O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

862 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 48

permitiram ressurgir das ruínas semeadas, em larga extensão, por u na guerra cruel e devastadora, jamais parou na sua rápida ascensão económica e na melhoria das condições sociais dos povos, até atingir a situação florescente que hoje ocupa no plano internacional.
Os Estados Unidos tinham conseguido, em virtude desta inteligente política construtiva, afastar da terra dos seus maiores o espectro do comunismo internacional, que o mesmo é dizer a sombra da dura escravatura, sombra que ainda hoje cobre parcela importante do território europeu.
Foi, porém, a extensificação do espaço económico do Velho Mundo, apoiada, em estreita cooperação prévia ou paralela, nos domínios da energia, das matérias-primas, das comunicações e noutros, das nações industriais, como já disse, que facultaram o maior passo dado no seu progresso, - e esse foi. o da transformação de uma economia de subsistência numa economia de mercado-. de largos espaços, eliminando, progressivamente, fronteiras alfandegárias na principal zona industrial da velha Europa. E se no campo agrícola houve, de facto, hesitações iniciais, devido a assimetrias espaciais correlacionadas com a variedade de mesologia, a constituição de um mercado verde europeu já se antevê como uma das realizações que maior contribuição virá a dar à Europa e ao Mundo, visto ser hoje crucial, como disse, o problema alimentar de grande parte da população terrestre, especialmente de vastas áreas da península Indostânica, da China e da América do Sul.
O Mercado Comum e, mais tarde, a Zona Europeia de Comércio Livre foram assim as duas mais frutuosas experiências preliminares da formação do todo económico europeu. Para a constituição deste todo económico falta apenas, agora, dar seguimento às negociações encetadas para a fusão destas duas organizações e assim só ultrapassar os degrau I que faltam para eliminar totalmente as fronteiras que o economista francês Delaisi referia como produto da política das autarquias económicas tão ao sabor do «laisser faire, laisser passer» da economia liberal, que, em bom português, se poderia traduzir por «deixar estar como está para ver como fica».
Política que correspondeu ao triste período dos primórdios do capitalismo industrial, quando a empresa foi fértil instituição na exploração do labor humano. Tristes tempos já volvidos, na realidade, mas que ainda deixaram aqui e acolá, na Europa, como noutras partes do Mundo, algumas perenes testemunhas, não falando, é claro, do vasto território comunista eslavo e chinês, onde o trabalho humano ainda não venceu a barreira que impede a sua dignificação e que só a liberdade de escolher o labor faculta.
Como resultado da neopolítica económica e social europeia, começaram já a observar-se nesta ultima década fortes correntes migratórias dirigidas, a partir dos países de sector de actividades primárias, dominante, para as regiões industriais mais evoluídas. E dentro de cada nação vão-se operando paralelamente (movimentos migratórios intrínsecos na procura de melhores remunerações para o trabalho, e isto não só em referência ao labor físico, como também nos domínios do próprio trabalho intelectual.
Começaram assim a diferenciar-se na Europa pólos de atracção industrial de maior rentabilidade, facultando melhores salários e constituindo fortes centros de atracção para os trabalhadores dotados de maiores possibilidades de labores produtivo; a par destas actividades industriais, outras economicamente menos rentáveis vão tendo dificuldades crescentes no recrutamento de mão-de-obra.
Não podemos, assim, ficar demasiado optimistas com o progresso indiscutível que manifestaram já, por exemplo, as nossas indústrias têxteis, se nos lembrarmos de que estas «actividades estão normalmente incluídas dentro dó sector menos rentável das indústrias, e, consequentemente, ocupando apenas os primeiros degraus do progresso industrial. Porém, é de facto por actividades deste género que terá de iniciar-se o movimento de industrialização em qualquer país agrícola.
Este quadro do movimento migratório europeu, que muito sinteticamente acabei de delinear e que considero difícil de ver alterado, sendo mesmo muito aleatória a política que tenha por objectivo diminuir-lhe o ritmo, vai {provocar fatalmente, é certo, modificações estruturais profundas nas actividades primárias, especialmente naqueles sectores mais dificilmente mecanizáveis ou de diminuta rentabilidade. Este é o caso muito generalizado nos antigos países agrários do litoral mediterrâneo, onde a orografia acentuada, conjugada com as características climáticas, defeituosas, dificulta ao máximo o uso de antídotos para vencer estas dificuldades.
Os aspectos mais salientes da actual conjuntura europeia são assim, em grande parte, consequentes do estádio atingido pela reestruturação económico-social do Velho [Mundo. E assim é que o processo inflatório que se observa hoje já com particular evidência em alguns países industriais, como também, com igual evidência, em países agrícolas, não deve ser considerado à margem das características cíclicas que reveste o próprio processo de crescimento económico. Assim é que na Alemanha, por exemplo, a inflação resulta em grande parte de um desequilíbrio consequente de a curva ascendente dos salários já não poder ser dominada pela do acréscimo da produtividade; assim, as pressões da procura só poderão ser vencidas nos seus maléficos efeitos por uma recessão de crescimento económico. Isto pelo facto de as indústrias estarem já a trabalhar muitas delas numa situação muito próxima de pleno emprego.
Contudo, o máximo potencial de consumo do mercado europeu ainda não está proximamente atingido, o que demanda na gestão do sector industrial prever novo dimensionamento das unidades industriais.
Em Portugal, como se compreende, o processo inflatório, que hoje assume apreciável gravidade, porque atinge já com dureza as classes de menores rendimentos, tem, porém, origem diferente, embora correlacionada também com o processo de crescimento económico da Europa. São aqui o acréscimo das possibilidades de consumo derivadas da elevação significante dos salários agrícola e industrial, as economias dos emigrantes e a larga distribuição de proventos feitos pela indústria turística, entre outras, as causas fundamentais do aumento da tensão na procura. E esta não poderá mesmo ser considerada patológica.
Haverá, contudo, para diminuir o processo inflatório, aqui como em outros países, que adoptar os já correntes paliativos que a terapêutica económico-financeira mundial já, com larga experiência, conhece e aplica com maior ou menor sucesso, sem mesmo se atingir o brutal condicionalismo de deslocamento maciço de trabalhadores para sectores de maior interesse no equilíbrio da balança comercial, como tem procedido a socialíssima Grã-Bretanha.
Da neo-estruturação económica da Europa resultará também, fatalmente, uma modificação profunda do seu mapa agrícola e florestal e até, digamos, alteração significante da constituição da ementa dos seus habitantes.
Assistir-se-á, fora de dúvida, a um acréscimo das áreas ocupadas pelas pastagens naturais, forraginosamente be-