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3 DE DEZEMBRO DE 1964 3955

Suponho ter sido o governador João de Figueiredo um dos maiores propulsionadores da cobertura agro-meteorológica das ilhas, mas foi sol de pouca dura o impulso que ele deu a esses serviços.

Não quero deixar de me referir neste momento, e a propósito, a um problema que altamente interessa a Cabo Verde e sempre me entusiasmou: a provocação da chuva, aspiração muito antiga do povo do arquipélago.

As técnicas de ataque às nuvens para provocar aumento de precipitação, pelo que tenho lido, têm sido usadas em França, Estados Unidos, Marrocos, Tunísia, ex-Africa Equatorial Francesa, Uganda, Israel, Austrália, etc.

O nosso país também se interessou, a ponto de, em 1953, a Junta de Investigações do Ultramar ter enviado a França um bolseiro para estudar este problema que abria novos horizontes de esperança para Cabo Verde, terra onde «a chuva equivale a vida e a seca equivale a morte».

O bolseiro enviado foi, por curiosa coincidência, um filho de Cabo Verde, o Eng. Humberto Fonseca, que de há muitos anos a esta parte vem dedicando grande esforço no estudo dos problemas relacionados com as secas de Cabo Verde.

No seu relatório, que foi mandado publicar pela Junta de Investigações do Ultramar em 1954, preconizava, abertamente, a necessidade de se realizarem as experiências

E que eu saiba nisso se ficou. Pelo menos em Cabo Verde, terra nossa que mais precisa dessas experiências, elas não foram feitas. E nunca dei fé de que em qualquer parte do nosso vastíssimo território as experiências tenham sido realizadas.

Outro tanto não sucede em terras estranhas.

No Congresso Mundial de Energia, em Madrid (1960), o chair man do grupo de cientistas da Commonwealth Scientific and Industrial Research apresentou uma tese intitulada «Rain making and Prevention of evaporation as mean of increasing the water resource of Austrália», com as seguintes conclusões:

As quedas de chuva são variáveis e pouco abundantes sobre a maior parte da Austrália, e existem poucas possibilidades de desenvolver a irrigação e os projectos hidroeléctricos. (Parece, meus senhores, que falavam de Cabo Verde). A organização da Commonwealth para as investigações científicas e industriais (C. S. I. E. O.) conduziu, em consequência, um programa intensivo de investigação sobre a precipitação artificial.

Experiências de fecundação de nuvens foram efectuadas ao mesmo tempo sobre nuvens isoladas e sobre vastas extensões nebulosas. Numa das séries de experiências conduzidas durante quatro anos e tende por objectivo a fecundação de uma região de captação de água situada nas montanhas, ganhos notórios de quantidade de precipitação caída foram registados.

Como a evaporação anual normal é muito elevada sobre a maior parte da Austrália, a C. S. I. E. O. estudou igualmente métodos permitindo reduzir esta evaporação.

Dizem aqueles categorizados cientistas:

Os resultados destas investigações sobre chuva artificial e controle da evaporação sugerem que importantes aumentos nas disponibilidades de água para produção de electricidade e irrigação podem ser conseguidos pelos métodos indicados ...

... Um aumento de precipitação sobre a área de captação, igual ao obtido na área das experiências, durante o programa, corresponderia a um suplemento em água equivalente a 660 milhões de kilowatts-hora por ano. Os resultados obtidos na área de ensaios sugerem que mesmo mais largos aumentos seriam possíveis.

Uma entidade como a Commonwealth Scientific and Industrial Research não iria para um congresso internacional apresentar falsos resultados.

Estou batendo com certo pormenor neste assunto, pois trata-se do problema de mais vital interesse para o povo de Cabo Verde.

No Congo ex-Francês o Prof. Desseins, director do Instituto de Física do Globo, de Clermont-Ferrand, fez nascer uma nuvem em plena época seca, em dia de céu totalmente limpo, tendo obtido um pequeno aguaceiro.

Que resultados se obteriam em Cabo Verde aplicando a mesma técnica, não em dia de céu limpo, mas naqueles muitos dias da época das chuvas em que as nuvens se formam espontaneamente, mas não chegam a precipitar sobre os campos, trágica e irrisòriamente ressequidos, chovendo no mar à vista da população desalentada?

O meteorologista francês E. du Chaxel, que desde 1955 vem efectuando experiências de chuva artificial na ex-Africa Equatorial Francesa, depois de descrever as experiências por ele realizadas nos Camarões com a ajuda dá aviões das forças aéreas locais, diz, em conclusão:

Do conjunto das experiências efectuadas a norte dos Camarões e diversas regiões da África Equatorial Francesa pode destacar-se um certo número de conclusões. A primeira é que a inseminação de cúmulos, com um produto higroscópico ou de água, é susceptível de desencadear precipitações.

Se bem que este assunto seja objecto de controvérsias, ele é inegável, tanto para o experimentador como para as equipas diferentes que trabalham com ele.

Mais adiante ele diz:

Eu penso ter mostrado, pelo que precede, que o desencadeamento artificial das precipitações é possível nestas regiões e que pode apresentar um interesse económico certo.

Estas campanhas visam campos de algodão da Companhia Francesa para o Desenvolvimento das Fibras Têxteis.

No relatório da comissão americana que foi incumbida pelo Congresso Americano, em 1953, de investigar sobre os resultados obtidos nos Estados Unidos pelas técnicas de inseminação artificial de nuvens as conclusões foram de que um aumento de, pelo menos, 10 a 15 por cento na precipitação foi obtido nas áreas onde se efectuaram experiências.

Por outro lado, técnicos da F. A. O. entendem que um aumento de 15 por cento na pluviosidade de uma região pode corresponder a um aumento de 50 por cento na produção!

Pelo exposto, parece-me que, ainda que tardiamente, é chegado o momento de iniciar uma série de realizações, entre as quais a provocação de chuva.

Seria, pois, acertado que ficasse bem assente a imperiosa necessidade da realização de experiências de provocação da chuva em Cabo Verde.
Façam-se experiências e decida-se sobre os resultados obtidos.