O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

22 DE FEVEREIRO DE 1961 459

cularmente o regadio da campina de Idanha-a-Nova, que constitui o objectivo e o propósito desta intervenção.
A obra em referência, que custou mais de 130 000 contos, é constituída pela elegante Barragem do Marechal Carmona e por uma rede de rega com a área de cerca de 8000 ha.
Esta área não tem sido totalmente utilizada em regime de regadio com bons resultados, nem poderá certamente vir a sê-lo, por virtude de nós trabalhos preliminares de concepção da obra não terem sido organizados os convenientes e aturados estudos topográficos, geológicos e agronómicos, absolutamente indispensáveis ao bom êxito do empreendimento.

O Sr. Pinto de Mesquita: - E até estudos jurídicos.

O Orador: - Tem V. Ex.ª razão. Com efeito, grande volume de capitais foi investido, acalentadoras perspectivas de desenvolvimento agro-pecuário foram sonhadas, e, no entanto, tendo sido a obra de rega da campina entregue à associação de regantes por auto de 19 de Abril de 1952, continua ali a pairar a mais completa desorientação, mormente no que se refere ao útil aproveitamento da água, aos métodos de técnicas culturais e à determinação das espécies mais adequadas a uma mais equilibrada rentabilidade.
A área regada, anualmente não excedeu ainda os 4000 ha, pelo que os objectivos que se pretendia atingir com a realização da obra estão longe de serem alcançados.
Os capitais investidos no regadio nunca poderão ser devidamente compensados, se este continuar entregue aos seus próprios destinos e não lhe fôr dispensada toda a assistência técnica agronómica e financeira por que espera ansiosamente para poder prestar a prevista e desejada função útil.
Torna-se necessário e urgente elaborar plano» que estabeleçam para cada tipo de terra as culturas técnica e economicamente mais aconselháveis, atendendo a que os 8000 ha da campina apresentam características agro-lógicas diferentes, pois foram inicialmente consideradas terras de primeira classe 426 ha, terras de segunda classe 1037 ha e terras de terceira classe 6537 ha.
Este quadro, suficientemente elucidativo, indica que grande parte da campina da Idanha é constituída por terras fracas, delgadas e declivosas, onde a água da rega, em vez de produzir qualquer benefício, apenas arrasta consigo terras e fertilizantes, agravando deste modo o fenómeno da erosão e tornando ainda anais pobres e magras as terras regada.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - Para obviar a este inconveniente, os proprietários estão a plantar em certas áreas regadas espécies florestais, pelo que é legítimo perguntar se para regar eucaliptos valeria a pena investir tão volumosos capitais ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso não parece aconselhável a realização de novos regadios, enquanto os existentes não estiverem a produzir todos os resultados que justifiquem os pesados encargos e os duros sacrifícios financeiros exigidos pelas grandes obras de hidráulica agrícola.
Não sou contra o regadio.
Considero que a água è elemento indispensável à existência e desenvolvimento de todos os seres vivos.
Simplesmente, entendo que para o bom sucesso das obras de rega se devem elaborar rigorosas plantas de solos e fazer reflectidos estudos prévios acerca das condições climáticas, agrológicas e de exploração, pois que com tais empreendimentos se alagam grandes extensões de terras e submergem por vezes muitos lares e até povoações com a construção das albufeiras, se perdem muitos terrenos com canais, condutas e edificações ë se ferem, em suma, interesses e arriscam capitais que interessa acautelar.

O Sr. Pinto de Mesquita: - E ressuscitar a enfiteuse, embora sob forma moderna.

O Orador: - Tudo depende do arranjo jurídico que se fizer. No regadio da campina da Idanha, tudo caminha praticamente às cegas, pois ainda se não saiu da clássica sementeira do milho e das tradicionais culturas de sequeiro.
Efectivamente, as culturas que predominam na zona beneficiada são as seguintes:

Culturas regadas:

Hectares
Milho ........ 3 000
Méloal e melancial ... 250
Horta ....... 120
Forragens ..... 260
Batata ....... 20
Diversas culturas.... 100

Culturas de sequeiro:

Trigo ......... 1 800
Centeio ........ 140
Aveia .......... 120
Cevava .......... 30
Forragens ....... 70

Existem ainda na zona beneficiada cerca de 95 ha ocupados de vinha, e em 1959, data a que se reportam estes elementos, 40 há-de viveiros florestais.
A área ocupada por estes viveiros foi recentemente aumentada em mais de 300 ha, devendo anotar-se que se auguram os melhores resultados para o posto dos serviços florestais ali instalado há cerca de quatro anos, embora não seja possível desde já tirar conclusões válidas para a maior parte das terras da zona dominada.
Aproximadamente 1200 ha ficam anualmente na campina em regime de pousio, por virtude de afolhamentos e sistemas de rotações em que as técnicas se mostram bastante antiquadas, não só devido à falta de oportunos e úteis ensinamentos, mas ainda pela impossibilidade de adaptação ao regadio de uma parte apreciável da área regada.
A sacarina, o tabaco, as culturas têxteis e núcleos de gado bovino, leiteiro e de engorda, juntamente com a instalação de uma central de lacticínios, estou certo de que seriam soluções que em grande escala contribuiriam para um melhor rendimento daquela zona, aumentando assim as riquezas da região e tornando mais compensador o trabalho insano do proprietário regante.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - Por outro lado, verifica-se que, por falta de uma apropriada disciplina nos métodos de aproveitamento do regadio, se insiste em plantar oliveiras, condenadas ao malogro por excesso de humidade, quando deveria promover-se a plantação de frondosos pomares, principalmente de citrinos, que naquela área encontram excepcionais condições de fertilidade e qualidade.