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4104 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 165

mente ligada ao sector agrícola, dizendo-se que «a capacidade mundial de produção de celulose e papel situa-se actualmente em 88 milhões de toneladas, para um volume de consumo de 90 milhões. E este desequilíbrio, que urge corrigir pelo aumento da produção, tende a acentuar-se pela ascensão vertiginosa da procura, em consequência dos progressos culturais e da maior intensidade dos meios de comunicação».

Merece o problema, tão intimamente ligado à chamada «reconversão agrária», especial atenção e um estudo sério que nos permita avaliar do nosso potencial quanto à necessária matéria-prima, estudo que deve abranger todo o território metropolitano, pois só através dele se poderá bem avaliar do número das unidades a licenciar, bem como da sua conveniente localização.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: -Não servem ao fim em vista estudos parcelares, encomendados com puros fins mercantis e objectivos antecipados, pois trata-se de matéria grave de mais para que se possa transformar em palco de glutões interessados.

O Sr. Reis Faria: --V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz o obséquio.

O Sr. Reis Faria: - Eu só disse que não tem realidade administrativa, mas poderá ter realidade poética ou retórica.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Realidade, substantiva.

O Orador: - O Governo, e muito bem. por despacho do muito ilustre Secretário de Estado da Indústria, a cuja seriedade de processos presto a minha homenagem atribuiu já à região minhota uma unidade de celulose, que, estabeleceu, deveria situar-se no distrito de Braga, pois o contrário seria encostá-la ao mar e desviá-la, consequentemente dos centros abastecedores.

Impunha-se a concessão, dado o crescimento das matas com toda a província - o que está até a modificar a paisagem -e bem andou aquele membro do Governo, a quem também por isso são devidos louvores, estabelecendo que a empresa a constituir deve ser formada, a par, pelos industriais do serração agrupados na cooperativa que requereu a licença e pela lavoura cia região.

A par, «no capital e nas responsabilidade?», diz-se no referido despacho, que louvo novamente, por ter chamado, assim, a lavoura a comparticipar nos lucros da nova unidade fabril, estabelecendo doutrina que deve ser assente para análogas-iniciativas e se não pode deixar minimizar.

Entretanto, o jogo de interesses que em volta do caso se levantou não consentiu que até agora se constituísse a sociedade prevista, o já vamos a caminho do segundo ano. A lavoura, através dos seus organismos representativos, ainda não foi chamada a tomar parte nos trabalhos da constituição da mesma, como seria natural, e fala-se, à boca cheia, em manobras tendentes a sabotar a doutrina e os objectivos que o despacho estabelece.

Entendo, pois que o Governo, pela Secretaria do Estado da Indústria, deve ordenar se constitua uma comissão em que estejam representados os interesses em causa, formada por pessoas desinteressadas e que, assim, ofereçam, sob todos os aspectos, confiança à lavoura e à indústria, de modo a sair-se do ponto morto em que nos encontramos. Não pode - repito -, sob qualquer pretexto, ser iludida a boa fé de quem ditou o despacho e tem louvavelmente em mira beneficiar a lavoura regional, chamando-a a comparticipar de uma obra em que é a primeira interessada, e com ela os industriais de serração, que também têm de acautelar os seus interesses, quanto a mim seriamente postos em jogo pela inoperância até agora verificada.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: -Sr. Presidente: Vou terminar já, pois que, se V. Ex.ª mo consentir, voltarei a esta tribuna ainda durante o debate em curso.

Quero, no entanto, apressar-me a exprimir o meu aplauso, na generalidade, à proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1965.

É que, na verdade, através dela, verificamos -e isso é o essencial- que se mantêm bem firmes os princípios de sempre: o equilíbrio financeiro, a defesa da nossa moeda e a ordem administrativa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sem estes pontos fundamentais, sem a presença dessas linhas mestras da nossa administração, que o Sr. Presidente do Conselho estabeleceu há décadas, quando tomou sobre os seus ombros moços a responsabilidade de arrumar o que parecia não ter arrumo, nada seria possível.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Não seriam possíveis planos de fomento, mais ou menos acertados, nem A defesa da integridade do solo pátrio, que acima de tudo temos de manter, nem tão pouco as críticas de que eu e, como eu, outros Srs. Deputados temos sido portadores dentro desta Casa.

E que, Sr. Presidente, porque o essencial está feito, porque as grandes traves estão lançadas, é que nós nos sentimos autorizados a reclamar a chamada «exploração do sucesso», arrancando desta forma à obra que se realizou todas as possíveis, consequências em benefício da nossa gente. E essas consequências são largas e prometedoras, se todos nisso no» empenharmos com afinco. Bem o merece o bom povo desta nossa nação.

Sr. Presidente: Se V. Ex.ª me permite, termino por contar uma história, história simples mas cheia de conteúdo, como V. Ex.ª verá.

Sou na vida um homem feliz porque tenho podido dar satisfação plena a quase todas as minhas modestas aspirações, e, entre elas, a de ter uma pequena casinha debruçada sobre o mar, na bela orla marítima do meu distrito. Tenho lá, em Esposende, por vizinho, o Américo - o Américo da Sr.ª Olívia, como lhe chamam os banhistas-, homem rude que já correu o Mundo e hoje trabalha a terra que é sua, por suas próprias mãos.

Numa destas noites de Agosto em que o vento leste nos traz uma temperatura irrespirável que não nos deixa dormir, fui de madrugada para- os campos ver nascer o Sol espectáculo de maravilha que à gente da cidade pouco se oferece. O Américo já estava a pé, muito zangado com o vento, que lhe secava os milheirais Começámos a falar e falámos muito. Eu gosto de falar com a gente do povo, que por vezes nos ensina muitas coisas em que nós, sempre apressados, não reparamos. Falando do viver daquela gente boa de Esposende e das dificuldades que a afligem, o Américo disse-me, a certa altura

- depoimento que para mim vale mais do que um milhão de estatísticas pela realidade que lhe encontro -: «Agora, meu Senhor, tudo são riquezas comparadas com