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998 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 55

mau e aquele também não é bom, por onde haveremos de marchar nós?
Nem por um, nem por outro, talvez por um terceira que, com mais consciência das responsabilidades, de parte n parte aprovando vários livros, deixasse ao critério do professor, dos muitos professores, a última palavra a dizer. Havia agora dois joeiramentos o que um deixasse passar talvez o outro o lançasse à rua, por nocivo.
Do exposto, parece poder perguntar-se mas que valem então os livros em uso nas nossas escolas?
É difícil a resposta, porque demasiado genérica a pergunta. Não nos furtaremos porém a ela, muito embora tenhamos, por razões de vária ordem, e por razões até de tempo, de Per breves e muito.
«A escola primai ia tem sabido criar nos alunos», dizia há anos, na qualidade de Subsecretário da Educação, o nosso muito ilustre colega desta Câmara Dr. Henrique Veiga de Macedo, «consciente amor a Portugal e radicado espírito patriótico, mas torna-se necessário», acrescentava, «preparar mais cuidadosamente as crianças a sentirem a grandeza do império». Para isso, lembram no mesmo autor, urgia «melhorar os livros por forma que eles fomentassem uma firme consciência nacionalista».
Em 1955, o mesmo Subsecretário «manifestava estranheza» por a Direcção-Geral do Ensino Primário não ter dado cumprimento a certas instruções, mormente as respeitantes à elaboração, já então tida como urgente, dos livros únicos para a 4.ª classe.
Acentuava que o problema se revestia de aspectos delicados, pois o Ministério, com a alegação de que iria instituir os livros únicos, não tinha aprovado novos livros, e acrescentava - o que, aliás, já estava implícito nas linhas anteriores - que de há muitos anos muitos livros não satisfaziam nem pelo conteúdo e orientação, nem pelo aspecto gráfico.
Onze anos volvidos, parece estarmos na mesma por muitas e muitas escolas andam aqueles mesmos livros que há onze, que há vinte ou mais anos andavam.
Uns, pecando por não terem nem conteúdo, nem orientação, nem aspecto gráfico, nem papel Tudo junto no mesmo livro 1, ou falhando tudo nele!
Leite Pinto condenava, como vimos, aquele trecho do mendigo ocioso Pois num outro livro em que estamos pensando aquele mesmo trecho aparece, naturalmente sob diferentes roupagens, nada menos que umas três ou quatro vezes!
Outros pecando por menor número de deficiências neste livro de lei um são pouco acessíveis pata & mentalidade da maioria das crianças a que se destinam muitos dos trechos que contém, naquele está em cau»a o próprio vocabulário, de cujo emprego o autor tem pouca culpa enquanto não dispusermos de um vocabulário de base aqueloutro que bom seria o aluno do 5.º ano do liceu se soubesse quanto ele contém! (Refiro-me a certas gramáticas que ainda andam pelas escolas de professores da velha guarda).
No ensino secundário, talvez as coisas andem melhores Mas não muito, porque, se realmente há livros bons, também não faltam os maus, mesmo com serros graves» de doutrina, como em 22 de Dezembro findo dizia, segundo o Diário de Lisboa de 10 do corrente, o Prof. Carlos Teixeira, da secção de Geologia da Faculdade de Ciências, referindo-se aos livros liceais de Mineralogia e Geologia.
Depois, e a complicar deveras o problema, está a preocupação de tudo querer ensinar, no cumprimento, quase sempre do muito que os programas preceituam. Esquece-se quem os elabora de que, saído da escola, nunca mais o aluno lembrará a regra dos três, ou as datas da história, ou os afluentes de todos os nossos rios, e não sei que pormenores - o que é bem pior! - de outros países todos, mesmo daqueles que não sabem, nem querem saber, onde fica o Porto ou Lisboa. E, para fazer conhecer tudo aquilo que, mais dia menos dia, ninguém saberá, põem-se de lado problemas fundamentais de que se há-de carecer pela vida fora, numa premência constante, tudo quanto possa respeitar à formação do indivíduo. Andam sobre-carregados os programas, andam, consequentemente, sobrecaerregadíssimos os horários.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Considere-se ainda a falta de coordenação que tantas vezes se nota entre as diversas disciplinas Como elemento ilustrativo, apenas este, dado que ]á estamos a abusar da paciência de VV. Exas. no ensino técnico, a secção preparatória para os institutos industriais tem Literatura Portuguesa no 1.º e 2º anos e História - tanto ou quase como o 3.º, 4.º e 5.º anos dos liceus! - apenas no 2.º ano Como será possível estudar Literatura Portuguesa sem a fazer acompanhar do respectivo estudo da História?
A tudo isto, e a muitos outros pormenores que o tempo não nos permite apontar, junte-se a impossibilidade, acima focada, do uma criteriosa escolha, e teremos, a traços muito largos, o panorama dos livros, únicos e não inícios do ensino secundário.
O ensino superior é um caso muito sui generis neste capítulo de livros, porquanto nenhum dos problemas acima focados aqui tem cabimento. Não pode haver livros únicos nem tão-pouco livros superiormente aprovados. Todos os livros servem e nenhum satisfaz só por si.
Continuam em causa os conhecimentos, sem dúvida mas acima deles está agora o espírito crítico e de descoberta, que urge desenvolver no mais alto grau. Tal não impede, porém, que haja um livro que se possa, brevemente, consultar-coisa que nem sempre acontece agora, são uns simples apontamentos, que se vão deturpando de mão em mão, logo, é um livro, exemplar único, que se encontra na biblioteca e nas livrarias, que não há à venda, paia 20, ou 30, ou 40, ou mais alunos consultarem.
E surgem então as sebentas caras e geralmente más, mas que mesmo assim vão servir nas vésperas dos exames, claro - num convite ao laisser passer, à falta, naturalmente, de preparação forte e séria, como dentro em pouco se verá, ao ter de preparai uma tese para licenciatura.
Estamos chegados ao fim. Pelo caminho, que desde logo dissemos longo e difícil, deixámos levantado apenas um que outro marco de maior importância. Muitos mais haveria a assinalar. Para tal falta-nos, porém, a necessária preparação e, depois, o tempo que uma análise cuidada do assunto necessariamente pequena. Assim relembramos, apenas, que o livio desempenha um papel da maior relevância no processo educativo a que o aviso prévio em discussão respeita Simplesmente o livro pode ser bom ou mau. Neste último caso o seu papel é negativo - ele corrompe, ele aniquila, ele mata. Todos os esforços com vista a fazê-lo desaparecei serão poucos. No primeiro, porém, instrui, diverte. Ele é o melhor dos amigos e o mais fiel, o mais discreto o mais fraterno dos companheiros, fala-nos sem hipocrisia, conforta-nos na tristeza, preenche-nos de encanto a solidão e dá asas novas, à nossa alegria», como tão bem disse Mons Moreira das Neves e o nosso ilustre colega Dr. Marques Teixeira já aqui frisou. Todos os esforços tendentes a fazê-lo entrar em todos os lares, a cair em todas as mãos a fazer vibrai todos os colações, serão deverias poucos