15 DE FEVEREIRO DE 1964 3231
do clima e das pragas e, igualmente, lutam com relativa escassez de mão-de-obra.
Deram um exemplo. a todos e serviram, de modelo a alguns. Eu direi que supriram os serviços técnicos oficiais. A mais fácil dedução foi a de que, para o plantio de um olival de tipo basicamente industrial, é necessária uma cobertura económica longe do alcance do maior número dos agricultores.
Guardemos a recordação de que, já no olival -, é precisa uma potencialidade económica que vai até aos oito ou dez anos para começo de rentabilidade. Mas parece que assim será agronòmicamente mais correcto, a florestação não engloba o olival e vamos considerar o que se passa com o eucalipto: o primeiro agricultor citado florestou, com eucaliptos, uma vasta zona de terra típica do Alentejo - terra fria, delgada e cansada - e teve, passados treze anos, um primeiro corte. Das árvores plantadas só 50 por cento chegaram a um relativo desenvolvimento e a' massa arborícola vendável, com extrema dificuldade, não cobriu o rendimento colectável cobrado durante esse período, mas, e reparem V. Ex.ª ao que já chegamos, o proprietário sente-se satisfeito por não ter havido o prejuízo de semear trigo - e foi um dos maiores produtores de trigo de Portugal.
Não tirem os partidários da florestação a conclusão simplista de a florestação se sobrepor h seara. Não!
Considerem o que socialmente se perdeu em jornas não pagas, adubos não comprados, alfaias não consumidas e, sobretudo, em divisas despendidas para cobrir esta falta na produção nacional de trigo. Haver uma receita com prejuízo dos sectores complementares intervenientes não é haver uma receita, é, certamente, um prejuízo de carácter social. Das graves consequências deste facto falarei quando me referir ao êxodo da população rural alentejana.
O outro agricultor atrás referido levou a sua florestação a mais vastos limites. Na subericultura aplicou o plantio e transplantação. Neste último capítulo conseguiu, pelo seu saber e dos técnicos seus colaboradores, êxitos absolutamente espectaculares. A F. A. O. acompanhou estes trabalhos, estudou-os, e tirou deles conclusões de retumbância internacional. Creio também que os serviços estatais terão aproveitado de tão vasta experiência, na justa medida em que ela pode, e deve, servir a economia da Nação.
No plantio de choupos, a mais recente novidade arborícola nacional, também o mesmo senhor levou a cabo experiências notáveis. Afectou terras de regadio, antigas terras de arroz abandonadas por fraco rendimento económico, ao plantio da referida espécie com notáveis resultados, para já, no crescimento. Mas, e isto importa à generalidade dos agricultores, quando começa o rendimento dessas explorações?
Qual a protecção tributária que têm?
A resposta, por hoje, é apenas uma: só economias de excepção, como as apresentadas, alicerçadas em réditos florestais seguros, fruto de longos e antecedentes anos de estruturação ancestral, podem suportar uma espera de 10, 20 e 30 anos de rentabilidade da floresta, e, mesmo assim, com o abandono quase sistemático da cultura trigueira. Outros lavradores tentaram seguir estes exemplos, e todos o desejariam, mas a verdade é que uma coisa é o desejo e outra, bem diferente quase sempre, a realidade.
Volta a ser pertinente a pergunta ... como sobreviveremos durante o longo período de reconversão?
Muito se fula também no desenvolvimento da pecuária. Parece-me mais viável essa fórmula de proceder a valorização da nossa economia agrária. O binómio leite-carne é mais rapidamente solucionado, em tempo, em moldes rentáveis.
Forque este problema já mereceu valioso estudo de um nosso ilustre colega - o Eng.º José Mexia -, referirei, sumariamente, que se deve proceder com cuidada atenção e, sobretudo, com carácter de permanente fixidez nos objectivos a atingir. Mudanças de critérios, de meios, sobretudo de directrizes, só podem conduzir a confusão e à maior ruína. Há espécies pecuários já adaptadas aos nossos meios e climas, e essas, com boa razão, devem merecer o melhor estudo, no sentido do seu aproveitamento mais intensivo e rentável.
Não duvido dos benefícios da adaptação de novas raças, mas sempre feitas com base em estudos calmos e serenos. A saúde dos nossos efectivos pecuários deve merecer o melhor cuidado. Já tive, por duas vezes, oportunidade, oportunidade que não desejaria ter tido, de vos falar nessa grave epizootia, provocada pelo vírus L, que quase dizimou os nossos efectivos de gado suíno. O mal não esto. passado, as consequências da doença e do remédio já custaram milhares de contos a economia nacional. Que nisto atentem os responsáveis.
Gabe agora uma palavra ao lugar que a reconversão agrária reserva ao regadio. Sou dos que acreditam nos benefícios que a água pode trazer à rentabilidade da terra, mas por isso mesmo sinto-me confuso no verificar que verbas astronómicas estão sendo investidas na minha província sem que se saiba concretamente as culturas que iremos fazer. Não se conhecem, a par das sementeiras, as providências tomadas para a cobertura industrial das áreas a irrigar. Estas lacunas causam apreensões e não são de molde a deixar encarar a solução do problema com optimismo. Acresce a circunstância, quê já referi nesta Câmara, de o regadio Vir encontrar a lavoura em dificuldades financeiras tais que será muito problemática a sua indispensável acção. Esta, já aqui o disse, é a razão da aparente apatia da lavoura pelo regadio.
O desenvolvimento do regadio, entre muitos outros problemas, traz consigo o de fertilização das terras, que pelo regadio- mais facilmente se empobrecem dos produtos nutritivos para as sementeiras. O recurso aos adubos químicos não é suficiente, porque estes não podem dispensar grandes massas de matérias: orgânicas sobre as quais inclusivamente actuem. Não conheço estudo ou solução para este magno problema e, dado o adiantado das obras de irrigação, não podem as autoridades competentes faltar com essa poderosa achega, da qual podem depender o sucesso ou o insucesso do empreendimento.
E porque falei em fertilizantes, talvez valha a pena trazer ao conhecimento desta Câmara alguma coisa de muito que sobre adubos havia a dizer. E sabido que a agricultura se não pode fazer com resultados rentáveis sem o recurso a essa fonte de energias suplementares a fornecer à terra. Mas procederá a nossa lavoura nesse capítulo dentro das melhores normas?
Terá à sua disposição os adubos químicos de produção nacional que necessita?
A primeira pergunta responde-se que a lavoura mais evoluída, aquela cujos empresários atingiram mais alto nível intelectual, já recorre à análise das terras para escolha do seu adubo e procede assim pela melhor forma. Os menos evoluídos são arrastados a usos de adubos indevidos, por pressões de vendedores ocasionais, por cópia do que faz o vizinho ou o amigo e até por moda.
É certo que a escolha de uma àdubação química pressupõe estudos dos climas, dos solos e das culturas, e isso, como se compreende, não está ao alcance da maioria dos lavradores. Uma boa carta de solos, mas uma verdadeira carta de solos, não uma improvisação, é uma das necessidades indispensáveis. O estabelecimento de postos meteoro-