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994 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 55

no mesmo cadinho da acção e do sacrifício. A meia-tinta e a meia dose não nos servem, a nós que somos uma geração saída do sacrifício, que reconhecemos esse sacrifício, mas temos sobre os ombros a responsabilidade do amanhã.
Embora o artigo 34.º do Decreto-Lei n.º 47 311 diga que «a Mocidade Portuguesa promoverá a ocupação dos tempos livres da juventude não escolar », o facto de se encontrar esse artigo perdido no meio de todo o articulado e de se acrescentar que a acção se processará em colaboração com os serviços de outros Ministérios, dá-me a impressão de que o artigo apenas ali está por uma razão de compromisso.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Sempre, ao longo da história, os povos que quiseram impor-se aos outros tiveram em especial cuidado a educação da juventude. Deram-lhe, além de intensa preparação física a mística absorvente do amor à pátria. Sentindo depois atrás de si a força poderosa da mole humana preparada, os responsáveis não resistem à chamada do instinto de luta que há no coração dos homens e metem pelos caminhos da guerra - tristes e devastadores caminhos.
Mas cada povo tem no sangue a sua história. Nunca o nosso poderá ser - a história o confirma - um povo autoritário e agressivo. Será sempre - isso sim - um povo de convívio fácil, capaz de arrancadas heróicas, para regressar depois, de cravo na lapela lìricamente feliz, D. Afonso IV, colocado entre os ricos despojos da batalha de Salado tirou deles apenas a recordação de ter vencido, João Pinto Ribeiro disse simplesmente aos seus companheiros de 1640 «Vamos ali à Ribeira e é um instante enquanto tiramos um rei e pomos outro».
Quando, há dias, numa das conferências promovidas pela comissão organizadora das Comemorações do 40.º Aniversário da Revolução Nacional, a nossa distinta e estimada colega Ester de Lemos ergueu a sua voz bem feminina para proclamar não fazer sentido que estando o País em guerra - guerra demorada e, por isso mesmo amolecedora de vontades - se não institua como obrigatória a preparação pré-militar da juventude, era a sua viva voz conhecedora do que somos e do que valemos. Voz idêntica se ouviu no Conglobo da L A G precisamos realmente de dinamizar a juventude face ao problema do ultramar português, fazer espertar nela o espírito heróico que em tantas ocasiões nos fez nação temida, sacudi-la e pô-la no caminho das caravelas. Isto se esperava da reforma da Mocidade Portuguesa, e, porque não veio, por isso tantos desconsolados.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: A juventude que nos vive entre os muitos da nossa cidadela ainda nós podemos atender, quer através do binómio Mocidade Portuguesa-Escola quer com associações diversas, como o executismo ou em certa em certa medida, a acção católica. Com a Mocidade Portuguesa também, se aos centros extra-escolares, verdadeiros clubes da juventude, foi dado mais sério impulso. Mas muitas vezes pergunto a mim mesmo - e já em 1961, quando aqui estive, pus o problema a esta Assembleia - o que acontecerá aos milhares de jovens portugueses que têm emigrado com os pais, isto é, se se perdendo os braços válidos dos pais, se não estarão a perder para sempre os filhos. Então apresentei grande soma de elementos, sobre os quais pude concluir assim.

cerca de meio milhão de portugueses (agora, decerto bastantes mais) trabalham fora do território nacional, em esmagadora maioria de reduzida cultura e desempenhando, por isso, profissões humildes e junto dos quais é quase nula a acção do Estado quanto à defesa da sua lusitanidade. Alguma obra feita, algumas escolas abertas, são de iniciativa particular. Importa, pois, já porque não somos uma nação rica em população para que a possamos assim desperdiçar, já porque é de todo o interesse, inclusive pela sua potencialidade política, manter ligados à Mãe-Pátria esses núcleos do portugueses cujos filhos não sabem já português e se envergonham nalguns lados da sua ascendência, como acontece na Califórnia, importa - dizia - iniciar uma larga acção difusora da nossa cultura, em língua estrangeira onde não puder já chegar o português, por meio de professores, conferencistas, missões, cinema, teatro, televisão, enfim, de todas as formas possíveis.

Vozes: - Muito bem!

Por outro lado, é preciso intensificar no estrangeiro a propaganda da nossa obra cultural, o que já se faz em alguma Universidades onde funcionam leitorados, mas em número ainda insuficiente e dispondo de meios reduzidos. Mas para isso - e volto a insistir na minha ideia de coordenação - é necessário um Instituto de Cultura Portuguesa (só temos um para a alta cultura!), do qual compita toda a actividade relacionada com a consolidação e expansão da nossa cultura agora entregue e tantas mãos e, por isso mesmo, tão rarefeita.

Esto problema da educação da juventude abarca os aspectos mais diversos e exige
por isso que não um só, mas vários organismos sobre ele se debrucem com o atento cuidado de quem maneja coisas delicadas. Já porque a matéria a tratar é viva e capaz de reacções inesperadas, não podemos sujeitar a juventude de um lado, a tal tratamento, para, de outro, lhe aplicarem tratamento diferente.
Isto quer dizer que os vários que tenham de tratar com a juventude necessitam de uma definida linha de acção e de uma permanente assistência, o que só é possível conseguir sobre texto fundamental.
Anuncia-se para breve o aparecimento do Estado da Educação Nacional. Sem ele tudo quanto só faça é aumento do desorientação. Ele é, pois, a peça primeira de toda uma máquina enorme que tem de ser revista em pleno trabalho, não apenas porque não é possível fazê-la parar em qualquer momento, mas também porque só em movimento se conseguirá detectar-lhe os defeitos. Estou certo de que esse estatuto só terá ganho com a demora de publicação embora se tenha por urgente, pois poderá beneficiar do que se disse há dias no Congresso de L A G e se está a dizer nesta Câmara, atenta às implicações, repercussões políticas dos problemas,
Sobre o aviso prévio que o Sr. Deputado Braancamp Sobral aqui apresentou e ao qual dou o meu inteiro aplaudo, orgulhando-me de ter como par nesta Assembleia um homem quo tão aberta e afoitamente soube pôr o problema numero um desta ou de qualquer nação - o problema da educação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Várias vezes, ao longo deste trabalho, tive a tentação de abrir o volume das Notas Contemporâneas de Eça de Queirós. Ao findá-lo, é com Eça de Queirós que quero fazê-lo, e ele bem merece a citação neste