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31 DE JANEIRO DE 1964 3057

o alimento de que necessitamos para multiplicar as energias de cada um.
Há que prover às necessidades da alma.
Isso quer dizer que precisamos de ir satisfazendo às suas exigências.
Exigências da ordem, em primeiro lugar, ordem que, na expressão delicada de Simone Weil, constitui um tecido de relações sociais permeável ao cumprimento das mais rigorosas obrigações, sem necessidade de violar quaisquer outras.
Há depois que satisfazer às exigências da liberdade e da obediência às regras e da obediência aos comandos; que cuidar de despertar o gosto pela iniciativa e reforçar o sentimento de responsabilidade; que respeitar a igualdade dos homens; que assegurar o castigo exemplar, castigo que também é uma necessidade vital da comunidade; garantir a liberdade de opinião - necessidade primária da inteligência; que reforçar o sentimento de segurança e afirmar a vantagem do risco, e, finalmente, que espalhar a verdade, a verdade, que é a mais sagrada de todas as necessidades da alma humana.
Quantos alimentos avariados a nossa comunidade tem servido e continua a servir enquanto a nossa acção se não exercitar na escolha e preparação de cada um destes condimentos que é forçoso pôr à disposição dos Portugueses de hoje, equilibradamente, para retemperar as suas energias e assegurar o esforço criador em que estamos empenhados para sobreviver, iguais a nós mesmos ou ainda maiores.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Muito têm que fazer os juristas, os moralistas, os sociólogos, os filósofos, os políticos - os mestres da nossa inteligência e da nossa sensibilidade.

O Sr. Ubach Chaves: - E os governantes ...

O Orador: - E os governantes. Também precisamos constituir grupos de trabalho para cada um destes problemas e, desta vez, terão de recuar os economistas (risos).

É natural que não suba o rendimento bruto da Nação, mas sobe, com toda a segurança, o nível espiritual e moral dos Portugueses.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A educação de que me ocupei interessa todas as classes e todas as idades, mas não quero abalar daqui sem uma palavra de carinho para a juventude.
Sei muito bem, porque a ouço, e a olho, e a sigo interessado, que tem outros modos, outros temas, que veste a seu gosto, mas também sei que pode entender a nossa linguagem, que sabe dialogar e até jogar às escondidas.
Em todos os tempos, em todos os séculos e em todas as raças os novos e os velhos estiveram sempre, mais ou menos, em oposição.
E houve sempre também quem julgasse a mocidade insuportável ou impertinente e, ao contrário, quem entendesse e compreendesse os seus problemas.
Devemos envelhecer com elegância (risos).
A juventude prestou-nos já um imenso serviço.
Deu-nos a alegria de verificar que podemos contar com ela, que tem ideias próprias e põe grande tenacidade em se libertar e em prosseguir.
Para sermos justos no nosso julgamento e serenos, imparciais, na decisão, devemos conhecer a sua lógica e as suas ideias, confrontá-las com o relógio do mundo, avaliar a franqueza e sinceridade das suas atitudes, a lealdade dos seus processos e a coragem e independência das suas acções.

O Sr. Pinto de Mesquita: - O mal é que as ideias não são deles.

O Orador: - Nesta querela de velhos e de novos, aceito inteiramente a lição que me dá o P.e Ronsin, da Companhia de Jesus, aconselhando-me a compreender e a amar.
Está escrito que «uma geração é verdadeiramente grande quando, depois de alardear a sua oposição e de ter escavacado ou enterrado uma boa porção de ídolos, é capaz de retomar a tradição e de a renovar com espírito de fidelidade criadora».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Eu não tenho vergonha da minha, dessa geração que soube lutar, trabalhar e obedecer.
Lembro-me, Sr. Presidente, de que, há mais de trinta e cinco anos, V. Ex.ª, de quem recebi os frutos da plena maturidade do seu magistério e em quem pude admirar a maior lucidez na inteligência das ideias e dos factos, e o milagre constante da permanente clarificação de uma fórmula ou de um pensamento, nos. deu uma admirável lição da disciplina de uma escola e dos princípios da ordem que era preciso definir e impor: «... eu vou dar aulas ainda que para tanto seja preciso fazer um quarto de sentinela».
Obrigado, meu mestre.
Foi assim, João Ubach Chaves, que nós e tantos outros começámos.
Enfim, agora não vamos afrontar a juventude. Aguente. Um poeta, e os poetas estão sagrados para adivinhar o futuro, segredou-me baixinho: «O Inverno fica sempre a perder quando discute com a Primavera.»
Havemos de conversar com o seu filho quando voltar de Angola.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Martins da Cruz:-Sr. Presidente: vivo interesse pelos problemas da educação nacional tem pairado nesta legislatura da Assembleia Nacional.
Se eles são, como a mim se afiguram, dos de maior importância na vida do País, bem justificada resultará por isso a atenção que aqui lhes vimos dedicando.
Vem ela, com razão, a culminar no presente aviso prévio, por que felicito os ilustres colegas que o requereram, já que, adentro das fórmulas regimentais de expressão de interesse parlamentar, me parece, para o caso presente, a mais adequada.
Poderia ser-se levado a pensar que, tendo S. Ex.ª o Ministro da Educação Nacional, o Prof. Doutor Galvão Teles, anunciado para breve profunda reforma no sector da educação - reforma ainda em estudo aturado -, seria talvez neste momento menos oportuno o presente debate.
Inclino-me a crer que não seja assim, e isto por o aviso prévio ser hoje também uma forma de consciencializar a Nação na medida em que os seus representantes, por ele, lhe acordam a atenção para algumas das suas vitais questões.
E assim, se nos move não o propósito de apresentar soluções concretas, mas. apenas o de ajudar a esclarecer,