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4858 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 203

lizava pelo rosto queimado pelo sol ardente, certamente por se sentir ligado através desse abraço com os entes queridos e amigos deixados nalgum recanto deste grande mundo lusíada.
Vejo o ilustre visitante sentado entre os alunos de uma escola primária rural tentando apreciar o que sabiam da grandeza de Portugal e a todos dando, em conversa amena, uma lição da nossa história.
Ouço ainda as suas magistrais palavras num improviso proferido no almoço com a oficialidade do quartel de Bula e que não resisto à tentação de aproveitar numa pequena parte para enriquecer esta minha intervenção de hoje e que será certamente a última desta legislatura, e quem sabe se da minha curta mas vivida carreira parlamentar.
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Quando neste momento me levantei para agradecer o brinda de VV. Ex.ªs, tive a sensação de que tinha de vencer o peso do Himalaia. E porquê? Porque não é fácil falar neste lugar. Não é fácil falar neste momento para soldados portugueses, mormente não é fácil falar quem nunca teve a honra de vestir uma farda de soldado. Eu estou aqui como um simples particular. Eu estou aqui como um simples civil. Mas não deixei de vir à Guiné.
À primeira lembrança -pois quero tomar o convite de S. Ex.ª o Governador como uma lembrança de, um dever que eu tinha de cumprir para com a Guiné -, imediatamente eu disse sim sem uma hesitação. VV. Ex.ªs perguntar-me-ão para que é que eu vim, e eu quando parti não sabia ao que vinha. Sabia simplesmente que vinha encontrar na Guiné uma província portuguesa. Eu sabia sómente que vinha encontrar na Guiné soldados de Portugal. E essa dupla circunstância para mim era absolutamente suficiente para que eu não hesitasse um instante em aceitar o honroso convite que o governador desta província me dirigiu. E em boa hora o fiz. Porque desde que desembarquei até este momento não tive sequer um instante, não de me arrepender, mas de não me sentir como sinto agora, patrioticamente, profundamente exaltado. E se entrei aqui um português de um relativo mérito se de uma grande fidelidade ao pensamento nacional, saio daqui com a certeza, depois da lição extraordinária que aqui tenho recebido, saio daqui um melhor português, porque foi no convívio com VV. Ex.ªs que na realidade todos esses meus sentimentos de amor pela Pátria, sacrifício pelo próximo, de amor por Portugal, se fortificaram, se reafirmaram, se purificaram.
Srs. Oficiais: Peço a VV. Ex.ªs que tenham a certeza de que todos os homens responsáveis que estão na metrópole -digo responsáveis e que conhecem efectivamente o que se passa nas províncias ultramarinas- estão inteiramente com VV. Ex.ªs Nem todos podam estar aqui. Porque compromissos, obrigações, obrigam manifestamente a que se conservem, digamos, na proa do navio que neste momento está a ser batido por tantas e tão fortes tempestades. Mas creiam VV. Ex.ªs que posso afirmar-lhes com toda a convicção que todos nós, os de lá, pensamos diariamente nos de cá. E fazemos os nossos ardentes votos para que VV. Ex.ªs cumpram a vossa missão e para que a cumpram com o maior sucesso e com o menor sacrifício próprio.

A repercussão dentro e fora da província desta visita e o seu reflexo no campo político e nas relações humanas entre os portugueses de etnias diferentes espalhados pela nossa Guiné trouxeram-me a certeza de que o exemplo dado pelo Sr. Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian podia. e devia ser seguido por outros homens públicos, políticos e dirigentes responsáveis, e que não tiveram ou não puderam ainda ter oportunidade de visitar o nosso ultramar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nesta conformidade, e com vista a iniciar esta corrente a todos os títulos aconselhável, tenho o prazer de transmitir a V. Ex.ª, Sr. Presidente, um convite do Sr. Governador da Guiné no sentido de uma delegação de Deputados desta Assembleia visitar aquela província no próximo mês de Maio ou quando fosse julgado oportuno.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Apraz-me esclarecer VV. Ex.ªs de que este convite, de que dei conta ao Sr. Ministro do Ultramar, mereceu a concordância de S. Ex.ª e estou certo de que tanto daquele departamento como da Secretaria de Estado da Aeronáutica encontrará todas as facilidades para a concretização da viagem por via aérea.
Esta visita, que proporcionará aos Srs. Deputados um contacto directo com as* realidades sociais e económicas da Guiné e o conhecimento in loco das dificuldades com que luta a província, facilitar-lhes-á mais tarde, no grupo das suas relações ou nesta Câmara, a tarefa de criticarem construtivamente ou ajudarem a resolver alguns dos muitos problemas latentes e de interesse para a província.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Um rápido exame daquilo que mie foi possível realizar durante a presente legislatura mostra-me que ficou muito aquém daquilo que desejava.
Infelizmente nem todos os assuntos tiveram a solução que mereciam ou que a província desejava. Uns foram resolvidos e outros estão seguindo os trâmites legais, embora com uma lentidão confrangedora, e alguns caíram no saco do esquecimento.
Algumas das minhas intervenções não teriam agradado, sei-o bem, pois certas pessoas amigas fizeram-me saber que havia quem pensasse que eu me estava insurgindo contra os Poderes Públicos, esquecendo-se certamente que "entre nós o Deputado é livre de discutir e a votar" e que "é de acção em todas as frentes esta hora de Portugal", hora que considero dificílima e que gostaria que todos os homens responsáveis e todos os bons portugueses disso se compenetrassem.
Resta-me a grata consolação de ver que alguns problemas mereceram a compreensão e o apoio não só das entidades oficiais, como até dos organismos privados. Entre outras, refiro-me a duas campanhas que tive o ensejo de lançar durante a vigência do meu mandato: a concessão de bolsas de estudo aos naturais da Guiné e o recrutamento de pessoal técnico e dirigente para a província.
Uma e outra campanha têm sido frutuosas e não posso deixar de publicamente agradecer aos Srs. Ministros do Ultramar e respectivos Subsecretários e aos directores-gerais daquele Ministério o apoio que me têm dispensado e a algumas organizações privadas com interesses na província a exacta compreensão da campanha e a concessão imediata de algumas bolsas de estudo, o que permitiu que só no corrente ano lectivo o somatório de bolsas concedidas pelo Governo Central e da província e organismos privados ultrapassasse duas dezenas, o que