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22 DE FEVEREIRO DE 1961 457

assim identificar o recto procedimento de quem decide e dar vida ao dignificante gosto pelo culto das responsabilidades, impedindo que elas se diluam e enjeitem. Dizer ao fim e ao cabo como Pilatos quando, após o julgamento de Jesus, pediu água e lavou as mãos em frente do povo: «Estou inocente do sangue deste justo; a vós pertence toda a responsabilidade», é argumento que pode impressionar multidões, mas que não convence os esclarecidos nem absolve dos feios pecados da injustiça e da ingratidão.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Sr. Presidente: apenas algumas palavras. Depois da oração formosíssima, emocionante e sentida que ouvimos pronunciar, no momento próprio, pelo Dr. José Manuel da Costa em homenagem à memória do piloto Nascimento Costa e depois das brilhantes e expressivas palavras do Eng.° Camilo de Mendonça dedicadas também aos que em Angola perderam a vida em defesa da ordem pública e da integridade do Império, e ainda após a palavra autorizada e expressiva do general Cota de Morais, que acabamos de ouvir, o que eu acrescentasse, mediante a minha palavra simples e descolorida, só vinha empanar «grandeza e o significado da consagração da Assembleia Nacional, da qual, além de V. Ex.ª, aqueles ilustres Deputados foram intérpretes.
Por isso, e crente de que vão também ser galardoados os que a morte poupou, mas derramaram o seu sangue ou mais se evidenciaram na resistência contra os aventureiros, apenas quero sugerir que na sua terra natal também tenham sepultura assinalada com epitáfio condigno os que em Angola perderam a vida em defesa da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, relacionado ainda com os acontecimentos que na última semana tiveram o seu epílogo, deu-se um outro, inesperado, que, pela importância que revestiu e pelo seu transcendente, significado, merece ser referido e ficar assinalado nos anais da Assembleia Nacional.
Dominando a fadiga do trabalho e das vigílias, sobrepondo-se aos cuidados e dificuldades de toda a espécie que o prendem em cada dia, em cada hora e em cada instante, ao peso das responsabilidades, às contrariedades sem número e também, às desilusões, quebrando o ritmo de uma vida retraída de asceta, toda e sempre absorvida no pensamento e na acção postos ao serviço da Pátria, Salazar altera naquele dia todos, os seus hábitos e, contrariando os impulsos do temperamento, exponde a vida ao cansaço e à emoção, enfrenta todos os riscos, tudo despreza, e abandona o posto onde concentra toda a sua existência e actividade, verdadeiro observatório do Mundo, donde, com notável clarividência, contempla e medita e segue as suas convulsões, estuda os seus problemas e profetiza soluções que, tantas vezes, têm sido realidades, Salazar, dizia eu, surge de surpresa e, qual homem da rua, misturasse, confunde-se na multidão, e confiante, indefeso, sem guarda que sequer lhe facilitasse o acesso, caminha, com dificuldade, entre aclamações.
Abraçado, quase esmagado pela massa incontável e incontível do povo, onde encontra o orgulho da sua ascendência, alcança finalmente o único destino que o levara: rezar junto do corpo do herói e saudar a tripulação do Santa Maria, sem distinguir entre brancos e negros, entre postos ou cargos, desde o comandante ao mais humilde subordinado, e ser junto deles o intérprete da alma nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em seguida sai como entrara, em apoteose simultaneamente de gratidão e desagravo, depois de deixar assinalada com mais uma pedra branca a sua gloriosa carreira pública, mediante uma exemplar lição de civismo, que para sempre há-de perdurar nos espíritos e sensibilizar os corações dos Portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sim, o nobilíssimo gesto de Salazar há-de ter sensibilizado profundamente o País inteiro, e eu, como um dos seus representantes e porque, como todos vós, sou acima de tudo português, saúdo-o respeitosa, grata e entusiàsticamente e confio em que Deus por largos anos há-de mantê-lo ainda como símbolo e penhor da integridade, da independência e da unidade da minha Pátria.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Franco Falcão: - Sr. Presidente: muito se tem falado e escrito sobre lavoura.
Muitos são os jornais, as revistas e as publicações da, mais variada espécie que se dedicam, com maior ou menor autoridade, com mais ou menos conhecimentos técnicos e económicos, aos apaixonantes problemas agrários.
Diz-se até que a agricultura está em foco ...
Efectivamente assim será! ...
Trata-se, no entanto, de um foco sem reflector ... Uma luz que se vai pouco a pouco amortecendo e que é preciso não deixar apagar.

O Sr. Augusto Simões: - Muito bem!

O Orador: - Isto porque quase metade dos Portugueses vivem ainda hoje da exploração da terra, e é na terra que nascem, se desenvolvem e frutificam os produtos indispensáveis à alimentação.
Sem a existência de grande número de espécies agrícolas, não seria possível o funcionamento de certas modalidades industriais.
Não seria ainda possível a manutenção da máquina humana, nem tão-pouco a prática de homenagens gastronómicas, tanto em voga, onde aparecem as mais finas e saborosas iguarias, que muitos, na volúpia de uma fácil vida mundana, esquecem ou ignoram que, na sua quase totalidade, são o fruto do labor, das canseiras e, por vezes, de tantas desilusões daqueles que trabalham e lutam na dura arte de cultivar a terra.
As péssimas condições climatéricas, a deficiente cotação dos produtos, o crescente aumento do custo da mão-de-obra e a carestia de tudo o que o lavrador tem de comprar para fazer face às exigências de novas formas de exploração para que não estava preparado trouxeram a incerteza, o desânimo e a angústia à lavoura portuguesa.
A agricultura é hoje não só a «arte de empobrecer alegremente», mas também a arte de tudo poder perder-se, não apenas no domínio da produtividade, mas ainda na alucinação de falsas e perigosas construções de aliciantes tecnicismos político-económicos e de dissolventes sociologias.