiedadas com. interesse e elevação.
No decurso do congresso proporcionaram-se aos visitantes digressões a Monsaraz, histórica vila acastelada, de cunho medieval, e a Vila Viçosa, a convite da Fundação da Casa de Bragança, com brilhantíssima sessão solene na Sala dos Duques do Palácio-Museu.
Culminaram as celebrações com a visita a Evora do Sr Presidente da República e dos Srs. Ministros do Interior e da Educação Nacional e outras entidades, o que movimentou animadamente a cidade, com as multidões, que ovacionaram com todo o entusiasmo a veneranda figura do Chefe do Estado.
Merecem referência especial, pelo relevo e brilho que alcançaram, as cerimónias fundamentais, que foram o cortejo litúrgico-académico da Sé para a Igreja do Espírito Santo, o pontifical nesta formosíssima igreja, acabada de restaurar, e a sessão soleníssima comemorativa do 4.º centenário da fundação da Universidade de Évora.
Não posso deixar de destacar o cortejo académico, que atrás apontei, extraordinário pelo seu brilho e singularidade.
Estou convencido de que nunca em Portugal, em qualquer época, se realizou a conjunção de tantos catedráticos de tão numerosas faculdades, cerca de 75 nacionais e estrangeiras, com muitos dos respectivos reitores, exibindo solene e galhardamente os luzidos trajes e insígnias das suas dignidades professorais e académicas. Não sei mesmo se alguma vez no estrangeiro tal cortejo foi possível de organizar.
Ora, Sr. Presidente, toda esta celeuma cultural e política teve as suas causas e visou finalidade definida e marcante.
As causas estão expressas na designação do Congresso Comemorativo do 4.º Centenário da Fundação da Universidade de Évora.
A finalidade é óbvio que se centraliza na justa ambição da cidade de Évora de ver alfim restaurados estudos universitários na capital transtagana.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se não for possível fazer ressurgir a Universidade, extinta há dois séculos, pelo menos que se institua um centro de altos estudos clássicos, sociais e técnicos, consoante votos do Conselho Municipal e da respectiva Câmara.
Dado o enorme afluxo de estudantes às escolas de todos os graus de ensino, surto feliz da época de renovação e de progresso que atravessamos e que toda a Nação deseja intensificar por todos os meios que o Governo de Salazar tem posto ao alcance, óbvio e lógico é que a grande zona do País ao sul do Tejo possa vir a ter, dentro de breve prazo, os recursos culturais que transcendem as actuais possibilidades liceais e técnicas secundárias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ao Governo solicito o estudo do problema, que implicitamente foi posto em Évora pelas celebrações centenárias da Universidade de Évora
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr Simeão Pinto de Mesquita: - Sr. Presidente: quereria ser tão concisa nestas palavras, mas tão pungente como o foi o naufrágio nocturno em que, frente às praias do Porto, acabam de se perder, com o rebocador Marialva e as duas fragatas comboiadas, dezassete preciosas vidas de trabalhadores do mar
Mais um dia de negro luto para a marinharia portuguesa !
Desastre bem no estilo desta época de chamada civilização técnica em que vivemos, era dos aviões, do atomismo, das barragens e suas rupturas ... Bem dentro até, esteticamente, da era presente de arte abstracta o abrupto perpendicular do sinistro no tempo e no espaço!
Nem para a memória dos náufragos será provável a compensação de lhes poder vir a ser dedicado capítulo novo aditado à história trágico-marítima, onde piedosa e barrocamente sejam descritos os sucessivos transes do desastre, com as ondas alternativas de esperança e de desespero Não houve sobreviventes, nem sequer testemunhas. Ao fundo, na praia, só o friso lastimoso das viúvas, mães e filhos, alimentam, passivos ou increpantes, a esperança desenganada da recuperação dos corpos.
Perdoe-me esta Assembleia não ter sido tão abrupto, impressivo e rápido como desejava.