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996 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º55

as crianças - sem excepção - souberem ler e amarem a leitura, e onde em cada casa se encontrar uma biblioteca, não dourada por fora, mas, verdadeiramente de ouro por dentro - para o espírito, para o coração, para a saúde, para a fortuna».
O homem tem na Terra um fim a atingir - resultante daquele que a própria condição de homem lhe impõe, e do que ressalta dos condicionalismos geográficos e históricos em que vive.
Seria desperdiçar tempo a falar do quanto impõe a simples condição de homem, convirá, pelo contrário lembrar que dos segundos, os que ora nos interessam, são os que a nós dizem respeito - a nós, Portugueses, herdeiros de uma história de bravura e de honra, a nós, povo multirracial e pluricontinental, que deu novos mundos ao mundo, e pelos quatro cantos do Globo espalhou a luz da verdade e do amor.
Eu não sei, Srs Deputados porque aquela expressão a colhi algures, mas era com certeza em função do fim que nos temos a atingir quo Castilho definia a pureza do ouro - ouro para o espírito, ouro para o cotação, ouro para a saúde, ouro para a fortuna.
Ouro para o espírito - desenvolvendo a imaginação da criança, satisfazendo a curiosidade, sem limites, de adulto,
Ouro para o coração - fazendo nascer nesse mesmo coração o sentimento que a todos sobreleva e engloba o amor, amor para consigo mesmo, amor para com o próximo, amor, afinal, para com os setes e para com as coisas,
Ouro para a saúde - proporcionando conhecimentos que muita gente julga ter, e não tem, sobre a própria saúde a alimentação, o vestuário, etc,
Ouro para a fortuna - levando, afinal, a ser-se feliz individualmente, familiarmente, socialmente
A nossa gente ouve, mas ouve pouco, este «mestre mudo», no dizer de Viena, como se conclui fàcilmente se consultarmos as estatísticas a que podemos recorrer ou se auscultarmos esta ou aquela camada da nossa população.
E, no entanto, já se ensinou, pouco mais ou menos, a ouvi-lo, como se impunha e como queria o nosso distintíssimo colega nesta Câmara, quando Subsecretário de Estado da Educação Nacional Dr. Henrique Veiga de Macedo. O que não temos são ainda as condições - como pretendia o mesmo autor - necessárias a praticar a leitura «com regularidade, com gosto e com proveito».
«O habito da leitura», dizia Emílio Praça em reportagem de A Flame de 9 de Novembro de 1966, «está condicionado por factores sociais e económicos padrões de vida, horários, falta de curiosidade intelectual indolência, existência do outros centros de interesse, carência de condições para tal na casa que se habita (luz suficiente uma divisão própria, algumas comodidades),etc». E a propósito, o mesmo autor formulava a seguinte pergunta «Como pode adquirir o hábito um operário em Trás-os-Montes, se monejar do sol a sol?»
Roma e Pavia - e Emílio Praça concorda afinal connosco - não se fizeram, porém num dia. As traves mestras estão lançadas o edifício vai minerando a erguer-se como se poderá ver se igualmente consultarmos as poucas estatísticas de que dispomos.
Não vamos maçar VV. Exas. citando-as aqui diremos apenas, em resumo.
1.º Tem aumentado desde 1952 até 1965 e número de editores e livreiros inscritos no respectivo Grémio eram 361 em 1952 e foram 656 em 1965.
2.º As bibliotecas, que em 1937 eram 62, subiram em 1965 para 234, sendo 89 em 1960 as de mais de 5000, volumes e 105, 200 e 220, respectivamente, em 1961, 1962 e 1963,
3.º Os volumes, existentes de 1 120 000 em 1967 subiram para 8 375 000 em 1965 e os leitores passaram de 448 000 para 2 287 000.
Muitos leitores? Não. Pelo contrário, pelo que urge criar mais possibilidades de leitura, já apresentando o livro na frente do possível leitos, já embaratecendo a seu custo.
Outro dia, em 9 de Dezembro de 1966, e Diário de Lisboa trazia a notícia de que numa cidade da Alemanha se criara um eléctrico-biblioteca a circular como os de passageiro à parte determinadas paragens para requisições e leitura.
Sabemos que o processo, no tocante à nossa capital só formalmente se apresenta como inédito dado que a Câmara tem os seus automóveis-bibliotecas, com a grande vantagem de as leituras serem grátis. Mas, ocorreu-nos uma pergunta não estará aqui, na feição inédita que as coisas se pode dar, uma forma para chamar a atenção do público? Não valerá a pena aplicar, na nossa terra, esta ou outras, que chegando junto do leitor lhe digam: Toma, lê?!
Há anos, numa visão lúcida do problema, o Ministério da Educação Nacional lançou a grande campanha da educação popular. Ensinou-se a lei a milhares e milhares de almas e depois procurou-se dar-lhes que ler. Surgiram desta arte volumes sobre volumes, qual deles com maior interesse a correrem lestos para aqui e para acolá entrando em todo o lado. Rápido se esgotaram, para nunca mais, nem esses nem outros voltarem, pelo preço a aparecer.
Todos os anos num ciclo constantemente renovado, lança o lavrador a semente à terra. Por isso o Outono lhe enche o celeiro de pingues e dourados frutos.
O edifício de que se (...) os alicerces e colocaram as primeiras pedras, no dizer do maior dos (...) de grande campanha, precisa de continuar a erguer-se nos (...). Propicie-se um clima favorável e dê-se a possibilidade de compra (...) que casa não entrará o livro se lhe dissermos. Sê bem-vindo, entra!?

Perguntámos acima como é que podem criar o hábito de leitura um operário que monejasse de sol a sol. Acrescentaremos agora como poderá, efectivamente, criar tal hábito, moneje ou não de sol a sol, se na sua terra não existe um único livro - nem na Casa do Povo se a há nem na escola primária, e bibliotecas públicas municipais ou não, são tantas as terras que não as tem!
Que afortunado, que invejável, o país onde toda a gente lesse livros «de (...)» por dentro, dizia Castilho, e com razão! É que Sr. Presidente e Srs. Presidentes, nem todos os livros são de (...), como VV. Exas. Sabem.
«37 por cento da delinquência juvenil verificada na América provem da influência de más leituras» dizia-se numa das legendas que figuravam na Exposição A Juventude e o Livro levado a efeito pela Editorial Verbo no Secretariado Nacional da Informação e já aqui lembrada pelo ilustre colega Dr. Marques Teixeira em 9 de Fevereiro último, que acrescentava «Tal como um germe que pode matar ou salvar muitas vidas, o livro pode constituir uma ameaça para o espírito em contribuir para a sua valorização».
O livro pode constituir uma «ameaça para o espírito», e para o coração e para a saúde, e para a fortuna, diria o poeta que há momentos lembrámos.
Para o espírito - desde a literatura «em quadradinhos» a contribuir para a «estabilização de uma nova preguiça mental», como dizia Odette de Saint-(...) em entre-