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31 DE JANEIRO DE 1964 3055

fortemente condicionada pelo desenvolvimento das actividades imediata e económicamente produtoras e rentáveis que recorrem à especialização profissional técnica.
Esta tendência geral africana, desequilibradora, estendeu-se naturalmente a Moçambique, com tendência para criar vazios em certos sectores e congestionamentos noutros, o que requer a mais cuidada atenção. Infelizmente, a província não possui meios de medir e estudar o problema.
Uma tentativa que fiz em 1961 para se transformar a malograda escola de aprendizes dos caminhos de ferro em Lourenço Marques numa boa escola técnica de electricidade e mecânica, capaz de habilitar para salários altos, não deu resultado, porque burocràticamente se entendeu que as oficinas dos serviços públicos devem ser para seu uso. No entanto, na Guiné eram as oficinas da Capitania dos Portos que tornavam possível o funcionamento da escola técnica.
Não quero deixar sem uma palavra o problema do ensino agrícola, tão cheio de dificuldades em toda a parte. Sei que se continuam esforços para o instituir convenientemente em Moçambique. E oxalá se consiga, porque é uma velha aspiração da província.
Ultimamente começaram ali a funcionar os Estudos Gerais, e venceram-se grandes dificuldades para que tudo começasse bem. A extensão da Universidade a Moçambique cria novas e amplas possibilidades, que é preciso aproveitar e fazer valer, especialmente no domínio da cultura.
Não repetirei algumas considerações que fiz em Lourenço Marques a esse respeito, tanto mais que sei de alguns planos que se desenvolvem no sentido de assegurar à cultura portuguesa uma posição marcante em África, e por outro lado enriquecê-la com o que a província tem para oferecer-lhe.
Mais uma vez, Sr. Presidente, a minha intenção foi a de levantar os temas e suscitar as ideias no sentido de se criar uma política de ensino que contemple devidamente os problemas, os interesses e as circunstâncias de Moçambique, que são nacionais, na sua específica natureza, e estão a projectar-se no mundo da nossa cultura com impressionante grandeza.
Mas não quero acabar estas notas soltas sem uma palavra de apreço por todos quantos se esforçaram e esforçam por fazer mais e melhor. E devo acentuar que a maior parte das dificuldades e dos problemas actuais derivam precisamente do muito que se tem progredido e do muito que se tem realizado. Há progresso sensível, e é por isso que há problemas grandes, o que me apraz registar com a consoladora esperança que brota sempre das grandes certezas, quando há vontade, porque há fé.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Sr. Presidente: quero ser breve e desejaria ser quase tão leve como uma pintura a fresco.
Venho a este debate preso de dois propósitos e voltado para duas ideias.
Vou considerar, em função das coordenadas nacionais, a estrutura, a grandeza do problema da educação, situando-me depois, para além dos esquemas, dos programas, das técnicas, junto das almas e das raízes.
Começo pelo Olimpo ...
Os mais sábios professores do Oriente e do Ocidente juntaram-se, algures, para discutir, para confrontar, problemas de humanismo e de educação, sob o signo da U. N. E. S. C. O., e tiveram de concluir que este é, verdadeiramente, o problema central da humanidade.
Educar técnicos que tornem o homem eficaz nos quadros sociais;, educar todos os indivíduos para desempenharem o seu papel de homens livres; educar o homem para lhe permitir dominar suas conquistas, servindo-lhe a precisa sabedoria - aquela sagesse - de que tanto necessita; educar em termos de permitir a cada cultura guardar e renovar os seus próprios valores, o seu património moral e espiritual, salvando com ele a humanidade ameaçada.
E os sábios registaram que se processou, nas últimas dezenas de anos, uma larga experiência educativa, relacionada com as transformações do ideal, do homem, ao mesmo tempo que se fez um esforço desmedido para a formação de quadros técnicos em todos os quadrantes do Mundo.
O apelo à liberdade criadora, à experiência vivida; as relações entre o sagrado e o profano - entre a religião, a vida espiritual, a ética e a política; o ideal do homem senhor da natureza pela técnica e o ideal do homem em comunhão com a mesma natureza; a ciência e a sabedoria; a ciência e a cultura; a influência do ideal no plano da conduta individual e das instituições; o ideal da justiça e o facto da desigualdade; as concepções da educação e o ideal da mesma igualdade; a participação de todos na vida cultural; o papel das instituições políticas nacionais e internacionais na formação do novo humanismo; o problema da tolerância - da tolerância e do cepticismo; a tradição e a renovação como factores decisivos da filosofia da educação; e, finalmente, a acção e a contemplação - o sábio, o filósofo, o santo, o místico; a importância da filosofia do trabalho do homem - o ideal do ascetismo e o bem-estar para todos.
Está aqui um mundo de questões e um pálido resumo de quanto os senhores sábios do Oriente e do Ocidente discutiram e confrontaram e depois ofereceram, generosamente, à nossa meditação de leigos e de curiosos.
Aquele meu avô de terras de Miranda que usava capa de honras e ouvia gaita de foles contentou-se de transmitir à lareira, a filhos e netos, a herança de uma doutrina muito singela - «antes quero boa regra que boa renda».
Tomava partido na ordem dos valores e logo se continha no conhecimento da nossa velha e tradicional sabedoria, mais ou menos inscrita nos ensinamentos da cartilha, centrada nas virtudes cardiais do homem cristão.
Os tempos mudaram, as receitas caseiras continuam válidas, mas a grandeza e profundidade da crise que atravessamos exige uma terapêutica que desperte o povo, todo inteiro, e retempere as suas energias.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em 1943, numa hora trágica para a França, o espírito gentilíssimo e agudíssimo de Simone Weil colocava a teoria da acção pública como modo de educação do país.
Era uma espécie de testamento espiritual onde se avistava muito longe e se analisava muito de perto quanto concerne às relações do homem e da colectividade em que se insere.
A educação, dizia, consiste em suscitar motivos de acção, fornecendo o carburante, a soma indispensável de energia para realizar, para agir.
Creio que nenhum de nós duvida de que o povo de quem temos honrosíssimo mandato está empenhado num esforço gigantesco de conservação do corpo e da alma.