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21 DE JANEIRO DE 1967

(...) fazer face aos encargos com a alimentação e formação do agregado familiar.
Aqui se (...) o importante problema do salário ou vencimento familiar.
Há já alguns anos que vigora entre nós o chamado abono de família. Temos de convir, porém, que pela modéstia do seu montante agravada pela sua desactualização, não pode satisfazer nem de longe a estruturação do salário familiar. De passagem atrevo-me a pedir a S. Exa. o Ministro das Corporações que (...) quanto antes este anacronismo que já tanto destoa entre as muitas medidas citadas que S. Exa. tem promovido em favor de quem trabalha.
Urge actualizar o abono de família e lembro-me de que bem poderia estar aqui um sadio caminho a trilhar para defesa da economia familiar e, com ela da educação da juventude.
Facultam-se pois à família os meios que a libertem de pesadelos económicos e depois peçamos-lhe, já então com autoridade, que não esqueça o seu contributo à causa da educação nacional.
Depois da família, vem a Igreja.
Num país onde 90 por cento da população é católica a Igreja tem, necessariamente, de desempenhar um papel preponderante na educação da juventude.
Demais e (...) como a Igreja é a única entidade que, por missão indeclinável, confiada pelo Divino Fundador, continua a doutrinar cuidadosamente os seus filhos.
Desde o berço ao túmulo que cuida dos que se lhe entregam.
Depois de ajudar a família, o Estado tem portanto de ajudar a Igreja a cumprir a sua missão educadora quer esta se processe no altar, quer na escola. No Evangelho se lê que Jesus ordenou aos seus apóstolos, quer dizer, à Igreja em formação, que ensinassem- «(...) ensinar».
Por isso mesmo mais que uma vez (algumas bem autorizadas) tem advogado pela palavra e pela escrita a criação de uma Universidade Católica.
Com razão escreve o Prof. Doutor Guilherme Braga da Cruz.

Não basta que haja católicos com curso de Medicina de Engenharia de Direito ou de Ciências é necessário que haja médicos católicos, juristas católicos, letrados e cientistas católicos o que e muito diferente. E isso só se consegue onde haja um ensino católico do Direito, um ensino católico da Medicina, um ensino católico das Letras e das Ciências (...), numa palavra uma Universidade Católico.

A completar a acção da família e da Igreja, aparece a escola. Aí surge como peça fundamental o professor, a quem tanto se pede de quem tanto se espera mas a quem tão pouco se dá.
Ora o professor, para cumprir da melhor forma os deveres inerentes ao seu delicado e importante múnus tem de viver exclusivamente para os seus alunos, seja qual for o grau do ensino em que nos coloquemos.
O homem que está na sua cátedra universitária ou na escola mais sertaneja não cumprir bem a sua missão de ensinar e educar se tiver o espírito dividido por outras preocupações alheias à escola. Nestas preocupações há-de avultar sempre o problema económico. Por isso não pode deixar de remunerar-se condignamente o trabalho do professor.
Muitos outros factores há, de importância díspar, que podem prejudicar ou favorecer a educação da juventude. A eles se referiu o ilustre autor do aviso prévio em debate.
Sem querer nem poder referir-me a todos, não desejaria pôr fim a estas breves considerações sem me referir de alguns.
Em primeiro lugar hei-de apontar os meios de informação que numa escala maior ou menor, constituem também meios de formação.
A televisão, como é sabido, alia hoje aos muitos recursos técnicos de que dispõe um poder de penetração enorme, chega a toda a parte, tem audiência generalizada em todos os meios e constitui pela sedução e poder de convicção de que desfruta a imagem, uma arma que pode ser de vida ou de morte, consoante o uso que dela se fizer. Daqui a responsabilidade daqueles que a dirigem e o cuidado que se lhes pede na orientação dos programas a transmitir.
Embora em menor escala podemos dizer que os programas da rádio contêm em si virtualidades e perigos semelhantes.
E que dizer da palavra escala!
Mas goza do prestígio que continua a merecer a toda a gente a letra redonda e por isso mesmo é veiculo contratado para espalhar o bem ou para sacanear o mal.
Seja-me permitido, a este respeito deixar aqui um brevíssimo apontamento com que pretendo encarar as minhas considerações.
Anda para aí a correr mundo uma literatura infantil pouco menos que tola.
Ela enche e toma de assalto a imaginação das camadas mais jovens com um sem- número de publicações em que abundam quadradinhos e mais quadradinhos onde nada de construtivo se encontra historietas inverosímeis, heróis mais que fantasiosos, textos sem cuidado e sem sentido, bonecos e mais bonecos (...) eis o alimento espiritual de milhares e milhares de jovens, cuja receptividade admirável bem podia ser aproveitada para lhes encher a alma de autênticos valores que os entusiasmaram primeiro e lhes criariam a devoção necessária para os imitar e procurar seguir no futuro.
Não quero sequer referir-me aqui a pornografia clandestina que, às escondidas dos olhos da polícia, corre mundo e passa de mão em mão. Essa está abaixo de qualquer comentário que pudesse fazer-lhe do alto desta tribuna. Para essa só sei pedir o rigor da lei.
Sr. Presidente: Vou terminar. Que ao exemplo maravilhoso dado por quantos se batem valorosamente pela integridade da Pátria nas paragens mais inóspitas do nosso querido ultramar e por ela dão dia a dia o seu esforço, as suas lágrimas, os seus desesperos e, às vezes a própria vida saibamos nós corresponder na retaguarda ganhando para todos a batalha da educação.
Essa será a forma de assegurar sentido ao seu esforço continuidade à sua luta se esta tiver de durar, proveito a pátria comum que não desiste e nem pode desistir de ter futuro através dos seus filhos aptos e desejosos de perpetuá-la no tempo e no espaço, isto é aptos a escrever e continuação da nossa história velhinha de oito séculos.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.