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9 DE JANEIRO DE 1963 1753

turas de plantas de curto ciclo vegetativo e pouco remuneradoras e as cheias precoces de Setembro podem fazer perder quase tudo, ou mesmo tudo, que ali se semeou. Km 1960 os prejuízos de uma cheia destas foram avaliados pela Federação dos Grémios da Lavoura da Beira Litoral em 77 000 contos, como já disse.

E quanto valem os nateiros depositados sobre os 14 930 ha do baixo Mondego que provêm dos 495 000 ha da bacia superior do rio ou dos 670 000 ha de toda a bacia hidrográfica? São os beneficies que eles trazem a esta parcela da bacia hidrográfica compensadores dos prejuízos que lhe são causados pelas cheias? Devemos continuar agarrados às concepções arcaicas da fertilização do vale do Nilo? Convém continuarmos atidos à fertilização das terras que resulta da deposição desses materiais em suspensão, ou devemos recorrer aos fertilizantes que a moderna indústria põe à disposição da lavoura para uma adubação racionalmente estabelecida e para arrancar da terra cada vez maiores rendimentos por unidade de superfície?

Estudos feitos na Europa, na América do Norte e no Egipto levaram ao conhecimento dos valores sólidos carreados pelos rios durante as médias e as grande" cheias, valores estes muito variáveis de rio para rio, conforme as características da sua bacia hidrográfica e a sua composição geológica.

A Junta Autónoma de Hidráulica Agrícola estudou os do vale do Mondego, que, para o efeito, foi comparado ao Colorado, da América do Norte.

E. Risher e G. Wery dizem no seu livro Riegos (1981): "A não ser casos excepcionais, como nos depósitos do Nilo, que, se não suo os mais ricos, contam-se entre eles, não podemos dizer que os nateiros, de uma maneira geral, sejam capazes de enriquecer as terras, pois, como se verifica pelos dados atrás apresentados (refere-se a quadros que aqui não transcrevo), não suo mais ricos do que cies. No entanto, desempenham acção de importância sobre as terras pobres.

A principal importância dos nateiros resulta do seu estado de extrema divisão, podendo pôr à disposição das plantas os poucos elementos nutritivos que possuem, numa forma facilmente assimilável.

Assim, pode admitir-se, na generalidade dos casos, que os nateiros restituem, em parte, os elementos úteis que as colheitas retiram, podendo, pois, considerá-los até certo ponto como adubos pobres, mas de acção rápida, graças no sou estado físico".

Sobretudo nas terras areentas e pobres (as que resultam de quebradas, por exemplo) podem exercer boa acção fertilizadora.

Mas dizem os mesmos autores que os nateiros podem até ser prejudiciais nas terras de regadio, que tornam mais impermeáveis pela deposição dos seus elementos finos e nas terras férteis de boa constituição física.

Há-de ser difícil fazer aceitar poios lavradores da minha região esta afirmação da acção prejudicial dos nateiros, mesmo nestes dois tipos de terrenos! ...

Estudos mais pormenorizados incidiram nobre a composição química dos nateiros de vários rios e vales, cujos resultados foram comparados com os das análises de terras de culturas de média fertilidade e com os dos estrumes de composição média. Deles resulta a afirmação de que o seu valor fertilizante é menor do que os dos outros dois.

Segundo os estudos feitos no Mondego, acima da ponte de Coimbra, pelo engenheiro agrónomo Albuquerque Paixão, os valores mínimo e máximo oscilam entre 200 e 580 m3/km2 de bacia e também, que a quantidade de material carregado por metro cúbico varia entre 0,612 kg e 1,776 kg. Como só 50 por cento dos nateiros se depositam (porque os outros são conduzidos para o mar), conclui que a camada de nateiros depositada variaria de 0,12 mm a 0,34 mm, se se pudesse fazer uma distribuição uniforme sobre toda a superfície inundada.

As zonas mais baixas terão, por certo, uma camada mais espessa do que as terras altas, portanto uma mais rica fertilização pelos nateiros das cheias. Mas essas são as que se cultivam mais tarde, que têm pior enxugo e que correm mais risco.

Em Fevereiro de 1962 (lê-se no relatório do engenheiro agrónomo Luís André Rodrigues) foram feitas análises sobre amostras dos nateiros do Mondego, colhidas em doze pontos diferentes e em vários períodos do ano, desde a ponte de Santa Clara, Arzila e S. João do Campo até às pontes da Figueira, quer dizer em toda a largura e comprimento do vale.

Afirma-se nesse relatório que em face da quantidade de elementos fertilizantes que as colheitas retiram por hectare e dos elementos que os nateiros possam fornecer chega-se à conclusão que a acção benéfica destes é diminuta e escasso o seu valor em relação ao daqueles. Mesmo que em vez dos 50 por cento depositados, fossem depositados os 100 por cento, mesmo assim ficaria muito aquém do que as culturas necessitam para serem econòmicamete viáveis.

Os cálculos feitos sobre o azoto, o fósforo e o potássio distribuídos em cada ano pelos 15 000 ha inundáveis dão, respectivamente, 90 000 kg, 45 000 kg e 112 500 kg que, ao preço médio do mercado, seriam computados em 1500 contos. Quer dizer, pouco mais do que se despende com a conservação das motas e h reparação das quebradas.

Foi também calculado o prejuízo causado nos 4957 km das bacias superior e média do Mondego - uma mediu de 10$ por- hectare -, totalizando 4957 contos, isto é cerca de 3,5 vezes mais de que os benefícios apontados.

Julgo que, após estes elementos, obtidos através de estudos conduzidos cuidadosamente por investigadores respeitáveis, não há que hesitar - não defender o benefício dos nateiros em face dos múltiplos prejuízos que a erosão e as cheias ocasionam e procurar obter a defesa integral dos campos contra as cheias desordenadas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É aliás, assim que pensa a grande maioria dos lavradores da região. E é, aliás, o que se faz até no próprio vale do Nilo, de nateiros muito ricos, onde a barragem de Assuão virá a pôr termo às grandes enchentes e às deposições de nateiro particularmente rico.

O Sr. Rocha Cardoso: - Muito bem!

O Orador: - O que entre nós se gastar em estrumes e adubos há-de ser compensado, pelas melhores condições da agricultura, por novas possibilidades de cultura, pela rega e pelo desenvolvimento de armentio.

O Sr. Rocha Cardoso: - É uma verdade.

O Orador: - Sr. Presidente: volto agora a ocuparam de um assunto que respeita aos campos de Coimbra e que aqui tratei na sessão de 24 de Março de 1960. Refiro-me à elevação e alargamento do leito da estrada que, através do campo, prolonga a de Aveiro a Lavariz, desde este ponto até à estação de Alfarelos e à ponte que urge fazer sobre a estação de Alfarelos, melhoramento que reputo de mais alto interesse para os povos não só desta região mas da Bairrada, Aveiro, etc., que pela estrada nacion-