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3956 DIARIO DAS SESSÕES N.º 159

A Junta de Investigações promoveria á realização efectiva de tais experiências, de acordo com os Institutos Geo-físicos de Lisboa, Porto e Coimbra, que foram justamente criados para auxiliarem a resolver problemas delicados como este.

O primeiro aspecto possibilidade de obter «água» do céu parece suficientemente esclarecido, restando agora aludir ao que se prende com a existência de água nos subsolos do arquipélago.

Em 1958 o Governo contratou os serviços de um perito israelita, o Sr. Mitchel, que percorreu todas as ilhas, tendo elaborado um trabalho intitulado «Hidrologia do Arquipélago de Cabo Verde».

Nas suas conclusões recomendou vários empreendimentos, entre eles a abertura de muitos poços, mas afirmou que seria inútil fazer prospecção geofísica de águas, dada a natureza vulcânica das ilhas. Não se realizaram os empreendimentos por esse especialista recomendados, mas foi constituída uma missão e começou-se a fazer prospecção geofísica! De duas uma: ou se desperdiçaram centenas de contos com o envio a Cabo Verde de um técnico estrangeiro incompetente, ou foi certo esse envio, mas não foi justificável a constituição de uma missão para se realizar tal prospecção geofísica de águas, contra-indicada por Mitchel.

Este facto é mais um a juntar a tantos outros que documentam bem a necessidade de uma drástica mas criteriosa revisão da forma como se têm despendido verbas do Plano de Fomento, como neste caso de pesquisa de águas.

Sendo as ilhas unidades espaciais relativamente pequenas, é fora de dúvida que uma rede de uma ou duas dezenas de «furos» teria múltiplas vantagens, pois forneceria dados importantes sobre a desconhecida estrutura geológica das ilhas em profundidade e indicaria se há ou não lençóis de água com interesse económico.

A orientação de um geólogo seria suficiente e necessária neste empreendimento.

Se em Portugal não houver quem possa de tanto se ocupar, por que não proceder como em Moçambique, onde, quando governava essa província o comandante Gabriel Teixeira, a uma companhia estrangeira foi dado o encargo de proceder ao estudo hidrogeológico da província do Sul do Save, culminado pela publicação de um famoso relatório, digno de ser lido por especialistas na matéria. Nele se afirma a grande importância dos- resultados obtidos. Nesse caso não houve, como muito bem diz a Câmara Corporativa, «um mal entendido orgulho nacional» e foram-se buscar ao estrangeiro técnicos que nos faltavam. Mas talvez que nem isso seja preciso, pois é natural que tenhamos já hoje quem possa resolver o problema.

Não será simples e rápida a solução da maior parte dos problemas apontados no relatório A Agricultura em Cabo Verde, redigido por dois técnicos que foram enviados a essa província justamente para estudar os seus problemas agrícolas.

Nesse relatório afirmam:

Sabe-se, embora muitas vezes se esqueça, que a aquisição de conhecimento e, portanto, a capacidade de modificar, introduzir, dirigir e realizar pressupõe o exercício de uma actividade única: «a investigação científica».

Sem essa investigação, sem trabalho experimental, continuaremos em Cabo Verde dominados por uma rotina agrária primitiva, trescalando o século XVI. Ainda se não houvesse consequências .., mas há-as. Milhares de cabo-verdianos têm pago este pecado de omissão, periodicamente, com o que têm de mais caro: a própria vida; e o Estado, em pura perda, é desfalcado de algumas dezenas de milhares de contos.

Ao terminar a apreciação do segundo sector («Agricultura») do Plano Intercalar, quis deixar transcritas estas palavras da autoria de técnicos que aprofundaram os estudos sobre a agro-pecuária da província, estudos até então (1956) nunca devidamente feitos:.

Trata-se de uma judiciosa prevenção que o Governo vai, decerto, tomar em revida conta.

Terminada esta insuficiente exposição sobre a água e o problema agrícola, insuficiente porque o tempo de que disponho não permite que eu possa expandir-me em mais considerações, iniciarei de seguida um sucinto relato sobre energia, que pela primeia vez vem marcada nos planos de fomento de Cabo Verde .como empreendimento.

O Governo afirma no ,seu relatório, em referência ao aproveitamento de energia, o seguinte:

Não há rios mo arquipélago dignos desse nome, mas simplesmente alguns caudais diminutos e irregulares. Em contrapartida, o arquipélago parece oferecer boas possibilidades de aproveitamento das energias solar e eólica. As instalações de energia eléctrica a província são constituídas na sua totalidade por geradores Diesel, eléctricos.

A potência instalaria em Cabo Verde em 1963 era de 993 kW, assim distribuídos: Praia, 368 kW; Mindelo, 432 kW; restantes (sete localidades), 193 kW.

Num total podem contar-se ainda quatro ilhas sem abastecimento público de energia eléctrica.

Prevê-se que a potência a instalar possa atingir, na vigência do Plano Intercalar, 1553 kW. Se assim acontecer, a potência total será de 2550 kW.

Para abastecimento de pequenas povoações sem meios de produção próprios conta-se ainda com a instalação de redes de distribuição de média tensão na Praia, Mindelo, Vila Maria Pia, Nova Sintra e Sal Rei.

E o Governo quem insiste, quanto a energia eólica e solar, nestes termos (p. 62, n.º 22):

Para aproveitamento da energia eólica e da energia solar, torna-se necessário proceder a estudos com o apoio do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Não posso deixar de realçar a quantia atribuída à energia. São 23 000 contos - muito ou pouco não interessa de momento. O que vale é a iniciativa do Governo, que merece o meu incondicional apoio e aplauso, porquanto a energia é um dos primordiais factores do desenvolvimento de uma região.

Cabo Verde não dispõe, infelizmente, de fontes clássicas de energia, nem florestas, nem rios, nem carvão, nem petróleo.

Preocupado com este outro aspecto da aparente avareza da mãe-natura para com Cabo Verde, o ]á referido Eng. Fonseca vem de há vários anos para cá fazendo uma verdadeira campanha científica a favor do aproveitamento da energia do vento no arquipélago, mostrando também a grande riqueza dessa área em energia solar, campanha vivamente apoiada pela esclarecida opinião de mais alguns engenheiros de renome, como sejam o antigo Ministro do Ultramar Bacelar Bebiano, Teixeira Barbosa e Duarte Ferreira, da Direcção-Geral do Fomento.