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15 DE FEVEREIRO DE 1964 3227

e o milho, que dão a ideia de não terem qualquer significado na lavoura algarvia, por serem valores grandes do Alentejo, do Ribatejo e do Minho.

Mais conhecido o Algarve pelas suas belezas naturais, pela amenidade do seu clima, pelas flores da sua fruticultura, pela quentura da água do seu mar e pelo valor e sabor do seu peixe e, digamos, descoberto agora para o maior valor do turismo nacional, pode parecer a muitos de insignificante valor os produtos da terra colhidos pela lavoura algarvia, alam dos seus primores agrícolas, como as tenras favas ou as saborosas ervilhas, a que nós damos o nome de griséus e que a técnica agrícola dos Algarvios quase consegue fazer produzir já durante todo o ano.

Até mesmo no trigo, o Algarve consegue ser a quinta província na sua capacidade de produção, como passo a indicar, extraindo os dados e cimentando a minha afirmação em relatórios bem elaborados e documentados pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo, sem dúvida o organismo que melhor tem elevado e dignificado a organização corporativa da Nação.

Em primeiro lugar o Baixo Alentejo, como celeiro maior do trigo em Portugal, com 152 775 435 kg, em segundo lugar o Alto Alentejo, com 98 585 203 kg, em terceiro lugar a Estremadura, com 45 379 692 kg, em quarto lugar o Ribatejo, com 38 961 573 kg, e em quinto lugar o Algarve, com 26 536 315 kg, que, ao preço da tabela em vigor, representa um valor económico de 79 600 contos. E para que se veja bem quanto a produção de trigo interessa ao Algarve, necessário é afirmar que há ali, depois de Beja, o maior número de produtores de trigo do País; havendo ali em Beja 20 741 e no Algarve 20 149, número muito superior ao de qualquer das outras regiões produtoras de trigo.

Isto mostra bem que o Algarvio não descura o pão para a sua boca, pois até 1 000 kg de produção. de trigo existem no Algarve, no distrito de Faro, nada menos de 11 736 produtores, de 1 000 kg a 1 500 kg 3 622, de 1 500 kg a 2 500 kg 2 781 e de 2 500 kg a 5 000 kg 1483.

Quanto ao outro produto da lavoura algarvia, o milho, também comercialmente movimentado na sua quase totalidade pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo, constatamos que o Algarve é a segunda' província do continente produtora de milho, figurando a seguir ao Minho, se bem que seja o Algarve a província que mais milho entrega para venda à Federação, e isto porque no Minho a reserva para consumo alimentar é sem dúvida muito mnior.

Que assim é basta dizer que até 14 de Janeiro findo a Federação Nacional dos Produtores de Trigo adquiriu 14 850 189 kg de milho da produção de 1963, correspondendo ao Algarve 9 792 524 kg, ou seja 65,94 por cento da produção total do País, tendo o Minho entregue apenas 437 818 kg, ou seja 2,95 por cento. Assim, e até àquela data, o Algarve vendeu de milho quase 20 000 contos.

Quanto a pecuária, o Algarve figura, como já aqui afirmei nesta Assembleia, em intervenção antes da ordem do dia, como um dos maiores centros pecuários nacionais, pois só em gado bovino possui para cima de 28 000 cabeças, número superior a cada um dos distritos de Beja, Évora e Setúbal, criando-se no Algarve dos melhores vitelos do País, destinando-se o maior número deles ao abastecimento de carne a cidade do Porto, sendo por isso mesmo uma das razões por que ali se come da melhor carne, pois devem sair anualmente dó Algarve para o Porto para cima de 25 000 vitelos.

Passando agora a tratar dos frutos do Algarve, vão VV. Ex.ªs verificar quão grande é o seu valor na economia portuguesa, merecendo, por isso, a melhor e a maior atenção do Ministério da Economia.

Em 1962 as quantidades de frutas secas saídas do Algarve para os mercados interno e externo foram as seguintes: miolo de amêndoa 3 092 635 kg; amêndoa em casca 291010 kg, tendo saído para o mercado externo, respectivamente, 3 011747 kg e 286 375 kg; figo;; 5 808 010 kg, tendo-se exportado 2 958 816 kg; pasta de figo 1984 885 kg, que foi totalmente exportada para a América do Norte; alfarroba 18 768 817 kg, tendo-se exportado apenas 657 587 kg e saído para o mercado interno 18 110 730 kg.

Quer dizer: os valores dos frutos secos do Algarve atingiram em 1962 153 121 256Ï40, rendendo até mais do que a pesca, que teve o valor de 114 683 554$. Se somarmos estas duas verbas ao valor da exportação de conservas de peixe do Algarve, que foi de 406 848 205$, encontraremos um total de 674 653 015$40, que mostra bem o valor do Algarve na economia portuguesa.

O Sr. Alberto de Meireles: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Alberto de Meireles: - Aí só tenho uma dúvida: é somar ao preço do pescado o valor da exportação das conservas'. Porque, como o pescado vai dentro das conservas, pareço .que tecnicamente terá a sua dúvida na soma.

O Orador: - Toda a pesca foi de 114 000 contos. A venda de conservas para o estrangeiro foi de 464 000 contos. São dois valores diferentes. Às conservas levam sardinhas e não levam figos.

Risos.

O Sr. Alberto de Meireles: - A soma é que ...

O Orador: - À soma não tirei a prova real; foi só a dos nove.

Risos.

Quem nos tenha ouvido até aqui terá colhido a impressão de que no Algarve se vive agricolamente em maré de fortuna, era bem-estar económico, em plena (prosperidade da sua lavoura.

Sem dúvida, a lavoura, ou melhor, a agricultura algarvia, é muito diferente da de qualquer outra região, pois, produzindo, como já disse, os mesmos produtos, tem- outros, os frutos secos, quase só de valor exportativo, pelo que pode colher em divisas estrangeiras um valor económico superior ao de qualquer outra região agrícola.

Contudo analisarei a situação de todos os produtos agrícolas, e verificar-se-á que nos assoberba uma forte crise, de há muito apontada e concretizada, sem que a tenhamos visto devidamente apreciada no sentido de a solucionar. Que assim é, começo por apontar o fenómeno principal que afecta de uma maneira geral todos os produtos agrícolas algarvios e que de ano para ano mais a preocupam, sem se, vislumbrar a forma para a sua solução. Refiro-me & falta de mão-de-obra, ao afastamento quase total do trabalhador rural dos serviços do campo.

Tal fenómeno, que se nos apresenta já de muito difícil, se não mesmo de impossível, solução, tem destruído a economia da lavoura do Algarve e não sabemos como poderá recompor-se.

O baixo valor dos produtos agrícolas tabelados, trigo, milho, arroz, azeite e carne; o baixo, senão ridículo, valor dado nos últimos anos ao figo, inferior a muito mais de um terço do que era habitual; o ridículo valor dos produtos