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1086 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 60

exemplo abastardam a compostura das salas, os desleixos do vestuário roubaram, por sua vez, a dignidade a quem o usa e tantas vezes escandalizam quem os vê, pois não raro se hesita na distinção dos sexos através de uma indumentária excessivamente comum o respeito devido à categoria das pessoas á fragilidade do sexo ou aos cabelos brancos, apanágio da idade diminuiu tanto que começa a não ter significado já para certas camadas juvenis. A hierarquia do espírito, que se localizava no cimo da escala de valores e que era portadora da educação, dos bons modos, de um irrepreensível porte moral e cívico dado pelas famílias modelares, do exemplo (...), colhido no Lar, na festa de família, na convivência social de todos os dias e até na praça pública, foi-se sucedendo infelizmente, a hierarquia do dinheiro! Pois não é o dinheiro que permite satisfazer caprichos, alimentar paixões, matar curiosidades, conhecer, por experiência própria, todos os prazeres defesos (...) de todos os venenos e provar de todos os absintos!
O dinheiro, para muitos, deixou de ser um meio para ser um fim, uma meta a alcançar, um ideal a atingir. Ora o dinheiro, por si, não altera a condição moral das pessoas pois não lhes transforma em virtudes os vícios que, por desgraça tenham contraído, Não obstante, é quem o possui que é invejado e, como tal, imitado também. Por outro lado, como se alia à posse dos bens materiais uma ideia sedutora de felicidade, daí que o paradigma do jovem seja muitas vezes dado não pelo homem de bem, em regra sossegado e até apagado, mas pela opulência do novo-rico que dá nas vistas e constitui pela vida que ostenta, um novo ideal a atingir.
Os mecenas de outrora que protegiam as artes, a literatura e as instituições de beneficência e revelavam, com a sua generosidade, atributos nobres do homem, desapareceram para dar lugar a uma nova espécie de mecenato todo voltado para o grupo desportivo da terra o que, acarreta popularidade e prestígio imediato e permite a aceitação generalizada de modelos de vida quase sempre bem pouco modelares. Assim, chega a parecer que para se conquistar o respeito e a admiração neste mundo é indispensável enriquecer primeiro, mesmo que haja necessidade de pôr de lado escrúpulos, seriedade, enfim a consciência que dantes gritava e era sempre seguro espartilho moral e embaraço generalizado para as práticas ilícitas da ganhuça. Quer dizer, o ideal capaz de nortear as vidas em formação ou desapareceu em certos meios ou se abastardou. Deixou de ser alguma coisa digna do homem e da sua nobre condição de ser complexo que se necessita de pão, não pode dispensar transcendência.
Assim, todo o centro de preocupações acaba por se reduzir à conquista do um bem-estar material que não olha ao passado, em cuja força e valor não acredita, nem cuida do futuro em que se dispensa de pensar até.
Obtido esse conforto material, a satisfação imediata, do capricho que a curiosidade ou o mau exemplo despertou, o jovem pensa ter alcançado tudo na vida. E, na, verdade na medida em que ele nega à vida transcendência, tudo acaba na estreiteza do horizonte que o cerca. Quando falta uma verdadeira razão para justificar a existência todas as razões servem mesmo que não sejam razões, como na verdade não são.
Sem um motivo válido que o determine e empolgue, o jovem canalizará toda a sua actividade em ordem a um presente breve, para uma vida apressada, própria de quem nada necessita de acautelar para fazer face ao futuro mas que se não dispensa de tudo desejar. Desejo incontido este- resto afinal, de uma transcendência que se lhe esconde na alma e que ele traduz como pode e como sabe
em desejos que se localizam no tempo, ele que nasceu para transcender o tempo!
Corre por correr, sem uma causa valiosa que o determine, um objectivo nobre a alcançar. Há apenas uma fuga a um tédio generalizado, que lhe deixa, afinal, a alma vazia e permanentemente doente. Sabe tão-somente que não está bem onde está.
Este agir por agir, mais próprio dos instintos que da razão, chega a ser um atentado contra a inteligência, uma negação da nobre condição do homem para se localizar num simples plano biológico.
S. Presidente: São fundamentais os problemas da educação. Infelizmente nem sempre se tem tido uma consciência deles muito esclarecida, e importa formá-la. Bom é, pois que a Assembleia Nacional se debruce sobre tão importante matéria e para ela chame a atenção do Governo.
Bom é, igualmente que se alerte a Nação, mostrando-lhe a necessidade que há de fazer dos problemas da educação obra do maior número possível, se não puder ser obra de todos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Mas obra sem adiamento porque, com ele, aumentarão as dificuldades do êxito.
Temos todos de travar esta batalha e de chegar ao fim dela triunfantes, pois sem este triunfo nenhuma outra batalha será completamente ganha.
Temos, portanto, de mobilizar todas as forças de que dispusermos para o combate, pois que nem todas serão de mais.
A primeira grande força que tem de entrar na luta pela educação é a família. Nela reside o primeiro e mais importante factor da vitória ou da derrota.
Se a família quiser e puder acudir a chamada, tudo ou quase tudo estará salvo, se, porém, se recusar à indispensável colaboração tudo pode subverter-se.
Se quiser, dizia eu. No entanto, além da vontade que se exige à família e com a qual temos de poder contar, é necessário criar-lhe condições favoráveis de acção. Há que facultar-lhe os meios indispensáveis que lhe permitam cuidar da educação dos filhos. Para tanto, em primeiro lugar torna-se imperioso restituir, tanto quanto seja possível, a mulher ao Lar de que tão afastada anda, com prejuízo dos seus filhos. Na verdade, mercê do condicionalismo da vida moderna a mulher vê-se, com frequência, obrigada a abandonar a casa, para, na oficina, no escritório ou em qualquer emprego, ganhar o pão de cada dia. Isto afastou-a do lar numa grande parte do dia, com todo o cortejo de inconvenientes para a educação daqueles a quem um dia deu a vida e a hão-de continuar na vida.
Isto faz que de novo tenhamos de recordar o quanto é necessário que o marido ganhe o suficiente para que o agregado familiar possa dispensar o trabalho da mulher fora de casa. É no lar que a mulher tem de ser rainha, para que, com o sou desvelo, com o seu cuidado, com o seu carinho possa forjar os caracteres dos homens de amanhã.
Se a mãe descuida a educação dos filhos e entrega a cuidados mercenários o que devia ser obra de amor, dádiva total como havemos de exigir-lhe que eduque e preparar à sua imagem aqueles que Deus lhe confiou, mas que ela tem de confiar, por sua vez aos cuidados alheios?!
Ora, para que a mãe fique no lar a maior parte do dia torna-se necessário que o marido ganhe o bastante para (...)