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4830 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 202

com facilidade, grutas, umas mais monumentais, outras de interesse mais reduzido, mas constituindo todas, em geral, motivos de beleza ou de meditismo suficientes para que o viajante não lamente o tempo que perdeu numa pausa da viagem.
O que as grutas podem significar como autêntico valor de expressão turística atestam-no os milhares e milhões de pessoas que anualmente visitam muitas delas e as respectivas receitas em que se traduzem, quer nas entradas pagas, quer e sobretudo no muito maior complemento hoteleiro e mercantil que todos os circuitos digressionistas consentem.

O Sr Rocha Cardoso: - Muito bem!

O Orador: - As grutas de El Drach e de Artá, em Maiorca, nas Baleares, contam com mais de 1 milhão de visitantes anuais. As grutas das Maravilhas, em Aracena, aqui ao pé da poita, na Andaluzia, apesar de desviadas dos grandes circuitos turísticos de Espanha, são mais de 500 000 as pessoas que por ano as visitam, as de Altamira, perto de Santander, embora resumidas no seu interesse às famosas pinturas rupestres de há dezenas de milhares de anos, concentradas nos tectos de uma sala, vêem anualmente cerca de 400 000 visitantes. Na França, as grutas de Orgnac, na região de Sudeste, contam com o volume, por ano, superior a 1 milhão de entradas, as das Donzelas, também na região de Sudeste, são provavelmente as mais visitadas de toda a França, e por isso aquele número deverá ainda ser maior, e as grutas de Betanam, na área de Pau, são complemento turístico de grande valor e quase inevitável aos milhões de peregrinos que Lurdes anualmente atrai, no entanto, o seu grande interesse resume-se - e é quanto basta - ao meditismo de um passeio de barco ao longo de um ribeiro subterrâneo. A gruta de Hanz, na Bélgica, e muitas outras na Alemanha, na Itália, etc.
Na América do Norte, as célebres Carlsbad Caverns, no Novo México, conhecidas como as maiores do Mundo, estão turisticamente valorizadas à americana, até com comboios subterrâneos.
Não se pense, porém, que o valor turístico das grutas é espontâneo, não é espontâneo de forma nenhuma, muito longe disso.
A sua chamada ao interesse do público, a sua evidência como valor turístico, firma-se no dinamismo da objectividade industrial e requer, como tudo quanto se queira desenrolar em valia, o impacte de investimentos básicos. As grutas aparecem na sua jazida própria, mas aquelas que se descobrem, se ficassem só na fase da descoberta, pouco ou nada significariam para o grande cartaz, por acaso será um ou serão dois salões ou poucos mais (de maior ou menor majestosidade, de mais ou menos impressionante beleza arquitectónica) que se patentearam ao encontro casual ou à descoberta, porque a Natureza lhes abriu uma passagem à rua, mas a passagem cerra-se à frente, é necessário abrir galerias, é necessário prospectar, autêntico trabalho mineiro, sempre associadamente decorativo e arquitectónico, e evidenciar novos salões, novos motivos de interesse, quantas vezes as zonas húmidas mais profundas dos lagos e dos cursos de água subterrâneos, preparar os acessos exteriores, assegurar comodidade aos percursos de fundo, iluminar e saber realçar pela iluminação as rendilhadas maravilhas estalactíticas e estalagmíticas. Só desta forma se atingirão os grandes conjuntos cársicos de renome mundial.
Na Espanha, as grutas das Maravilhas representaram cuidadoso e atento planeamento, significaram muitos anos de intensivo trabalho, antes de poderem atingir-se a grandeza e a plenitude feérica que hoje maravilhadamente se contemplam, há cerca de dois anos foram descobertas na área de Valência grutas que estão ainda por enquanto a ser objecto de dispendiosa e pesada actividade de valorização e que se anunciam como vindo a destronar no futuro, as até agora mais célebres de Espanha El Drach e Aracena. Com base no interesse turístico daquelas grutas, já, no entanto, em pua volta está instalada rede hoteleira condigna.
Sr. Presidente. Entre nós, pelo que diz respeito a grutas, alguma coisa se poderá dizer quanto a possibilidades e promessas, quase nada, porém, para não dizer nada, quanto a realidades em valorizações ou aproveitamentos feitos, mas já, no encanto, infelizmente, bastante haveria que deplorar quanto a vandalismos irreparáveis praticados sobre preciosos e insubstituíveis motivos naturais, poderia mesmo afirmar-se que todas as nossas grutas, com entradas naturalmente fáceis, têm a marca vandálica da mutilação nos rendilhados dos seus motivos estalactíticos de beleza mais impressionante.
A Sociedade Portuguesa de Espeleologia bem tem pretendido esforçar-se para alertar atenções, mas o seu dedicado brado sofre o embate do desinteresse e da inércia geral e ainda a falta de uma protecção que lhe não devia ser regateada.
O maciço calcário estremenho constitui no continente o depósito mais intenso de formações cársicas e nele se situa, de longe, o maior número de grutas que entre nós têm sido descobertas, muitas, a maior parte, afiguram-se de reduzido valor, mas em grutas para turismo o exagero atinge-se com não grande número, e as que temos de interesse com certeza bastam para espalhar nos nossos itinerários turísticos aquela pausa de recreio, sempre muito pretendida, da contemplação da beleza inédita e estranha do mundo subterrâneo, desde o momento que, mesmo sem aspirar a renomes mundiais, as saibamos patentear com arte, com decoro e com regalo.
E nem tantos serão necessários como os dez conjuntos cársicos que me dizem poderem determinar-se já, só no maciço estremenho, como merecendo chamada à valorização turística.
Entre todos, só nos cumpre mencionar, como menos desconhecidos no País e de interesse assegurado.
Em primeiro lugar as grutas dos Moinhos Velhos, na freguesia de Mira de Aire, concelho de Porto de Mós, com galenas e salões em vários pisos, enriquecidos de formações estalactíticas e estalagmíticas de indubitável beleza, num impressionante desenvolvimento total de 3 km a 4 km. Muito bem situadas, cerca de 300 m a norte da estrada que atravessa Mira de Aire, clamorosamente requerem que seja criteriosamente planeado o seu aproveitamento e que sejam postas em condições, de arte e de comodidade, que signifiquem para o turismo nacional o relevante valor que incontestavelmente lhe podem certificar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É este o aproveitamento que se afirma n.º 1 do interesse turístico dos nossos valores cársicos e que se impõe à consideração imediata. A Comissão Regional de Turismo de Leiria vem percorrendo há anos, com o maior interesse, o calvário trágico da inércia e da sombria confusão que basicamente pairam sobre o lançamento destas valorizações subterrâneas, e ainda não conseguiu ultrapassar a barreira inicial da definição de posse.