13 DE JANEIRO DE 1967 997
vista concedida ao Diário da Manhã de 8 de Setembro de 1966, passando por aquela que, intencionalmente ou não, nos coloca num mundo de sonho - romances cor-de-rosa e de outras cores -, de que havemos de cair para as realidades do dia-a-dia, até àqueloutra que, subtilmente, vai inoculando nos menos incautos o vírus do mal que ventos do Levante ou do Poente, ou dos outros pontos todos mesmo, até nós trazem.
Paia o coração - fazendo nascer em cada qual, em vez da verdade e do amor, a aversão, o ódio, a inveja, a mentira.
Para a saúde o para, a fortuna, finalmente - incitando ao crime, à agressão, à própria negação da dignidade e dos direitos do homem, etc.
Daqui resulta a necessidade, cada vez mais premente, de evitar que tais germes possam andar de mão em mão a desfazerem nuns minutos o que o professor ganhou um muitos anos, parafraseando Carlos de Sousa no seu programa de hoje. Tudo Isto É Vida, da Emissora Nacional.
Não será lealmente tempo de acabarmos com os bandidos de pistola em punho? E como consegui-lo?
É difícil a tarefa, e para obter resultados cem por cento positivos só um remédio vemos o de tomar alérgico a tais leituras o terreno onde elas podem cau. Falar nestes termos e, porém, e para já, procurar solucionar uma dificuldade com outra ainda maior.
Há pouco mais ou menos uns dez anos, o Governo estabelecia uma Comissão de Literatura e Espectáculos para Menores - Decreto n.º 41 051 -, que, para além de outros encargos, tinha o de orientar as leituras dos jovens. Ela apreciaria todas as publicações, periódicas ou não, nacionais ou estrangeiras, declaradamente destinadas à infância e à adolescência - e sem o seu parecer favorável não poderiam ser postas à venda, como já acentuou o ilustre autor do aviso prévio em debate.
Não se evita assim, inteiramente, o mal, como se compreende, porque o que essencialmente importava era secar a raiz, e essa, lá anda, tentando alcançai a superfície, atenua-se, porem, grandemente, impedindo-o de produziu e dar novos frutos. O caso está todo em cumprir-se o que superiormente se encontra estabelecido E tem-se feito?
De mudo algum porque o livro sai, espalha-se como no Outono a folha ao vento, e depois é que surge a respectiva acção policial. Não seria difícil aduzir exemplos sobre exemplos, tristemente confirmativos do que afirmamos, a espicaçaram a curiosidade do quantos souberam ter sido o livro apreendido.
Aqui há uns meses certo para de família chamava-nos a atenção de certa revista humorística onde se desrespeitava tudo - Deus a Pátria, a Família. Estava à venda, ali há já uns dias. Contou-nos uma cena ou duas, qual delas mais lamentável! Quisemos ver, e comprámos o exemplar que restava. Na semana seguinte soubemos que o livro fora apreendido.
«O livro é um germe que pode matar ou salvar muitas vidas», dizia o mesmo colega há momentos citado, reproduzindo mais uma das legendas da exposição a que aludimos. Pois que se cumpra escrupulosamente o Decreto n.º 41 051, por um lado, e, pelo outro, que os «portugueses conscientes» façam o que dizia o mesmo autor - «que se mantenham em permanente vigília e num alerta constante», porque também agora, todos não seremos de mais para tarefa de tamanha amplitude enquanto o terreno não foi de molde a por si próprio, deixar crescer o trigo e fazer secar o joio.
Os, livros escolares constituem problema à parte se encarados sob determinado ângulo. Nós, porém, preferimos vê-los por outro, trazendo-os para aqui.
O livro escolar é absolutamente necessário - para todas ou quase todas as disciplinas, como guia segui o e ordenado do trabalho do aluno. Necessário em casa e na escola além, como orientador das tarefas a levar a cabo, aqui, evitando e com que vantagem - o ditar apontamentos sobre apontamentos - coisa que finalmente e felizmente, vai sendo posta de lado.
Se, porém, as vantagens de que o seu uso se reveste (...) toda e qualquer discussão, tal não sucede com a escolha, que assume proporções de verdadeira tragédia, quer se efectue mais abaixo ou mais acima, na escola ou no próprio Ministério. Simplesmente, diferem na sua essência os problemas que o caso levanta além é a impossibilidade de conhecimento dos livros todos que para cada disciplina existem ou a vontade de querer ser agradável a um inspector, a um colega, etc, aqui, são os levantados pela própria condição do «livio único», que adiante igualmente compadrio e que, cerceando a concorrência vai reduzir o aperfeiçoamento, provocando a estagnação.
É mau processo o deixar a escolha dos livros ao livre critério de um pretensamente conhecedor e íntegro Conselho escolar, porque nem uma coisa nem outra acontece.
1.º Havendo, como infelizmente há, liceus e escolas só com um ou dois ou três professores efectivos, deparam-se-nos, inúmeras vezes, grupos cujos professores principiantes tantas vezes, não conhecem livro nenhum. É o do ano anterior ou depois o primeiro a ir-lhes parar as mãos ou outro ainda que se adopta.
2.º Outras vezes é o livro do inspector A ou B , em cujo desagrado convém não cau.
3.º Tantas outras é o colega que teima que teima, para que seja o seu o livro acoplado. E há sempre um ou outro que vai na onda.
4.º Outras ainda, e o móbil agora é mais tolerável, é a fama do autor - grande homem da ciência, mas mau pedagogo.
5.º Outras tantas.
O professor X , que conhecemos, tem as suas preferências marcadas. O melhor livro, para ele, é este, e aquele, e aqueloutro. Já ensinou por eles muitas vezes, e muitos rapazes se fizeram homens. Que lhe importa que o livro esteja um pouco fora dos programas?! Que lhe importa que haja um e outro e outro ainda mais ordenado mais sugestivo em suma, melhor?! O professor X quer este e aquele, o não outro.
Os livros únicos têm também os seus inconvenientes a que já aludimos obstam, até cinto ponto, à luta, evitam a concorrência que, se fosse leal, se traduziria num aperfeiçoamento contínuo e, por outro lado, nem sempre, infelizmente, estão isentos de erros.
Seja o caso do apontado pelo Prof. Doutor Leite Pinto, na sua conferência integrada nas Comemorações do 40.º Aniversário da Revolução Nacional, em 5 de Novembro. «Tem-se cultivado em Portugal a piedade pelo mendigo ocioso. Este tem aparecido glorificado e cheio de prestígio folclórico tem atravessado importante durante séculos todas as paisagens portuguesas e todos os ambientes portugueses. Lembro que actualmente existe um trecho com gravura e tudo, a preparar todas as crianças portuguesas paia a aceitação da miséria como fenómeno natural. Onde vem o trecho? Nem mais nem menos do que no livro único da 1.ª classe da escola primária».
Sendo assim, e porque efectivamente assim é, ocorre-nos perguntar e ocorrer-nos-ia responder se estivesse nas nossas mãos o fazê-lo. Que caminho seguir? Se este é