3228 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 129
hortícolas e o baixo, ou melhor, o insignificante, preço da laranja e da tangerina dos nossos pomares, nos quais tantas o tilo grandes esperanças havíamos posto, levaram a afastar-se do campo o trabalhador rural, na impossibilidade de um melhor nível de vida, de um salário igual ou semelhante ao do operário, deixou o campo e ou emigrou para o estrangeiro ou abalou para a construção civil nos grandes centros populacionais. E, presentemente, aquele que ficou no campo exige um salário tão elevado que os produtos que colhe ou os frutos que apanha mal chegam no seu valor para a paga do seu salário.
O conhecido parceiro agrícola e pecuário pode dizer-se que já desapareceu. Os figos, as alfarrobas, as azeitonas, que apanhava ao sexto ou ao quinto, já não lhe compensam os salários, e o proprietário tem agora que colhê-los com trabalhadores que exigem jornas tilo elevadas que terá de abandonar as colheitas.
A muita mão-de-obra na colheita dos frutos, por exemplo no figo: apanho na figueira, transporte para o almanxar, trabalhos neste, com o entender do figo na esteira, esverdeá-los, enrolar e desenrolar as esteiras ao sol-posto e de manhã, escolher os figos, flor, tulha e industrial, levá-los depois à câmara de expurgo, tudo fica ao fim e ao cabo, por não dar o mel para o guloso, como soe disser-se. E o figo, que era dos frutos de rendimento anual mais normal para o proprietário algarvio, pois que as colheitas de alfarroba e, sobretudo, de amêndoa sito incertas, passou quase a niïo pesar na sua economia.
As laranjas, sem saída para o mercado externo e vivendo quase exclusivamente do mercado abastecedor de Lisboa, quase não têm valor. Pode dizer-se, e os organismos oficiais sabem do que se passa, que os proprietários algarvios de pomares oferecem, dão as laranjas, e os consumidores de Lisboa têm de comprá-las caríssimas. Este ano Taro é o cabaz de laranjas que, vendido no mercado abastecedor, dá líquido ao produtor algarvio 25$, pois, em quase uma centena de facturas em meu poder, os cabazes deram ao produtor, depois de pagas todas as despesas de venda, as quais atingem um valor quase igual ao do preço do próprio produto, verbas como as seguintes, por cabaz, nos meses de Dezembro e Janeiro últimos: 23$15 - prejuízo de $80, em seis cabazes de laranja que haviam sido vendidos por 75$ e tiveram de despesa 75$80 - 21 $33, 22$75, 18$75, 15$40 e 10$24, o mesmo ou pior acontecendo com a venda dos cabazes de tangerina. Estes valores, sujeitos ainda às despesas com o apanho e o encabazar da laranja, dão como consequência que o produtor algarvio não chega a vender cada laranja por mais de $10 ou $20.
Assim, não podemos compreender como o consumidor de Lisboa não obtém uma laranja por menos de 1$ e até por 2$50, custando uma pequena laranja para sumo mais de $00.
Ouvimos o Sr. Ministro da Economia afirmar ser urgente eliminar a série de intermediários que influem comercialmente no preço dos produtos e cremos estar aí, sem dúvida, o mal do preço inferior da laranja para o produtor e o elevadíssimo preço para o consumidor. Fará a laranja torna-se necessário criar a sua rápida industrialização em sistema corporativo, mas integrado na organização corporativa, não várias, mas uma cooperativa única para o Algarve, para a comercialização e industrialização de toda a laranja e tangerina e até de outras frutas verdes, cooperativa que poderia ter delegações nos vários e maiores centros produtores.
Em Espanha, no formidável desenvolvimento assumido pela agricultura pelas inúmeras barragens, o problema foi encarado na origem. Por exemplo, no grandioso plano
de rega de Badajoz, no qual após 10 anos do seu início só construíram já três barragens e está uma quarta em acabamento, 160 km de canais, 1889 km de regadeiras, 25 povoações, mais 7 em acabamento e 17 pendentes, transformaram-se em regadio 46 697 ha, mas ao mesmo tempo construíram-se 81 fábricas de produtos agrícolas e estão mais 3 em construção. Assim, foi possível empregar no campo e na indústria agrícola mais de 20 000 trabalhadores rurais, quando antes do plano aquela mesma área em sequeiro não empregava mais de 3400 trabalhadores. Vêem-se ali fábricas de beterraba, sumos, tomate, tabaco, algodão e outros produtos da terra, tendo aumentado em 5 932 milhões de pesetas o valor dos produtos obtidos pelo cultivo em regadio das superfícies transformadas.
No Algarve, com as suas bem construídas barragens do Arade e do Odiáxere, que honram os serviços hidráulicos portugueses e que irrigam quase 4 000 ha, não se construiu uma única fábrica e cultivam-se ainda ali os mesmos produtos que se cultivavam com as velhas noras que nos ficaram dos Mouros, apenas tendo-se começado a cultivar mais alguns hectares de arroz, mas que, pela tabela do preço actual e pelos salários exigidos, terão de ser abandonados, dada a insuficiência económica da sua cultura.
Temos aguardado no Algarve o início do plano forrageiro, mas até hoje apenas e somente temos sido auxiliados pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo, que nos vende as sementes de forragens por um preço muito inferior ao do mercado comercial. Pode afirmar-se que, se não fora aquele organismo, continuávamos a olhar para o papel dos comunicados oficiais e pelas descrições nos jornais de alguns esperançosos discursos.
Não podemos compreender a demora em iniciar-se este plano, tanto mais que já foi criada, e está em funcionamento, a Estação de Fomento Pecuário do Algarve, com sede no Odiáxere, sob a hábil e dinâmica acção do intendente da pecuária do distrito de Faro, Eng.º Manuel Elias Trigo Pereira. Já ali existe gado bovino adquirido no estrangeiro, já se fazem cruzamentos com a raça bovina algarvia, e não demorará muito, talvez, a distribuição à lavoura do gado ali obtido, a qual o receberá com esperança de um melhor rendimento, se for aumentado o preço da carne e o seu comércio se livrar dos inúmeros intermediários parasitas, como nos disse desejar fazer o Sr. Ministro da Economia.
Não queremos ser pessimistas, mas tudo se processa por forma que a alfarroba, um valioso fruto da economia regional, veja diminuído o seu valor. A massa da alfarroba começa a ser pouco procurada, e já em 1962 - não tenho ainda elementos de 1963 -, dos 18 744 959 kg de triturado de alfarroba, apenas saíram para o mercado externo 644 981 kg. Tal facto, a pouca procura do triturado de alfarroba, já se notava há anos, e houve alguém com verdadeiro sentido prático do problema, o nosso distinto colega nesta Assembleia Ubach Chaves, que, quando Secretário da Indústria, quis inteligentemente evitar a desvalorização daquele fruto, a que no Algarve costumávamos chamar a nossa cortiça.
Então, foi pelo Dr. Ubach Chaves concedida uma licença para a instalação no Algarve de uma fábrica de álcool de alfarroba, mas quis o destino ou o demo que, contra a expressa vontade do nosso colega e com amargura para toda a lavoura algarvia, fosse anulado o despacho que concedera a autorização. Se tal fatalidade não se tivesse dado, o Algarve tinha há muito tempo evitado perder um seu valioso produto. Além de que - e isto enchia de ânimo os Algarvios - viam instalar na sua província e pertença dos seus filhos uma indústria agrícola, ao contrário do que