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13 DE DEZEMBRO DE 1962 1543

par ... a químicos, a físicos, a matemáticos c a outros biologistas» (22).
Se hoje é assim nos sectores laboratoriais e de investigação, muito mais o é no vasto campo da saúde pública. Os trabalhos de saneamento exigem a presença de engenheiros e arquitectos e a apreciação de grande soma de resultados não pode ser feita com rigor sem o concurso de estaticistas.
Em nenhum outro ramo da medicina como no da saúde pública se exige no campo da aplicação prática o concurso de tantos profissionais. O estudo e a resolução de um problema reclama, por vezes, a intervenção, além dos médicos sanitaristas e dos profissionais atrás referidos, ainda a intervenção de veterinários, de enfermeiros e de técnicos de saneamento. Podem ainda os serviços de saúde pedir a colaboração de outras pessoas, tais como, no capítulo da educação sanitária das populações, párocos e professores.
Não é fácil executar eficientemente um bom trabalho de grupo em saúde pública entre profissionais de tão diversa formação. Torna-se necessário fomentar a colaboração destes profissionais; a Organização Mundial da Saúde tem-se esforçado bastante nesse sentido, sendo, por isso, o ensino de grupo nas escolas de saúde pública um dos métodos mais aconselhados por aquela Organização.
No conjunto dos profissionais que constituem os grupos de saúde pública o médico continua a ocupar a posição-chave. «É o médico sanitarista que deve assegurar a administração geral dos programas sanitários porque é dele que depende a unidade de concepção e de execução. Sòmente o médico está apto a abarcar muitas das fases de desenvolvimento de um programa sanitário ...» (23).
Compreende-se, portanto, que a tarefa principal de uma escola de saúde pública seja a formação de médicos sanitaristas.

§ 5.º A educação sanitária das populações

14. Não podíamos deixar de nos referir, embora ao de leve, a um assunto de tal importância. Na realidade, as medidas sanitárias, por melhor estudadas que tenham sido, podem resultar em fracassos se a educação das populações não for levada a efeito. «O nosso trabalho duplicará, mas sem isso todos os nossos esforços para ajudar os doentes arriscam-se a ser vãos» (MacCalman) (24).
A educação sanitária diz respeito a um conjunto de métodos e de processos destinados a incitar o público a conservar e a melhorar a sua saúde.
Os métodos empregados para atingir esta finalidade fazem hoje parte de uma verdadeira técnica educadora especializada e que se traduz em actos que, devendo ser persuasivos, terão de ser ao mesmo tempo simples. É aqui que reside uma das dificuldades.
Para a elaboração de um programa de educação sanitária exige-se no cimo da pirâmide grande soma de conhecimentos, entre outros, de medicina preventiva e social, de pedagogia, psicologia demográfica, etnografia e sociologia geral e regional. Na realidade, tal como se diz no «1.º relatório da comissão de peritos de educação sanitária das populações» (Organização Mundial da Saúde n.º 89, 1904), «a acção educativa deve repousar em bases cientificamente seguras e ter em conta o comportamento e as concepções dos indivíduos a quem se dirige. Há um conjunto de factores que diferem segundo as condições sociais, económicas e culturais dos países ... Somente após um estudo aprofundado da população, das suas maneiras de agir, dos seus centros de interesse, crenças, concepções morais, aspirações, necessidades e recursos - se poderá concretizar um programa de educação sanitária ...». Vem depois a tarefa de transmitir este programa a quem o irá executar e, finalmente, a da sua execução.
Em que profissão iremos escolher os técnicos para a educação sanitária? P. Dorolle, na sessão de abertura da 5.a Assembleia Mundial de Saúde (p. 3 do relatório atrás citado), afirma que «a educação sanitária ... requer a participação de todos os técnicos de saúde, de combinação de múltiplas organizações, agrupamentos e particulares». Jules Gilbert (25) tem a opinião de que a tarefa de contacto com as populações deve incumbir sobretudo às enfermeiras visitadoras. Mas compreende-se e aceita-se que em diversos países se tenha de interpor «educadores sanitários auxiliares».
No relatório da Organização Mundial da Saúde atrás citado fala-se já da necessidade da formação especializada de «técnicos em educação sanitária» e no «Relatório de peritos da formação a dar ao pessoal de saúde em matéria de educação sanitária da população» (Organização Mundial da Saúde n.º 156, 1958) estabelecem-se já as tarefas a atribuir a tais técnicos.
John Burton (26) pensa que certamente há lugar para um especialista nesta matéria, mas julga que por enquanto, pelo menos para a Europa, apenas médicos e enfermeiras de saúde pública devem ser preparados neste sentido. Quanto a estas últimas, quando trabalham na comunidade, a educação sanitária é uma das suas principais tarefas (27).

15. A acção do educador sanitário tem extensão muito variável: por vezes dirige-se a uma só pessoa, outras vezes a agrupamentos mais ou menos homogéneos, como as famílias, ou a agrupamentos heterogéneos. G. Mialaret (28) refere-se a vários tipos de agrupamentos com os quais o educador sanitário tem de contactar, entre eles os grupos heterogéneos, aos quais o educador se deve dirigir por intermédio de palestras simples, empregando termos simples, fazendo passar filmes ou usando outros métodos audiovisuais. Os grupos mais receptivos são aqueles cujos componentes já estão habilitados a colaborar para determinado ou determinados fins; uma finalidade comum empresta a coerência ao grupo. O agrupamento, no dizer de Mialaret, tem uma «moral». Então o educador sanitário atinge mais fàcilmente o indivíduo por intermédio do grupo.
A conduta adoptada pelo educador perante os indivíduos isolados ou perante um grupo é diversa; no entanto a finalidade é a mesma: fazer-se compreender e depois convencer. O educador sanitário tem pois de receber uma educação em psicopedagogia individual e de grupo. Compreende-se, no entanto, como devem ser de difícil resolu-

(22) «A posição de anatomia (patológica em face dos modernos meios de investigação morfológica», J. da Silva Horta. Semana Médica n.º 43, 1960. Acerca do trabalho de grupo, ver, do mesmo autor, «Defesa de uma carreira de investigação científica na medicina portuguesa». Semana Médica n.º 82, 1960.
(23) A propósito de médico «chefe de equipa sanitária» ler as pp. 198 e 199 do livro de Grundy e Mackintosh, já várias vezes citado neste parecer.
(24) Cit. por John Burton, Deuxième Conférence Européenne sur l'Education Sanitaire de la Population, Organização Mundial da Saúde, Copenhaga, 1958.
(25) Education sanitaire, Masson, Paris, 1959.
(26) Veja-se nota n.º 24.
(27) Veja-se Magda Kelber (Conferência de Copenhaga, nota n.º 24).
(28) Na mesma Conferência citada acima.