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4884 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 204

O Orador: - E isto porque deixei embranquecer os cabelos ao serviço da ideia corporativa, quero dizer: se me assista o socialismo, por igual me assusta o espantalho do capitalismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De resto, já a Igreja, e foi aqui invocado o grande Pontífice que foi Pio XI e que definiu o que era socialismo e socialização.

Ora, pelas considerações feitas, com o brilho a que já estamos habituados, pelo Sr. Deputado Gonçalves Rapazote, parece que chegamos à conclusão de que a carne fica para um lado e os ossos para outro.

O Sr. Martins da Cruz: - Muito bem!

O Orador: - Se se admite o seguro de determinada rentabilidade, temos o Capitalismo.

Se lhes damos os ossos que não têm nada que tirar, então já as doutrinas não têm aquele valimento que devem ter e se podem entregar ao tal socialismo, que não é o que está em causa.

E a propósito, e porque falei na Igreja - ela sempre avisada -, ainda há dois dias, por um dos mais vigorosos Deputados, o Sr. Dr. Armando Cândido, foi feita referência nos peixinhos vermelhos que dentro da taça de água benta procuram levar a sua vida. Temos de denunciar essas manobras e só foi pena que o ilustre Deputado não tivesse referido também que a Igreja, mestra incomparável, está sempre atenta e nunca adormecida. Para o ilustrar basta referir o que se passou com determinado sector da Acção Católica Francesa, onde logo o Episcopado veio esvaziar a taça, deixando os peixinhos em seco.

Risos.

Sr. Presidente: Seja de que maneira for, o que se torna necessário - e é por isso que eu não dou o meu voto a esta base - é que se faça uma cobertura a sério de todas as necessidades do mundo rural.

O Sr. Martins da Cruz: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado Gonçalves Rapazote, com a seriedade que o caracteriza, já denunciou a inoperância desta base. Vamos atirar mais uma vez com um cartaz que na 3 denuncia um propósito de efectivar alguma coisa de útil

Todos nós queremos arrancar das mãos desses peixinhos vermelhos o estandarte das legítimas reivindicações humanas que a hora que passa nos impõe a todos. E é por isso que eu, se tenho medo das retaliações dos homens, muito mais medo tenho do juízo de Deus, que é inexorável, decidido e preciso, e que nos há-de atingir a todos. E não podemos esquecer, Srs. Deputados, que Deus encarnou e fez-se homem para derrubar os poderosos e exaltar os humildes. E em nome desses humildes, que eu gostaria de ver protegidos por um serviço amplo e não inoperante, como aquele que se adivinha, que eu ponho o problema à consciência desta Câmara, não estando autorizado a duvidar da rectidão de intenções de cada um de VV. Ex.ªs

Tento dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Sr. Presidente: Eu queria apenas agradecer a amabilidade das palavras do Sr. Deputado António Santos da Cunha no que respeita à minha pessoa e responder muito sumariamente às observações que fez à minha análise da base em discussão.

Há uma coisa que é certa: é que eu defendi os termos da base tal como ela está na proposta do Governo. O Sr. Deputado Santos da Cunha contrariou a base, mas não nos deu - e podia dar-nos - a solução, que efectivamente ele tem no bolso, para resolver mais rapidamente o problema social.

Aquilo que eu quis fazer, sobretudo, foi denunciar a dificuldade de fazer trabalho sério, mas denunciá-lo para não criar miragens perigosas, e chamar a atenção do Governo para a delicadeza da regulamentação desta matéria, em ordem a servir realmente os objectivos que todos nos propomos - a generalização do seguro obrigatório - mas pelos caminhos que julgo melhores.

O Sr. António Santos da Ganha: - Eu quero dizer ao Sr. Deputado Gonçalves Rapazote que não tenho qualquer elixir para resolver os problemas sociais. Mas, como S. Exa., sei que há necessidade de agarrar o homem, sobretudo o homem rural, à terra. E não creio que seja preciso fazer muito mais do que aquilo que porventura se terá feito.

Por aqui se pode ver que estou a ser realista no campo económico, e acima de tudo o que temos de fazer a favor da lavoura são medidas de ordem social que possam proteger o trabalhador. E por isso me insurgi contra teorias que são gratas ao meu coração. Quem está aí que não ame a liberdade, que é um dom de Deus cuja preciosidade temos de estimar? Quem? Mas acima de tudo, e como disse durante a generalidade, o que desejo é que acabe ide uma vez para sempre o espectáculo de se ver estender a mão à caridade pensionistas das companhias de seguros.

A propósito, porque o Sr. Deputado Gonçalves Rapazote se referiu à ligação de indivíduos dos hospitais, das salas, dos serviços médico-sociais, que são uma grande e palpável realidade de que nos podemos orgulhar, quereria dizer que também estou cansado de ver nos tribunais as companhias protelarem os processos, até que muitas vezes terminam por morrer os sinistrados antes que justiça lhes seja feita.

O Sr. Martins da Cruz: - Sr. Presidente: Escutei com toda a atenção a intervenção do Sr. Deputado Gonçalves Rapazote.

Escutei-a com toda a atenção, e a certa altura dobrei-me sobre mim mesmo, analisei-me na minha consciência e perguntei se não estaria desde já condenado ao Inferno e às penas eternas que S. Ex.ª condenou o seguro social e em cujo caminho pôs quantos o defendem. E, feito rápido exame de consciência, rememorando um conceito do Evangelho, cheguei à conclusão alegre e optimista de que, embora defenda o seguro social, não serei eu que estarei por aí na direcção do Inferno, na iminência das penas eternas.

O Sr. Colares Pereira: - Mas talvez passe pelo Purgatório!

O Sr. Martins da Cruz: - Mas o Purgatório é um lugar de esperança e eu sou um homem de esperança.

Na medida em que o seguro social é um seguro que alinha ao lado de todos os desgraçados que têm fome e sede de justiça, de todos que pretendem por este direito fundamental uma vida mais tranquila, é uma forma de protecção social, é um direito que pede quando precisa.

Parece-me que a ele se aplica um preceito em relação à dificuldade de entrar no reino dos céus: é mais difícil