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3930 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 158

Sugiro esta solução com muito interesse porque a água para S. Vicente é vital para o desenvolvimento do seu porto e, além do bem-estar da sua população, virá contribuir em larga escala para o desenvolvimento industrial que se pretende levar a efeito em Cabo Verde.
«Faça-se tudo e não se faça água, que nem a cidade nem o porto poderão progredir. A água está na base do desenvolvimento urbano, industrial e comercial de S. Vicente. Esse líquido, que se costuma baptizar de precioso, é-o na realidade numa terra em que chega a vender-se a 25$ o metro cúbico, posto ao domicílio por camiões-tanques de particulares» - diz o presidente da Câmara de S. Vicente ao propor um apelo às empresas da ilha para a instalação de um dessalinizador.
E acrescenta: «Tão precioso que muitas casas não possuem instalações sanitárias por impossibilidade de as fazer funcionar com água tão cara. Tão precioso que só dele depende a- higiene da cidade do Mindelo, sem uma rede de esgotos perfeita & completa, sem retretes e urinóis públicos em quantidade suficiente, e daí a insensibilidade da grande massa à porcaria, ao habito de defecar e despejar imundícies nas traseiras das casas, à profusão das moscas, veículos de infecções gastrintestinais, sobretudo entre as crianças, que todos os anos pagam, inclusive com a própria vida, duro tributo a semelhante estado de coisas».
Como se vê, «Sr. Presidente, o apelo da Câmara de S. Vicente está baseado em factos pouco edificantes e que de modo nenhum ilustram a civilização ou contribuem para o progresso de Cabo Verde.
Ao apelo do ilustre presidente da Câmara de S. Vicente, dirigido às empresas da ilha, junto aqui o meu para o Governo, certo de que não deixaremos de ser ouvidos por aquelas e por este.
A solução sugerida está, de resto, no pensamento do Governo, que não exclui a hipótese do aproveitamento de água doce, a partir de água salgada, quando descreve o planeamento das indústrias extractivas.
Só que a situação de S. Vicente impõe estudos e realização urgentes.
Não fiquemos - como tantas vezes - só em estudo ...
Peço a atenção do Governo para a circunstância - que a Câmara de S. Vicente refere - de a empresa que fornece água à ilha ter os seus dias contados, pois que os dois barcos-cisternas que utiliza para o transporte de água de Santo Antão para S. Vicente estão velhos, e como não conseguirá os 20 000 contos para os substituir, dentro em pouco ficaremos com um porto sem água ...
Não sei bem o que se pretende com a rubricar «Indústrias extractivas».
Pergunta a minha ignorância: que será que se vai extrair daqueles montes vulcânicos de rocha dura desesperadamente a pedir a intervenção actuante e extenuante do homem, mas sem lhe dar esperança de arrancar do seu seio outro rendimento que não seja pedra e cascalho?
Para quê já cartas geológicas e fomento mineiro - 4000 contos ao todo -, sem explorarmos a superfície em termos de nos permitir depois ir ao fundo do saco - se porventura há lá dentro alguma coisa que justifique o esforço? Cales, pozolanas? Será preciso ainda tanto dinheiro para isso?
Como diria um velho experimentado das coisas de Cabo Verde: - Não sei porquê, mas não concordo. Prefiro o que está à vista ...
Aproveitemos esse dinheiro para fins de reprodução mais imediata.
Precisamos de aviões, de concluir os aeroportos, de portos de mar, de desenvolver a agricultura e a pecuária, de combater o analfabetismo, que aumentou, atingindo uma enorme percentagem que se vai diminuindo, mas sem que tenha regressado à redução desejada, etc., etc. Depois disso ... depois disso ... sim, tentemos outras riquezas.
No que se refere à indústria transformadora, apenas uma objecção e duas sugestões.
A Câmara Corporativa põe as suas dúvidas quanto ao descasque da castanha de caju, opinando que só depois de se conhecer que a exploração do cajueiro é econòmicamente viável deverá pensar-se na industrialização respectiva.
Há que esclarecer que a indústria se destinava ao emprego da mão-de-obra, cem importação da castanha em bruto, principalmente de Moçambique, que a mandava para a Índia para esse fim, e da Guiné.
Nós não temos cajueiros em quantidade que justifique uma industrialização.
Em todo o caso, não sou grande apologista do sistema. Não me parece que a coisa dê, e consta-me que no Brasil já se descobriu e se utiliza o processo de descasque por meio de máquinas - o que ainda torna mais inviável o fim a atingir.
Além disso, o capital fixo e circulante, calculado para o efeito em 5000 e 12 000 contos, respectivamente, não anima a tentativa.
Nós somos de um tal azar que não me assombraria que, montada a indústria do descasque à mão, viesse logo a seguir a máquina a resolver o caso, como já consta que resolve.
Apoio, sem hesitação, as dúvidas da Câmara Corporativa e vou mais longe: não vale a pena sequer estudar o assunto.
De contrário, lá vai mais uma missão de estudos a Cabo Verde e será mais dinheiro galdido ...
Passo às duas sugestões:
Além da indústria de curtumes e seus derivados, não seria também de pensar na dos enchidos, como na de banhas e conservas de carnes?
Eu explico: Com as crises, o gado sofre uma enorme devastação. Calcule-se, portanto, a vantagem de proceder a matanças oportunas e à sua conservação, de forma a aguardar calmamente venda lucrativa.
Como se diz em relatório elaborado por um dos mais competentes técnicos que têm passado por Cabo Verde, logo que surgissem os primeiros ameaços de comprometedora escassez de alimentos, dar-se-ia começo ao abate, em substituição do actual estado de coisas, o qual a breve trecho do início da seca se verifica, pela fraca capacidade de consumo e abandono do gado à sua sorte.
Em qualquer circunstância, criar-se-ia de forma permanente um factor de progresso e de redobrado interesse pela actividade pecuária, que é uma riqueza a aproveitar.
A segunda sugestão refere-se à aguardente.
Desde que me conheço - e já lá vão alguns anos - que se combate por todas as formas a cultura da cana em Cabo Verde, para evitar o fabrico da aguardente.
Tomam-se medidas drásticas, publicam-se portarias, lançam-se impostos, reforça-se a fiscalização, aplicam-se multas, mas a aguardente continua a fabricar-se, e clandestinamente, com prejuízo para o Estado, calculando-se que 70 a 80 por cento do total nada paga.
Pretendem os governos, com as medidas que vêm sendo adoptadas, combater o alcoolismo.