O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

26 DE ABRIL DE 1963 2441

Já Juan Vázquez de Mella afirmava "ser necessário cercear, diminuir, reduzir o Estado e aumentar as sociedades e as corporações, porque o Estado vive do sangue e das funções que subtrai ao corpo social".

E Bertrand de Jouvenel vê no crescimento do Estado moderno aquela "monstruosa concentração de poderes que faz de toda a sociedade uma engrenagem mecânica de que se desprende uma actividade incentivei que acabará por absorver na sua evolução cega tudo quanto participa da autonomia do espírito humano".

Ora, quando o homem for totalmente dominado e lhe seja imposta uma "consciência pré-fabricada por meios totalitários de propaganda, chegará a noite tenebrosa dos sub-homens felizes", vegetando sob o tal Estado infinitamente protector e infinitamente totalitário.

Todo o nosso esforço de libertação está debaixo da "pressão económica e tecnológica" e cederá, fatalmente, no dia em que forem destruídas ou arrasadas as últimas formas da aristocracia social.

É, portanto, indispensável criar e manter contrapoderes efectivos que limitem o Estado e lhe deverão ser exteriores, como todos os limites, segundo a mesma lição magistral de Vázquez de Mella.

Assino aqui o meu protesto contra as tentativas de endeusamento do Estado e dos serviços e ponho alguma esperança em os ver mais humildes, mais modestos e mais empenhados em servir o bem comum.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tanto o povo anónimo das cidades, que sabe de. futebol, como a gente humilde do campo, que lê os astros e se governa por velhas sabedorias distingue perfeitamente os bons dos maus frutos, a obra útil, a obra produtiva, projectada, criada, estudada para aumentar a riqueza da Nação, e aquela que só acrescenta a incomensurável vaidade dos homens.

Neste espírito, peço licença para descer, por pouco tempo, das minhas terras altas de Trás-os-Montes e descansar os olhos no vale do Sorraia. onde quiseram os fados que eu viesse também repousar o coração.

Ando por aqui há 25 anos, e todo este quartel de um século o tenho passado a observar atentamente os homens que neste risonho vale põem a primeira grande pedra do nosso regadio.

Assisti à fábrica das barragens do Maranhão e de Montargil. vi subir as águas, inundar os campos e desenvolver as curvas doces dos regolfos.

Depois vi a água correr nos 300 km de canais, desde o termo de Avis até à lezíria do Tejo. E tudo o que vi gostei de ver.

Mas do que venho falar, sobre que venho depor, é sobre o trabalho viril de uma geração de lavradores inteligentes, activos, empreendedores, generosos, que tem sabido colaborar exemplarmente na grandiosa obra de fomento que aquele- aproveitamento hidráulico postulou.

E evidente a necessidade política de fazer comungar a Nação, todos os seus elementos criadores de riqueza, no Plano de Fomento em que o regime está empenhado

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Essa comunhão só pode desenvolver-se através de um trabalho constante de estudo, colaboração e realização.

Nestes planos de regadio, tão falados, é preciso não esquecer que o mais fácil é arranjar água e abrir a torneira e o mais difícil é regar.

Pois a lavoura do Sorraia não desperdiçou meio milhão de contos que foram investidos naquele plano de rega. Recebeu a obra alvoroçadamente, carinhosamente, abençoou a água e, com o maior entusiasmo, debruçou-se sobre as leiras a regar.

É preciso que se diga e que se saiba que esse trabalho é duro, caro, cheio de incertezas.

Não havia planos de exploração, nem campos experimentais, nem ensaios sérios, nem orientação segura, nem mercados abertos, nem consumo assegurado para os produtos agrícolas.

Havia água e terra e havia uma raça de gente que conta menos com o proteccionismo oficial do que com a sua própria capacidade criadora.

Era preciso produzir e transformar; era preciso engrandecer a Nação e aproveitar a obra. De nada valiam os queixumes nem a dialéctica fácil.

É muito agradável referir que o técnico responsável por este regadio, o distinto engenheiro agrónomo Joaquim Rosado Gusmão, delegado do Ministério da Economia e presidente da Associação dos Regantes, ainda há dias podia afirmar, em entrevista ao Diário Popular, que o sucesso desta obra está, sem dúvida, na sua boa aceitação por parte da lavoura, para seguidamente adiantar que tinha grande motivo de satisfação em poder dizer que "a lavoura do vale do Sorraia mostrou ser esclarecida, progressiva, consciente, consciente mesmo dos seus deveres para com o País".

Essa consciência não creio que seja fruto exclusivo da gente do "Ribatejo, por quem tenho, de resto - estou a querer demonstrá-lo -, uma viva simpatia e grande admiração: essa consciência dos deveres para com o País está desperta por toda a parte. O que falta é criar condições propícias ao progresso que todos desejamos, interessando vivamente as elites na realização dos trabalhos que as obras de fomento supõem.

No vale do Sorraia, o Governo, através dos serviços oficiais, nomeadamente da Direccão-Geral dos Serviços Hidráulicos e da Junta de Colonização Interna, tem sabido prestar uma ajuda substancial, acompanhando com o maior interesse o desenvolvimento daquela experiência corporativa e cooperativa.

Na verdade, quase simultaneamente com a constituição da Associação dos Regantes do Vale do Sorraia, foi instituída, em Coruche, a Cooperativa Transformadora dos Produtos Agrícolas do Vale do Sorraia, que abrange os produtores dos concelhos dominados pela obra de rega: Avis, Ponte de Sor, Mora, Coruche, Salvaterra de Magos e Benavente.

Conta com o apoio de uma impressionante massa associativa, movimenta hoje dezenas de milhares de contos e presta uma colaboração decisiva ao desenvolvimento do regadio.

O centro fabril que instalou e a organização comercial de que dispõe estão em crescimento contínuo e são uma grande realidade agrícola no momento presente.

Nasceram ali as fábricas de concentrado de tomate, de desidratação de forragens, de descasque de arroz, está a crescer a adega cooperativa e em marcha a secção de leite.

Instalou-se, e funciona em cheio, um parque de máquinas agrícolas, multiplicou-se a assistência técnica e tudo ali mexe, desde os dirigentes ao último empregado, como formigueiro, operosamente, à procura dos melhores caminhos, das melhores soluções, sem perda de tempo nem dependência de despacho superior.

Ninguém tem medo da grandeza, nem medo de vertigens; audaciosamente, põe-se de pé uma obra que constitui ao mesmo tempo uma experiência do mais largo