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3928 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 158

Toda a ilha passou a ser para ele a coisa pior deste mundo e o patriotismo da gente do Fogo, tão ciosa do seu portuguesismo, perdeu todo o significado e calor ... para se transformar num autêntico balde de água fria ...
Pois bem: o que sucedeu ao jornalista tem sucedido milhentas vezes, e o pior é que se está repetindo na Praia, com a agravante de esta ser a capital da província, e ainda por cima não haver ali uma companhia braçal treinada para camuflar uma vergonha nacional.
Isto quer dizer que não podemos estar com panos quentes e que temos de resolver os dois problemas ao mesmo tempo, e que até será uma forma mais económica de proceder, pois as empreitadas, sendo simultâneas, serão menos dispendiosas certamente.
Lembremo-nos de que para se construir um cais são precisos maquinismos apropriados e pessoal adestrado e tudo isso não se consegue do pé para a mão.
... E não nos esqueçamos de que está uma empreiteira nas águas de Cabo Verde.
Lanço estes brados porque não convêm demoras e alerto as instâncias intervenientes porque uma «alma caridosa» se intrometeu no caso, lançando a suspeita de que o cais do Fogo ia ser feito em areias movediças. Apesar de esclarecido o caso, o projecto, já pronto há mais de seis meses, voltou a Cabo Verde para informar, e há-de ainda correr uma nova «via sacra» antes que os técnicos cheguem a uma conclusão, a que em 1922 já haviam chegado os seus velhos antecessores.
Ora, posto isto, segundo informações obtidas, o cais do Fogo está orçamentado em 16 000 contos - já o vi planeado e orçamentado em 14 000 e quanto mais tarde pior será - e o da Praia em cerca de 25 000, ou seja, um total de 41 000 contos.
Eliminadas as verbas previstas para estudos para as adicionar à consignada aos portos, ficamos ainda aquém do necessário, pois apenas conseguimos 28 500 contos. Para 41 000 faltam 12 500.
O caso parece bicudo, mas não é insolúvel. E não é porque no próprio projecto encontramos a contrapartida.
Na verdade, destinam-se nele 26 000 contos para transportes aéreos e aeroportos e incluem-se nestes as obras de ampliação e remodelação do aeroporto do Sal, o que se deve atribuir a mero lapso.
Com efeito, sem querer o benefício de umas ilhas em prejuízo de outras, a verdade é que o aeroporto do Sal nunca constituiu encargo paru a província. Trata-se de um aeroporto internacional, montado e fiscalizado desde sempre pela metrópole.
Porque este recuo, atribuindo a Cabo Verde essa manutenção e consequente desenvolvimento?
Precisamente quando se pretende dar um impulso sério à província, cerceiam-se-lhe os meios, com encargos novos?
A não se tratar de lapso, salvo o devido respeito, parece-me ilógico o absurdo, tanto mais que a exploração do aeroporto nem sequer pertence à província.
Esta, aliás, nunca compreendeu esse concentrar de esforços e de dispêndios no Sal. A ilha, sendo embora um magnífico porta-aviões natural, não é positivamente um cartaz para Cabo Verde. Santiago oferece idênticas condições para um aeroporto internacional, com a vantagem de possuir água, de poder fornecer frescos, carne, de possuir um comércio, ali a menos de dois quilómetros, numa cidade que precisa de se desenvolver, de ter uma pousada razoável, agora as moscas, enfim com um turismo em potencial, mas que se não pode desenvolver, dado o isolamento em que vive a ilha onde está a capital da província.
Sejam, porém, quais foram essas razões, o que temos é de ser coerentes.
E, como isso, os 11 500 contos que nos faltam para os portos da Praia e Vale dos Cavaleiros podem sair da verba dos aeroportos, da qual 18 000 contos se destinavam ao Sal, segundo pude saber.
Ficam os aeroportos com 14 500 contos, dos quais ainda poderá sair a contrapartida de 2000 calculados para as instalações terrestres para o porto Grande de S. Vicente, que são de urgência e de grande necessidade, se é que tais obras não estão já dotadas, como suponho que estarão.
12 500 contos para transportes aéreos e aeroportos não será suficiente, mas é alguma coisa mais do que os 8000 contos que ficariam só da verba de 26 000 retirássemos 18 000 para o Sal.
E não poderemos tocar já na verba indicada se quisermos dar alguma solução às comunicações entre as ilhas, tanto mais indispensáveis quanto é certo que recuámos, nesse aspecto, a uns poucos de anos atrás.
Essas ligações estão reduzidas a pouco mais que zero e este pouco mais deve-se ao Sr. Secretário de Estado da Aeronáutica - a quem sendo as minhas homenagens pela atenção que teve, debruçando-se sobre o problema, para nos garantir o transporte do correio e de pessoas em perigo iminente.
Quanto ao mais, temos dois aviões parados, desde Março, sendo uns de opinião de que são recuperáveis e outros que não.
Entretanto vão-se (calcinando ... e ...
Bem. Como se, encontra na província uma equipa de técnicos, para decidir o que há a fazer, abstenho-me de considerações e de contar a VV. Ex.ªs quanta dificuldade tive de vencer para chegar a Lisboa.
Apenas direi que me senti de tal for-ma manietado e amargurado que em telegrama oficial me considerei verdadeiramente em clausula.
Acrescentarei, para elucidação, que tive de ir a Bissau, perdendo 48 horas numa viagem inútil, fastidiosa e caríssima, para apanhar o avião que me trouxe a Lisboa.
Mas o que lá vai, lá vai, e deixemos isso, na esperança de que os técnicos que foram a Cabo Verde hão-de encontrar a solução - a solução rápida que uma situação que é aflitiva, sem exageros, impõe.
Essa solução só será definitiva em conjugação com a Guiné, o que o plano prevê quando discrimina os investimentos a aplicar naquela província irmã.
É de apoiar a sistema do plano, mas até lá - valha-nos Deus - temos que remediar a situação de qualquer maneira, embora sem excluir - evidentemente - a segurança, indispensável..
Se os aviões são de recuperar, recuperem-se; se são de abandonar, abandonem-se. Em qualquer hipótese, é preciso sair deste vaivém.
E se não há outra solução para já como se impõe - aluguem-se aviões.
Como estamos é que não podemos continuar.
Parar é morrer, Sr. Presidente, e nós não estamos parados - recuámos, o que é muito pior, no que respeita às ligações aéreas entre as ilhas.

O Sr. Vaz Nunes: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Vaz Nunes: - Felicito V. Ex.ª pela oportunidade das suas palavras e pela justificadíssima insistência com que ainda mais uma vez põe nesta Assembleia o problema das ligações aéreas de Cabo Verde. Só lamento que as palavras de V. Ex.ª possam ser reflexo de