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3 DE DEZEMBRO DE 1964 3957

Fonseca descreve numa das suas publicações o que se vem fazendo em muitos territórios do Mundo sobre estas duas formas de energia, e em 1956 apresentou no Congresso de Africanistas Ocidentais, em S. Tomé, numa tese, os seguintes números:

Com base nos dados do anemógrafo do Mindelo enunciou que uma rede de 100 aeromotores podia produzir vários milhões de kilowatts-hora.

Quanto à energia solar, durante o ano de 1955 os dados actinográficos do Mindelo revelaram que sobre cada quilómetro quadrado incidia uma energia solar bastante superior à energia debitada durante o mesmo ano por todas as centrais hidroeléctricas da metrópole.

O V Congresso Nacional de Pesca recomendou, com base numa tese sobre energia do vento no litoral dos territórios portugueses, que se procedesse ao estudo e aproveitamento da energia do vento, particularmente nas regiões como Cabo Verde e litoral do Sul de Angola, onde escasseiam fontes clássicas de energia.

O governador de Cabo Verde interessou-se pelo problema e já se deram alguns primeiros passos no sentido do aproveitamento destas duas formas de energia.

Calculando o preço por que ficaria o kilowatt produzido pelo vento e por meios clássicos, o Eng.º Duarte Ferreira, que se deslocou à província para o estudo da electrificação, chegou às seguintes conclusões na tese apresentada aos colóquios cabo-verdianos:

Utilizada a energia do vento só para a iluminação, o que equivaleria a aproveitar apenas 30 000 kWh dos 80 000 kWh capazes de serem produzidos por um- aparelho de 25 kW de potência, já comercializado na Grã-Bretanha, o preço da energia eólica ficaria por 3 $60, enquanto que o da energia térmica por 3 $90. Isto é, valores próximos, embora o interesse eólico trouxesse vantagens na economia das divisas.

Mas, diz o mesmo técnico:

Se for possível aproveitar toda a energia produzida pelo aeromotor referido, quer dizer, se fossem utilizados os 80 000 kWh que o aparelho pode produzir, então o preço passaria para 1 $40.

Parece-me que estes números indicam e justificam o caminho a seguir, pelo que suponho ser indiscutível que, dos 23 000 contos com que o Plano Intercalar dota o empreendimento «Energia», desde já se utilize parte dessa dotação numa campanha de prospecção de sítios mais favoráveis à captação da energia do vento em Cabo Verde, trabalho já realizado nas Canárias pelos espanhóis, sempre mais apressados que nós na pesquisa de riquezas, como também aconteceu há poucos dias, segundo informam os periódicos, com os brilhantes resultados obtidos com a dessalinização da água do mar à custa de energia solar.

E urgente reiniciar e intensificar os estudos e trabalhos atinentes ao aproveitamento da energia solar em Cabo Verde com vista à sua aplicação económica, à secagem racional dos produtos agrícolas, secagem higiénica do peixe, destilação da água do mar, dessalobrização das águas dos poços, etc.

Se em Cabo Verde existem condições especiais quanto a estas suas formas de energia, temos de procurar, na melhor medida possível, tirar partido dessas condições.

Só podemos confiar na opinião dos cientistas que se interessam e mexem nestes assuntos, sejam eles nacionais ou estrangeiros (não parecendo que tenhamos de recorrer a estes últimos), e utilizá-los para a tradução prática de ideias ou processos.

A Junta de Investigações do Ultramar terá de desempenhar um papel primordial nestes assuntos.

Terra onde o vento é elemento de constante valia, porque sopra forte quase todo o ano, e em que o Sol, afora os três meses de chuvas, praticamente não deixa de lançar sobre a terra os seus raios luminosos e caloríferos, não é de aceitar que se- não use de todos os meios para que ela aproveite os benefícios que lhe são oferecidos por essas duas fontes de energia.

Se fosse preciso vincar fortemente a importância das energias atrás citadas, bastaria anotar o interesse que muitos países têm dedicado ao problema.

Indicarei apenas alguns desses países:

Espanha. - Comissão Nacional de Energias Especiais.

Israel:

Laboratório de Técnica Solar (Tecnion).

National Fisical Laboratory.

Comissão de Energia do Vento, pertencente à Israel Eesearch. Desde 1954 os trabalhos de prospecção de energia eólica passaram a decorrer em cooperação com o Comité da Energia do Vento da U. N. E. S. C. O.

Inglaterra. - Comissão de Energia Eólica.

França. - Comissão Técnica de Energia do Vento (desde 1948), estendendo a sua acção até à Tunísia, Madagáscar e antiga África Equatorial Francesa.

Rússia. - Instituto Central de Energia do Vento, em Moscovo (1933).

Grécia. - Sociedade Científica de Energia Solar e Eólica, presidida pelo presidente da Comissão Grega de Energia Atómica.

Dacar. - Secção de Energia Solar do Instituto de Física Meteorológica, anexa à Faculdade de Ciências de Dacar.

Repetirei, porque nunca é de mais fazê-lo, que a atenção dispensada pelo nosso Governo à energia, tão importante ramo de riqueza nacional, neste Plano Intercalar mostra bem o seu enorme interesse em propiciar à província de Cabo Verde as possibilidades de desenvolver todas as suas fontes de riqueza. Esse interesse tem falhado em alguns sectores da Administração, mas de modo nenhum se pode considerar essas falhas como significando falência daqueles em cujas mãos se acha entregue a gestão dos negócios públicos.

Insisto por que o Governo promova urgentemente que se proceda aos trabalhos de hidrogeologia do arquipélago, bem como quanto ao aproveitamento das energias eólica e solar.

O importante problema da pesca está agora posto para Cabo Verde como nunca o fora até ao presente. E, pois, altura de deixarmos as lamentações inerentes ao desperdício durante tantos anos de uma riqueza potencial enorme e procurarmos concretizar as aspirações do povo de Cabo Verde neste importante capítulo do seu fomento.

Dos 2500 contos de dotações autorizadas para a pesca no II Plano só foram utilizados, até 1962, 71 contos (66 contos em 1959 è 5 contos em 1960).

Não farei comentários a esta anomalia.

No Plano Intercalar aparecem inscritos 258 000 contos para três anos, o que mostra bem a importância não só local e nacional como- ainda internacional da verba atribuída agora à pesca em Cabo Verde. Digo internacional, pois dos 258 000 contos 258 000 correspondem ao investi-