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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 66 1756

Vale a pena, embora muito resumidamente, dizer algo acerca das tentativas feitas para resolver o problema do porto e barra ao longo deste período. Omito propositadamente os aspectos técnicos das soluções propostas, para me cingir quase exclusivamente à enumeração tias comissões e dos projectos. Poupo à Câmara a citação dos molhes, dos diques, dos paredões, dos cais, dos canais, etc., que destes constam.

O primeiro relatório e projecto de que tenho notícia (através da tese apresentada em Aveiro no 3.º Congresso Regional das Beiras pelo Dr. José Maria Cardoso) foi elaborado pela Inspecção-Geral de Obras Públicas em Maio de 1837.

Era um plano de obras elementar, constituído por uma barragem na origem do braço sul do Mondego, no Pontão, um paredão em frente de Figueira da Foz, partindo da Murraceira, e o unis na margem direita até ao forte. Propôs-se realizá-lo o conde de Farrobo, associado a um brasileiro e com a assistência técnica primeiro de um e depois de outro engenheiro francês.

O contrato foi aprovado em 9 de Fevereiro de 1343, ficando a empresa com o direito de receber, durante 30 anos, l por cento do valor da importação e da exportação pela barra de Figueira da Foz, 10 por cento do produto bruto do rendimento da alfândega e 50 réis por tonelada de todos os navios que entrassem no porto. O Estado comprometia-se também a fornecer-lhe das suas matas todas, as madeiras, necessárias para a construção e conservação das obras.

Duraram as obras e o contrato pouco mais de sete anos. Durante elas, os primeiras vistorias técnicas (a do inspector-geral Luís Mouzinho, autor do projecto, e a do Dr. Agostinho de Almeida) deram origem a dois relatórios laudatórios; mas as reclamações surgiram, e pouco depois uma nova vistoria, do visconde da Luz, declarava em estado deplorável a barra, com banco de areia a meio do rio e dois pequenos canais laterais, e aconselhava a realização de dragagens.

O agravamento continuava e nova vistoria se fez em 1850. O relatório declarava a barra como antes das obras - sete meses má e cinco meses boa- e que a empresa havia recebido seis vezes mais do que tinha gasto. Foi, por isso, rescindido o contrato. De 1852 a 1857 uma comissão, presidida pelo engenheiro Silva, fez estudos e elaborou novo projecto, que recebeu parecer do engenheiro John Rennie, o qual lhe introduziu algumas alterações, mas não chegou a executar-se.

O que teve de fazer-se em 1857, por força das circunstâncias, foi tapar a comunicação do mar com o rio de Lavos, já entoo estabelecida. Lá se conseguiu pôr um dique a restabelecer novamente a barra ao norte.

De 1863 a 1888 vários engenheiros e várias comissões fórum encarregadas de fazer estudos ou de realizar obras, sem grande resultado.

Foi nesta altura que foi nomeada uma comissão de três engenheiros, de que fazia parte Adolfo Loureiro, para proceder a elaboração do projecto geral definitivo para a conclusão das obras.

Das alterações propostas resultou novo projecto, de que "foi incumbido o engenheiro Leonardo Castro Freire, que o apresentou em 30 de Julho de 1889, com o respectivo caderno de encargos, trabalho que pode classificar-se de modelar", diz o Dr. José Maria Cardoso.

Também não foi executado o plano.

As coisas foram-se agravando, e em 1903 a barra podia considerar-se fechada. Pois bem, o bairrismo da Figueira ião deixou abater o ânimo dos figueirenses, que saltaram para o cabeço da barra e à pá e à enxada abriram a barra para a entrada do mar e para a entrada do barco.

Pequenos arranjos, novas cheias, que varriam parte da areia, lá iam entretendo a barra e mantendo o ânimo e a fé dos figueirenses.

Em 1911 apresentou Adolfo Loureiro um anteprojecto, com uma estimativa de 360 contos. O concurso mandado abrir pelo Governo para apresentação de projectos ficou deserto. Por virtude disso foram encarregados os engenheiros Lucena e Ruas, dos serviços fluviais e marítimos, de elaborar o projecto. Fizeram um novo anteprojecto.

O Conselho Superior de Obras Públicas aprovou-o em parte e propôs alterações nalgumas obras previstas.

De acordo com aquele parecer, elaborou o engenheiro Buas um projecto das obras mais urgentes. Novas alterações do Conselho Superior de Obras Públicas e o agravamento dos preços dos jornais e dos materiais levaram à execução de novo projecto, que se concluiu em 12 de Abril de 1919, e que foi aprovado pelo Governo. Nem sequer começou a executar-se!

A este respeito diz-se na tese que já citei:

Continuando o engenheiro Henrique Buas as suas observações, já então como director das obras, a cargo da Junta Autónoma, foi levado a propor importantes modificações ao projecto aprovado, que, em seu entender, não podia produzir tão apreciáveis efeitos como desejava desde que se não efectuassem importantes trabalhos para melhoramento do Mondego, entre os quais a arborização das vertentes da bacia hidrográfica, para diminuir os assoreamentos. E como este melhoramento só muito lentamente e com o dispêndio de importantes verbas podia conseguir-se, aquele engenheiro, partindo do princípio de que tinha de contar apenas com a bacia de marés tal como se encontrava e reconhecendo a conveniência de deslocação para montante da confluência dos dois braços do Mondego, apresentou um plano geral de melhoramentos do porto em 20 de Abril de 1924, o qual essencialmente consistia na redução de 200 m de largura da entrada do porto e na deslocação daquela confluência para montante, construindo-se novo dique em curva, em substituição do paredão de entrebocas. Nesse plano delineava-se também um porto comercial na Murraceira, com capacidade para fazer face ao movimento de 1 500 0001. Submetido esse novo plano à apreciação do Conselho Superior de Obras Públicas, foi esse de parecer que deviam fazer-se dragagens intensas para aumentar a capacidade da bacia das marés.

Está bem de ver que estas dragagens foram um expediente que procurava ocultar a impossibilidade técnica e financeira da situação política de então.

Nem por isso deixou de manifestar-se exuberantemente o entusiasmo e a confiança das gentes da Figueira!

E nem vale a pena contar o que foi a chegada da draga! ...

Começaram as dragagens sem qualquer plano e, por isso, terminaram u breve trecho. Elaborou depois o engenheiro Ruas (1927) um plano de dragagens compreendendo obras acessórias destinadas a fixar os aterros, e a executar em duas etapas, a primeira calculada em 20 000 contos e a segunda em 12 000 contos.

Ao longo de todo este período, em que se inutilizou quase completamente aquele porto e se comprometeu extraordinariamente o desenvolvimento comercial e industrial de uma cidade e de uma extensa região que àquele