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9 DE JANEIRO DE 1963 1755

Temos razões para confiar em que a classificação de "serventia" não continuara a opor-se a realização de uma obra que corresponde a satisfação de justificados anseios dos povos e que virá a servir não só a região à volta, mas o caminho de ferro e o próprio País, e que a obra se farit.com a urgência que o caso requer.

Sr. Presidente: ninguém me perdoaria se não aproveitasse esta oportunidade para, mais uma vez, chamar a atenção do Governo para a deplorável situação em que se encontra a actual Escola de Regentes Agrícolas do Coimbra - deplorável pelo seu aspecto, pelo abandono a que foi votada, pelo regime de ensino ali instituído e pela reduzidíssima influência que tem sobre a agricultura da região. Tratando-se de um aviso prévio sobre o aproveitamento integral da zona, não posso deixar de voltar a protestar contra o que se está passando. Não me movem só os sentimentos de- particular afeição àquela Escola, a que devo uma boa parte da minha preparação para a vida. O confronto do que foi e do que ó e a visão do que pode e deve ser á que me impõem esta atitude.

Trata-se da mais antiga escola de regentes agrícolas, que foi, ainda não há muitos anos, no tempo em que se chamava Escola Nacional de Agricultura, a mais importante escola de ensino médio agrícola deste país. Não sei por que ventos de desgraça, uma vez passada ao Ministério da Educação Nacional, esta Escola, de tão profundas e importantes tradições, foi votada ao mais descaroável abandono. E o abandono foi tal que os próprios edifícios começaram uns n cair e outros a serem evacuados por ameaça de ruína iminente. Ruíram o pavilhão de material e as pocilgas da Quinta do Bispo a padaria e o forno. Estão já desocupados os locais onde estavam instalados a leitaria, a garrafeira e o fruteiro, a antiga residência dos alunos mais novos, a casa das sementes, a lavadaria, o anexo do lagar de azeite, etc.

O aspecto dos demais edifícios é seriamente lamentável. A instalação dos actuais alunos carece de uma transformação total e urgente. Devo ao Ministro Arantes e Oliveira e ao então Ministro Lopes de Almeida o favor de uma visita oficial àquela Escola e o extraordinário interesso que manifestaram pela sua restauração e adaptação às actuais exigências da região e do País. Foi elaborado um anteprojecto das novas instalações para os alunos.

Em 1919, a rapacidade máxima das instalações dos alunos mais novos (a chamada casa da direcção) e das dos mais velhos (colégio) foi fixada em 120 alunos. As aulas e as oficinas tecnológicas eram já acanhadas para esta população, visto terem sido feitas muito antes e para uma frequência muito menor. A residência dos alunos mais novos teve de sei- abandonada e as aulas, oficinas e demais instalações tem hoje de albergar mais de 250 alunos! O internato e o externato estão largamente, excedidos, com todos os seus graves inconvenientes.

A Escola tem uma área de cerca de 2 ha ocupada por edifícios que tem alguns 70 a 100 anos e outros ainda mais, cuja conservação exigiria, desde há muitos anos, verbas avultadas, de que ela nunca dispôs.

E não só os edifícios carecem de reforma - tudo precisa dela! Tudo aquilo precisa de amparo, de reforma, de renovação, colocando a Escola à altura das nossas reais necessidades. Não nos podemos conformar que estejam ali 137 ha de terrenos preciosos, 20 dos quais de regadio, sem que tudo aquilo seja convenientemente aproveitado para o ensino s para a preparação e estágio de técnicos, para campos experimentais e oficinas tecnológicas modelares, enfim, para uma verdadeira e moderna estação agrária.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ninguém poderá admitir que Coimbra seja a sede de uma brigada técnica agrícola instalada filtre quatro paredes de um bom edifício da cidade é que os seus serviços não tenham o mínimo contacto oficial com a Escola. Que magnífica cooperação, que excelente colaboração se poderia fazer se houvesse outra compreensão e outra organização, se os nossos serviços não vivessem em compartimentos estanques!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: aqui fica o meu apelo, dirigido aos ilustres Ministros da Educação Nacional, das finanças e das Obras Públicas e ao ilustre Secretário de Estado da Agricultura, para que se debrucem sobre este gritante problema, que tantas incidências económicas e políticas contém.

Sr. Presidente: seja-me ainda permitido dizer alguma coisa sobre o porto da Figueira da Foz, que o Sr. Deputado Nunes Barata incluiu no seu aviso prévio e que, como ele muito bem disse, constituía, nos primórdios da nacionalidade, um importante centro de comércio marítimo.

Efectivamente, as suas condições de outrora permitiam que ele fosse frequentado por navios de grande calado e que ali viessem com frequência navios das mais diversas nacionalidades. A isso estava ligada, com certeza, uma intensa actividade comercial:

Com o rolar dos anos, os areias que se foram progressivamente acumulando nu foz do Mondego comprometeram continuamente a entrada da barra, os navios de maior tonelagem deixaram de poder demandar o porto e a sua actividade foi-se reduzindo cada vez mais.

Desde o começo do século XIX, o estado do porto e barra preocupa seriamente a população da Figueira da Foz e seu termo e os próprios governantes. Pode mesmo dizer-se que, desde então, a Figueira vive intensa e apaixonadamente o problema rio seu porto, e a tal ponto que ele é capaz de congregar todos os figueirenses sem distinção, de se sobrepor a todas as dissidências e rivalidades em que aquela fascinante cidade é tão fértil.

Aquele "bairrismo", a que presto a minha homenagem, desafia, nu sua dedicação e no calor e veemência da sua expressão, o de qualquer outra cidade. Ele tem sido a causa de uma série amarga de desilusões o de desgostos, mas tem sido também a fonte das mais exuberantes manifestações de euforia e de esfusiante alegria, numa alternância constante, mercê das tragédias de que o porto tem sido teatro e das promessas de realização tio obras e de garantia de novas perspectivas comerciais e industriais.

Esse bairrismo tem sido servido por um espírito de sacrifício, por uma abnegação e uma fé dignos da maior admiração. Posso mesmo dizer que a Figueira vive com verdadeiro e extraordinário amor o problema do seu porto e barra. Esse amor leva-a a confiar em todas as promessas, a colocar-se incondicionalmente ao lado de quantos prometem resolver ou interessar-se pelo destino do seu porto.

Ao longo de mais de um século, têm-se, multiplicado as exposições e as reclamações das gentes da Figueira da Foz. Durante o mesmo período tem o seu bairrismo sido explorado politicamente e muitas vezes de forma não louvável. A Figueira da Foz movimentou-se sempre com entusiasmo entregou-se sempre com confiança, cada vez que algum político lhe fazia promessas, mesmo que elas não tivessem um conteúdo de fortes possibilidades de realização.