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1084 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 60

(...), cultural e até mesmo espiritual em que se encontram ainda muitas das suas famílias, a educação dos jovens não pode deixar de reflectir este estado de coisas o que leva muitas vezes a um progresso lento e a um redobrado esforço da escola.
A necessidade de se valorizar a família através de uma bem organizada planificação social torna-se premente e urgente. Não bastam as boas vontades, nem tão-pouco os esforços dispersos que aqui e ali se têm realizado, para que muitas famílias do ultramar possam, com a brevidade que desejaríamos, desempenhar na sociedade o seu papel fundamental e colaborar na obra educativa em que todos andamos empenhados.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora:- Há que coordenar todos os esforços num mesmo sentido que planear e desenvolver programas de conjunto bem determinados nos aspectos sociais e
económicos.
O problema torna-se tanto mais grave quanto sabemos que muitas famílias vivem em situações precárias, com salários que não comportam a educação dos filhos, em habitações, desprovidas de todas as condições higiénicas, em comportamentos apertados e escassos para o número de membros da família em que predominam, muitas vezes, crianças e jovens de idades e sexos diferentes em manifesta (...) com adultos e velhos.
O problema da habitação das famílias economicamente débeis do ultramar foi já objecto de inúmeras intervenções nesta Câmara e eu não desejaria repetir o que já disse sobre o assunto acerca de Moçambique particularmente das zonas suburbanas das principais cidades. Apenas quero referir e acentuar que ele esta intimamente ligado ao problema da educação da juventude. Não poderemos solucionar o problema da educação dos jovens sem atendermos ao meio ambiente em que vivem e estudam e onde passam a maior parte do seu tempo fora da escola.

Vozes: -Muito bem!

A Oradora:- Quantas vezes o trabalho persistente e diário desta, ruirá por completo devido às más condições materiais e morais da própria família!
Do bem-estar da família, da satisfação das suas necessidades elementares como a alimentação, o alojamento e o vestuário, dependerá, sem dúvida, uma maior aptidão para que possa assumir as suas naturais responsabilidades na educação dos filhos.
Na educação da juventude ocupa também um lugar primordial a educação da mulher, esposa e mãe, à volta da qual se processa toda a educação familiar. Diremos mesmo que educar um jovem, um rapaz, é educar um indivíduo, educar uma rapariga, futura esposa e mãe, será educar uma família inteira.
Infelizmente e apesar de alguns esforços que se têm feito, estamos ainda muito longe de poder contar com a participação real e efectiva da mulher africana na obra educativa dos filhos. É um problema que merece um cuidado imediato e especial, integrando-o no plano de conjunto a que anteriormente me referi. Fazer-se uma promoção social em pequenos centros improvisados, sujeitos à boa vontade de senhoras que dão o seu esforço e o seu tempo quando podem promover a educação das mulheres sem os suficientes e necessários meios materiais mas com a satisfação de quem dá o pouco que tem, realizar obras caritativas, é de apreciar, mas é de convir também que não é o bastante.
Se quisermos levar a cabo obra séria, segura e eficaz neste campo, teremos de ir muito mais longe, numa verdadeira campanha de educação social bem orientada e planificada.
Eu sei que para tal serão necessários muitos mais meios materiais, mas sei também que a falta destes começa a ser, em alguns sectores da vida da província de Moçambique motivo preocupante que leva, não raras vezes ao afrouxamento de iniciativas, ao amolecimento das vontades quando não ao desânimo. Para este estado de coisas permitiu-me chamar a atenção do Governo num momento difícil, e certo da vida nacional mas em que é preciso mais de que em qualquer outro, fazerem-se sacrifícios e esforços no sentido de se preservarem e aumentarem os recursos da Nação, e um dos recursos mais importantes são, sem dúvida, os recursos humanos.
Se há problemas da vida da província que podem aguardar pacientemente dias mais prósperos da sua economia para poderem ser resolvidos, os que se referem ao bem estar da família, à saúde e à educação e ensino não podem por nenhuma razão, ser protelados.
Sr., por um lado à necessidade de se criar e fomentar riquezas materiais que hão-de levar ao progresso do território, por outro haverá que assegurar a sua distribuição equitativa e a sua aplicação na solução prioritária dos problemas mais prementes, entre os quais a valorização da família e a educação da juventude, fontes da estabilidade e perenidade da Nação.
Sr. Presidente: Algumas vezes me referi nesta Câmara à obra das missões na educação da juventude no ultramar e à necessidade de lhes serem dados meios materiais mais amplos para poderem exercer com eficiência a grandiosa tarefa a que se dedicam.
Pelo que me foi dado saber existe hoje uma estreita colaboração entre o Estado e a Igreja no campo da educação e do ensino do ultramar, sobretudo na formação dos professores de postos escolares de que as escolas do interior tanto carecem. O antigo ensino de adaptação, totalmente entregue às missões, foi substituído por um ensino oficial em que a Igreja e o Estado trabalham conjuntamente para um mesmo fim, instruir e educar, dentro dos sãos princípios da moral e da doutrina cristãs, toda a mesma juventude que se estende às regiões mais afastadas do território.
Haverá que prosseguir-se neste caminho certo, criando mais escolas, aumentando o número de professores habilitados e dando-lhes uma remuneração compensadora para que com a ajuda destes, se faça um ensino mais perfeito e uma educação bem adaptada às mentalidades dessas crianças e jovens.
O livro é neste caso o elemento essencial, através do qual se instrui e se educa.
Será pela leitura que se ministrarão não só os conhecimentos úteis para a vida comum, mas também os preceitos cívicos e morais que regulam a vida do homem na família e na sociedade.
Necessário se torna pois que os trechos sejam bem escolhidos, exemplificativos de linguagem simples e acessível para que as crianças e os jovens possam facilmente entende-los assimilando racionalmente, claras e exactas noções dos seus deveres como cidadãos e como portugueses.
Educar os jovens é extrair deles as suas potencialidades e desenvolvê-las para serviço do bem comum. Mas, e ao mesmo tempo, dar às suas vidas um sentido alto de servir a Deus, a Pátria e a Família. Ainda que a tradição e a vida portuguesa se baseiem na educação cristã, não poderemos, contudo deixar de atender a esses milhares de jovens de raças e religiões diferente que vivem (...)