860 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 48
São assim de citar, ainda, como mais evidentes, entre outros, o trabalho moroso, mas profícuo, iniciado por Russos e Americanos após o desastre do Suez, no sentido de ser minado, definitivamente, o flanco sul da Europa, cortando-lhe, além do mais, todas as possibilidades de abastecimento de valiosas matérias-primas e em especial dos carburantes líquidos oriundos do Médio Oriente árabe.
Esta última operação, conjugada com a passagem progressiva para mãos não europeias das riquezas mineiras da África, com particular relevo do cobre da África central, completou o cerco político-económico, pelo sul, à Europa. Besta saber se o tratado de Viena não terá ido até mais longe, fixando também a distribuição dos despojos europeus do Velho Mundo, o que somos levados, sinceramente, a admitir que se tenha verificado.
E assim se foram cumprindo, progressivamente, as cláusulas do referido tratado. Eis senão quando, porém, surgiu, inesperadamente, por imprudência americana e russa, o colaço comunista chinês. E este não se fez esperar, no ditar das suas teorias expansionistas, seguindo à risca a linha de acção estaliniana, começando já a provocar fortes temores, não só nas chancelarias americanas como também no próprio Kremlin. Na realidade, não é para menos, pois, passado pouco tempo, já dispunha a China comunista das primeiras bombas atómicas, de mísseis vários, e já se considera, para breve, a primeira bomba de hidrogénio chinesa. Como se verifica, «não se tratava então de simples fogo de vista, como muitos julgaram de início ser, ? a demonstrar esta afirmação está a multiplicação na fronteira siberiana de inúmeras investidas do «terroristas» chineses, apoiando reivindicações feitas, insistentemente pelo governo de Mão.
Há, porém, males que vêm por bem. Foi este um desses casos. Refiro-me à possibilidade, hoje mais do que evidente, da aproximação da Rússia com o Ocidente europeu, única hipótese de constituição de um forte anteparo contra este novo perigo amarelo. E assim nasceu, de facto, uma terceira força mundial, capaz de exercer verdadeira acção de equilíbrio no mundo contemporâneo e, como tal, susceptível de contribuir para a manutenção da paz mundial.
Mas continuemos a procurar definir as principais características da actual conjuntura política e seus mais importantes fundamentos e sentido das respectivas Unhas de força.
Para que se verificasse em tempo record a transfiguração completa do mapa político do Mundo, e isto de lês a lês, vencendo todas as latitudes e longitudes, o comunismo internacional, seguindo, passo a passo, as regras da estratégia preconizadas por Lenine, levou as pseudodemocracias ocidentais a aceitar a criação de uma instituição mundial -a O. N. U.- onde, dia a dia, se procurasse realçar as contradições dos regimes capitalistas, e isto, especialmente, no campo social. E a forma como foi delineada a sua estruturação, dela fazendo parte, com os mesmos direitos, mas não com os mesmos deveres, povos civilizados ao lado de uma multidão de representantes de conjuntos populacionais que, decerto, não constituem, pela falta de maturação, verdadeiras nações, facultou ao comunismo russo um palco ideal para a sua propaganda política, com a certeza prévia de fartos aplausos para as suas já bem conhecidas arengas subversivas.
certo que o outro parceiro fundador, e que arca com as principais responsabilidades pagantes, algo tem tirado também de proveito próprio da existência desta cara instituição. E vamos mesmo mais longe, e não estaremos, de facto, arrecados da verdade, dizendo que a operação O. N. U. no Congo ex-belga terminou com saldo francamente positive para a finança norte-americana.
Há que não esquecer, na realidade, que o Congo é, pela riqueza mineira, uma fonte destacada de proventos materiais, que num futuro próximo alimentará largamente o erário da grande república norte-americana de valiosa torrente de invisíveis que, anteriormente, se dirigia para a Europa, contribuindo para o equilíbrio da sua balança de pagamentos. Este facto é verificado pelo grande jornalista americano Walter Lippmann quando, em recente artigo publicado no jornal O Século, definia genericamente, o que acabamos de mencionar, objectivamente, em relação ao caso do Congo (Kinshasa). Dizia ele, então:
Ora nos acontecimentos históricos fatais, que têm de acontecer (cá estão os ventos da história, direi eu), figura o de a Grã-Bretanha não poder continuar a ser, indefinidamente, uma potência imperial a leste do Suez. Não constitui mistério para ninguém que a sua substituição (o itálico é meu) terá de ser realizada ordeiramente no prazo máximo de dez anos.
Mas continuemos a falar desta famigerada O. N. U. Sob a sua égide, e por ela estimulado, desenvolveu-se em África um ultra-racismo negro que não só não poupa os brancos, como também não se detém perante as minorias raciais indígenas. Digo, assim, perfeita a transposição para o continente negro da célebre doutrina de Monroe; e não esqueçamos, a este respeito, o desabafo do cônsul americano em Luanda perante os morticínios bárbaros de 61, e que foi apenas este: «Senhores, a África é para os africanos negros.»
E como reina ainda hoje relativa paz ao sul do equador, vá a prestigiosa O. N. U., antes de resolver o caso vietnamita e outros, de se preocupar com as agitações, que nunca se manifestaram preocupadoramente, no Sudoeste Africano, já coberto por decisão de um tribunal internacionalmente respeitado pelo mundo civilizado, na Rodésia e na África do Sul, onde os povos bantos gozam de um nível elevado de civilização. Este também é o caso, do já muito estafado caso, das províncias portuguesas de além-mar, etc., etc.
Como fundamento único de todas estas preocupações onusianas, aparece sempre a necessidade de evitar, dizem, toda a política não integracionista, quando Portugal, por exemplo, há muitos séculos desfraldou esse pendão e a tem praticado desde Timor a Cabo Verde, ao passo que um dos principais animadores dessa política no seio da O. N. U. -os Estados Unidos da América- tem procurado enfrentar esse problema no seu próprio território com uma ineficácia que todo o mundo hoje conhece.
Vozes: -Muito bem!
O Orador: - Quanto ao anti-racismo russo, bastará lembrar como esse país trata os povos dominados no seu extenso território - Lituanos, Lê toes, Estonianos e muitos outros -, bem como o regime severo mantido nas suas Universidades, por forma a evitar os mínimos contactos dos estudantes africanos com a juventude russa!
Todo este desenrolar de atitudes, completando fracções ainda pouco claras do processo evolutivo de uma importante linha de rumo da política norte-americana, me leva a denunciá-la hoje, ainda é um facto, como não poderia deixar de ser, como mera hipótese de estudo. Ela é a seguinte: a da migração, dentro de poucas décadas, dos quase vinte milhões de negros americanos para África, como técnicos e operários qualificados, dando a esses milhões de seres humanos condições de vida muito superiores às que hoje auferem nesse paraíso da indiscriminação