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5 DE DEZEMBRO DE 1964 4029

aqui citei em 1951, outros têm referido também, mas contém sempre actual a sua lição:

Não encontrei em parte nenhuma um cultivador, fosse ele muçulmano, budista, cristão ou hindu, que se tivesse recusado a empregar métodos que verificasse pelos seus próprios olhos poderem acrescentar um só alqueire à sua tulha do grão.

Como sempre, a lição do exemplo e o atractivo do proveito verificado são os mais poderosos aliciantes e estimulantes.

Nenhuma nação levou a níveis mais perfeitos a assistência técnica e a extensão dos conhecimentos à massa dos lavradores do que os Estados Unidos da América, como ainda há pouco nos disse o nosso ilustre e autorizado colega Sr. Prof. Vitória Pires, e lá tem ido beber ensinamentos e colher orientação muitos países, como nós também fizemos, embora para deixar em letra morta até agora o diploma legal concebido e apetrechado sobre esses ensinamentos.

Lá se criou o sistema dos agentes locais, amigos, guias, conselheiros assíduos dos lavradores, levando a estes as conclusões da experimentação bem contrastada pelo resultado económico, e retornando às estações de investigação com os problemas novos ou as questões espinhosas que a sua documentação e experiência própria não permitam resolver.

Mas isto requer, além da rede dos técnicos de campo, essencialmente elementos de ligação entre o estudo e a prática, outra rede, a dos estabelecimentos investigadores e de documentação sobre as soluções dos problemas. Não é armadura- que se monte depressa, nem com pouco dinheiro; entre nós temo-la estruturada, e bastante bem, sempre naquele cemitério de boas intenções que é o Diário ao Governo, há quase 30 anos, mas mal realizada até hoje, em particular ao nível da extensão.

Os nossos técnicos agrícolas estão muito burocratizados e urbanizados; os serviços criaram numerosas repartições e dependências, onde vão vivendo em auto-abastecimento de ocupações, digerindo papelada em circuito fechado, cuidadosamente se preservando assim de trabalhos menos agradáveis, como por exemplo o de ir até ao campo ver o que se passe por lá, quando é tão mais fácil avaliá-lo (ainda que com riscos de erro) através das notações estatísticas e das respostas a questionários. Não faço mera retórica e procuro não ser injusto: mas qualquer pode certificar-se das desproporções entre técnicos de campo e técnicos de repartição, e, cá por mim, desconfio muitíssimo de que foi pelo processo de dotar de pessoal mais algumas estações citadinas que se torpedeou eficientemente a execução do Decreto-Lei n.º 41 473, de 23 de Dezembro de 1957, que previa a instalação imediata de 101 delegações dos organismos regionais da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas, e a seguir de mais 68 - em pouco tempo, mal mudou de titular a Secretaria da Agricultura, os técnicos das regiões agrícolas, em vez de espalhados por aquelas delegações,- eram mandados concentrar ... mais ao pé de casa e dos gabinetes.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Com isto não censuro: anoto factos, para os tomar em conta. Muitas das pessoas que se diplomaram em Agronomia, Silvicultura ou Veterinária provieram de meios urbanos e, quando não todos, procuraram nesses cursos, como poderiam tê-lo feito em outros quaisquer - seja em que ramo for do trabalho humano, as vocações fortes são sempre a minoria -, antes modos de vida

do que modos de viver. Acaso os pais que vêem seus filhos sair garbosos das escolas de guerra ambicionam para eles sómente a glória de uma vida de batalhas?...

O brio e gosto profissional criam-se depressa, porém, em indivíduos normais e rectos de intenção, e são inúmeras, nos departamentos oficiais da agricultura como nos outros, as demonstrações de vivo sentido dos deveres funcionais, de desejo de realizar e de servir bem, de dedicação sincera e intensa. Ponto estará na consciência da utilidade do esforço e no enquadramento de um mínimo de compensações materiais, cuja falta não desanime nem vexe, permitindo a liberdade de espírito e o sentimento de participação essenciais à franca devoção ao trabalho.

Isto é para afirmar a crença na possibilidade, relativa facilidade mesmo, de trazer para a acção in situ muitos técnicos agrícolas que se sentem aborrecidos e diminuídos nas cadeiras das secretárias, desde que se lhes proponha ao entusiasmo obra útil, o prémio de lhe verem os resultados, o incitamento de um comando estimulante. E desde também que se lhes compense o acréscimo de desconfortes. O técnico de nível médio ou superior destacado para longe do ambiente onde organizou a sua vida, onde criou contactos e porventura suplementos materiais, onde - ponto importantíssimo! - pode desempenhar-se do dever e conceder-se a satisfação de educar os seus filhos, não irá desembaraçado de relutâncias se lhe disserem que lá há-de ganhar como nas condições materialmente mais favoráveis de antes. O pagamento de subsídios de campo, capazes de cobrirem ao menos o acréscimo de despesas da família deslocada e da educação dos filhos a distância, parece-me condição indispensável da organização humana da extensão agrícola a incluir nos encargos desta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Já lá vai muito ano, mas a Campanha do Trigo demonstrou que, dados um bom tema e um bom chefe, nos serviços agrícolas oficiais nunca faltarão homens para a acção no campo.

Só não sei se para já em todo o número necessário à montagem de rede suficientemente densa de agentes locais de extensão.

Por isto me não desagrada, como processo, digamos também «intercalar», o caminho marcado no Plano, dos centros de gestão e das explorações de demonstração, desde que dotados de modo a não se ficarem em simples amostras.

Os centros de gestão serão o correctivo necessário a uma deficiência formativa que ainda pesa sobre os técnicos agrícolas: a falta de real sentido económico. Este ponto foi, aliás, debatido publicamente, há tempos, entre um ilustre professor da nossa escola superior de Agronomia e um lavrador também esclarecido, e não formei o juízo de que os argumentos do primeiro prevalecessem; contudo, não duvido de que será criticada a minha retomada da questão. Presumo que essa falta se deverá atribuir ao modo de desenvolvimento das ciências do campo, longamente acantonadas em serviços estaduais ou quintas ricas e aí afeitas a ocuparem-se mais da perfeição dos métodos ou brilho dos resultados do que do seu custo, menos relevante quando reportado apenas a produções limitadas. E daqui resulta que honestos conselhos de técnicos reputados têm nos nossos dias provado ser económicamente contraproducentes e acarretado grandes prejuízos aos lavradores que os seguiram. É pois muito de aplaudir o desenvolvimento de estabelecimentos onde, com método e rigor, possam ser analisados os factores da produção agrícola no sentido de procurar as combi-