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19 DE ABRIL DE 1963 2349

O Orador: - Este destino histórico e transcendente nos terá desviado da rota que outros escolheram: a procura das riquezas, ao serviço dos grandes empórios.

Fiéis, por vezes sem plena noção dessa grande e imanente certeza, fiéis a um sentido vocacional e providencial da história, que, para as nações que a fazem, é norma de vida, gastámos os séculos e as vidas a ensinar, a cristianizar, a civilizar, no que o termo possui essencialmente de alta exigência de humanização ao nível da eminente dignidade da pessoa, como criatura de Deus portadora de um espírito que sobreviverá à fortuna dos tempos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Colonizamos assim pela missão, de preferência a explorarmos pela empresa mercantil.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sonhadores e poetas, voltados à graça e à aventura, recebíamos do contacto com outras gentes o desejo profundo, atávico, de pô-las a comungar connosco nos mesmos anseios e nas mesmas vitórias do espírito: viessem viver connosco a nossa própria vida; viessem sentir e entender como nós sentíamos e entendíamos, viessem tornar-se filhos de Portugal, com os mesmos direitos, os mesmos deveres, as mesmas glórias, a mesma história.

Por esta ímpar tarefa de cultura e de civilidade, de paz e de ordem, andámos séculos. Em busca das riquezas escondidas por esses continentes, outros nos ultrapassaram. Em proveito dos homens e raças que trouxemos à civilização e à cultura, poucos nos acompanharam. O feito, de nobre e alevantado, nem todos o entenderam. Por ele chegámos mesmo a merecer a irrisão de uns tantos ...

E, na verdade, praticávamos aí o maior exemplo da confraternização humana que os milénios haviam conhecido.

Fazíamos o convívio dos continentes, alargávamos a dimensão da solidariedade pelo enobrecimento espiritual do homem, fazíamos, enfim, cristandade, que era afinal trazer todos os homens ao plano da redenção, onde os méritos e os deméritos, o valor de cada um tinha a sua medida absoluta na própria filiação divina.

Estas asserções, que não contêm qualquer novidade, terão sido ditas e reditas vezes sem conto, comentadas e recomentadas em páginas e páginas da história da nossa colonização. Mas nem por isso perderam um ápice sequer da sua vigorosa actualidade, mesmo em face dos pecados de alguns contra elas cometidos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Penso que elas continuam válidas como pressuposto de todas as fórmulas com que pretendamos realizar no nosso tempo aquele sentido vocacional e providencial da nossa história, patente, hoje como há séculos, nos propósitos da nossa vida, nos ideais que intransigentemente servimos e defendemos em todas as parcelas da Pátria.

Varrem o Mundo ondas de ódio que galgam continentes.

Ás nações dividiram-se para se aniquilarem.

Os povos perseguem-se e os homens matam-se pela cor e pela raça.

Quem, neste clima de desespero, aí está a praticar a fraternidade, a defender a convivência, a proclamar a

igualdade na dignidade natural entre os homens de todas as cores e de todas as raças?

Quem, neste clima de maldição e de luta, aí está a clamar que os homens valem pela dignidade da sua vida, pelo vigor do seu espírito, pela fidelidade aos ditames da razão e da lei natural, pelo acatamento dado aos desígnios de Deus?

Quem, neste clima de materialismo e de força, aí está a pugnar pela vitória dos grandes, dos maiores princípios, dos grandes, dos maiores valores morais, únicos de que a humanidade pode esperar a paz, a concórdia e o progresso?

Ao longo dos séculos, a melhor defesa que sempre fizemos das populações que acháramos sem história nem grandeza foi a sua total integração no mundo espiritual que a nós próprios nos define. Sempre o quisemos e o fizemos. E o que hoje teimamos em prosseguir. É o que hoje teimamos em realizar, sem discriminações e sem outra compensação que não seja a de cumprirmos o mandato que a história há séculos nos outorgou. Desejamos apenas que nos deixem trabalhar em paz para mais rapidamente alcançarmos a promoção social de todas as populações que nasceram sob a protecção da nossa bandeira, para mais rapidamente lhes levarmos as grandes realizações da saúde e do ensino que estamos a procurar atingir na própria metrópole; para mais rapidamente lograrmos o triunfo completo da justiça social por que ansiamos aqui, no Portugal da Europa. Nele, como Portugal da África e da Ásia, vivemos o mesmo anseio de mais, de melhor, o mesmo anseio que não distingue latitudes, nem cores, nem raças.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nessa vivência comum do mesmo ideal de vida nós pomos uma das maiores certezas da unidade nacional que, por isso mesmo, como a definia o Sr. Presidente do Conselho, «não é uma ficção política ou jurídica, mas uma realidade social e histórica que levanta obstáculos sérios aos que pensam dedicar-se agora à tarefa de emancipar a África Portuguesa. Vêm tarde - já está!».

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se logo que a encontramos, a equiparamos a nós próprios, se jamais a distinguimos para lhe negarmos as regalias que nós próprios lhe reconhecemos; se trabalhamos, vivemos, sofremos lado a lado, irmãos da mesma família, ...

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... à sombra da mesma casa, sob a protecção da mesma lei e na esperança da mesma certeza, é que não nos separam odiosas expectativas de independência e autonomia, que seriam libertadoras de males, de ódios, de opressões de que a consciência nos não acusa e que a nossa multissecular história ultramarina não regista.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - E é precisamente porque assim é e continua a ser que a proposta de lei em discussão jamais poderia ter em vista uma independência próxima ou longínqua, pois seria sempre um abandono e uma renúncia.

Vozes: -Muito bem, muito bem!