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822 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 214

Também II já lia muito que chamo a atenção do Governo sol ire a necessidade de se encarar frontalmemte o problema das Faculdades de Ciências. Salvo erro, levantei-o pela primeira vez nesta Assembleia em 1954. Nessa altura destaquei particularmente que o estudo da Física nas lassas Faculdades continuava a ser feito como há perto de 50 anos. Hoje, e já se passaram 7 anos sobro 19c4, continua .tudo na mesma.

Apontei então que o progresso e desenvolvimento da Física nos últimos 50 anos foi de tal natureza que só &e pode comparar em extensão e profundidade com aquele que se operou entre os fins do século XVI e o limiar do século XX. Se a essa 1.ª fase, relativamente lenta, de desenvolvimento da Física correspondeu no século XIX uma ampla e brusca expansão económica originada pelo surto industrial, hoje estamos a sentir as consequências, muito mais acentuadas ainda, do desenvolvimento da Física operado nestes últimos 50 anos.

A actual revolução industrial em que o Mundo se encontra envolvido, pela sua amplidão e natureza, não só necessita de muitos mais técnicos de nível superior, mas também, e é aqui principalmente que reside a grande diferença, eles deverão possuir uma preparação científica muito mais profunda.

A transformação operada no actual século pelo desenvolvimento da ciência não se limita ao sector industrial, estude-se pelos mais variados domínios. Por isso, para assegurar com êxito a expansão económica do mundo de hoje já não bastam os engenheiros das diferentes especialidades, a eles teremos de acrescentar os físicos, os matemáticos, os químicos, os geólogos, os biólogos, etc.

Estes técnicos de grau superior deverão possuir uma solidíssima preparação de base correspondente à respectiva especialidade e deverão ter capacidade potencial suficiente para se poderem especializar em sectores restritos. Deverão ter um espírito sempre aberto, capaz de, sem grande esforço, poder substituir ideias feitas por outras novas totalmente diferentes. Em suma, deverão possuir um grande poder de adaptação.

Parece-me .ser esta uma das características mais notáveis que deverá distinguir os técnicos de hoje. Tambem será necessário que a maior parte deles tenha profundos conhecimentos matemáticos, aliados, evidentemente, a uma inteligência superior.

Resumindo: o actual técnico de grau superior deverá ser dotado de qualidades natas excepcionais, das quais destaco: inteligência viva e profunda, grande poder de adaptação, grande capacidade de trabalho, curiosidade permanente, seriedade e forte disciplina social e mental. Por isso, na época actual, cada vez se tornará mais difícil conseguir em número suficiente os técnicos de grau superior capazes de manter o actual padrão de desenvolvimento económico dos países altamente industrializados.

Para evitar que eles rareiem, necessário se torna não perder unia só criança que, potencialmente, tenha as qualidades natas para se poder transformar pela educação ou num físico, ou num químico, ou num matemático, etc.

O Sr. Virgílio Cruz: - Muito bem !

O Orador: - Impõe-se, por isso, que desde os bancos da escola primária se esteja atento para se poderem descobrir as crianças de qualidades excepcionais. Com bolsas de estudo se deverão estas encaminhar para o ensino secundário e daí, se as esperanças nelas depositadas se não desvanecerem, deverão ingressar, também com bolsas de estudo, no ensino superior.

Em tolos os graus de ensino as escolas deverão estar sempre atentas, pois quantas vezes o desabrochar das

qualidades do aluno só tarde se manifesta. Quando um adolescente no ensino secundário evidenciar qualidades fora do vulgar, deverá ser solicitamente acompanhado de forma a que se não venha a perder a eventualidade de se obter um bom técnico. No ensino superior maior deverá ser ainda a atenção prestada aos alunos excepcionais. Subsídios, bolsas de estudo, viagens ao nosso ultramar, etc., lhes deverão ser concedidas.

Este esboço de um plano de aproveitamento dos mais capazes para assim se poder assegurar o desenvolvimento económico de um país implica evidentemente escolas suficientes e em número suficiente. Nas considerações que a seguir vou fazer limitar-me-ei ao ensino superior, e, dentro dele, muito particularmente ao ensino ministrado nas Faculdades de Ciências.

Na minha primeira intervenção sobre este assunto, em 1954, apontei a necessidade de uma reforma profunda do plano de estudos das Faculdades de Ciências. Como infelizmente nada ainda se fez nesse sentido, hoje, passados sete anos, mais fortemente ela se impõe, não só pelo avanço da ciência operado neste último período ser notável, mas muito principalmente por nos encontrarmos empenhados num intenso desenvolvimento económico, através do II Plano de Fomento. Ora, como muito bem disse a ilustre Deputada Sr.ª D. Maria Irene Leite da Costa, sem matemáticos, físicos, químicos, biólogos e geólogos dificilmente dos referidos planos se poderá tirar bom rendimento. Aproveito o ensejo para a felicitar por, com tanto brilho e clareza, se ter referido na sua última intervenção ao cruciante problema das Faculdades de Ciências.

Como é do conhecimento público, foi nomeada há cerca de dois anos uma comissão para o estudo da reforma do plano de estudos das referidas Faculdades. A comissão concluiu, há perto de um ano, segundo consta, os seus trabalhos, e até hoje a reforma ainda não foi promulgada. E evidente que há qualquer coisa que emperrou e que impede que a reforma venha a lume. Toma-se, por isso, necessário remover o obstáculo.

Bem sei, infelizmente, que as actuais condições em que nos encontramos - por termos de fazer frente com armas e soldados aos inimigos da Pátria, acarinhados pela perturbadora e criminosa organização intitulada O. N.º U. - não são muito propícias a reformas que impliquem avultados dispêndios. No entanto, destaco que o aumento de despesa que porventura resultar da referida reforma se pode considerar como uma despesa do tipo das despesa» com o Plano de Fomento actualmente em curso. E até se pode considerar como um meio de assegurar a eficiência do referido Plano.

Por isso, mais uma vez chamo a atenção do Governo sobre a necessidade da reforma do plano de estudos das Faculdades de Ciências.

Outro ponto que desejo destacar é o problema das instalações da Faculdade de Ciências de Lisboa.

Como já disse em várias intervenções, distribuídas ao longo dos oito e consecutivos anos que aqui me encontro, urge instalar a Faculdade em novos edifícios. Para dar uma ideia da necessidade de novas instalações aponto, a título demonstrativo, a evolução da população escolar desde o ano de 1920-1921. Nesse ano u população escolar era de 371 alunos; dez anos depois, em 1930-1931, passaram a 7.24; em 1940-1941 já atingia 1200; passados mais dez anos atinge 1621, e, finalmente, em 1959-1960 temos 2275. Nestes números estão incluídos todos os alunos que frequentam a Faculdade de Ciências.

Da sua observação fácil será ajuizar das deficiências das actuais instalações.